13 de Março de 2007
Em algum lugar do passado
Estava eu diante de uma radiola antiga, de caixa arredondada feita de madeira, que funcionava a base de válvulas. Comiga estava um rapaz e uma moça, aparentemente namorados. Estavamos diante da radiola ouvindo música. Então disse ao meus dois acompanhantes.
– No futuro, teremos aparelhos que cabem na palma da mão e que guardam milhares e milhares de músicas, que podem ser ouvidas a qualquer momento.
Então os dois ficaram olhando para mim com cara de espantados.
Como essa viagem foi muito curta não achei interessante, no momento, registrar a data em que ocorreu. Ela só passou a fazer sentido quando, alguns dias depois, ocorreu a segunda viagem, que segue abaixo.
De volta para o futuro
Antes de relatar a experiência em si gostaria falar sobre as conclusões a que cheguei, meditando sobre ela depois de ocorrida. Talvez pareça estranho colocar o carro na frente dos bois dessa forma mas julgo interessante que seja feito assim. E para deixar meu ponto de vista mais claro vou contar uma pequena estória fictícia.
Imagine que você nasceu em uma cidade, em algum país do mundo, e nessa cidade você viveu até os seus 10 ou 15 anos, com amigos de escola, familiares, vizinhos, etc. Imagine que depois dos seus 15 anos você viajou para outra cidade, outro estado e talvez outro país, e nunca mais teve contato com aquele lugar e aquelas pessoas. Imagine ainda que, depois de uns 80 anos, já velho e aposentado, você decide voltar aquela cidade onde você nasceu, para ver como andam as coisas, rever velhos amigos, etc.
Então você viaja até aquela cidade mas, para sua surpresa, dá-se conta de que já não é mais o mesmo lugar. Onde antes havia uma igreja, hoje há um cinema; onde antes havia uma escola, agora há um supermercado; a praça onde você costumava brincar com seus amigos de escolha agora é uma pizzaria; a casa onde você morava agora é um grande prédio residencial; os amigos que você tinha ali já morreram ou foram morar em outro lugar; os vizinhos, idem; seus parentes já não estão mais ali, a não ser os filhos deles, que você nunca conheceu, ou netos, ou bisnetos.
Enfim, a cidade onde você nasceu, já não é mais a sua cidade. O ponto registrado no mapa continua sendo o mesmo mas o lugar, definitivamente, já não é mais o mesmo. Ele não pertence mais a você nem você pertence a ele. De repente, então, você sente uma estranha sensação de não-nostalgia, se é que me faço entender. Sei que esta expressão não traduz de forma adequada aquela sensação mas é a única que me ocorre. Essa foi a sensação, forte, que senti, logo depois de voltar da viajem que relato logo abaixo.
Outro fator a ser considerado é que, mesmo hoje, regiões geográficas diferentes apresentam diferentes padrões de desenvolvimento tecnológico. É impossível, por exemplo, comparar o desenvolvimento das regiões agrestes nordestinas, com suas casas de pau-a-pique, com capitais metropolitanas como São Paulo e Rio de Janeiro, com seus imensos arranha-céus. Num mesmo tempo, portanto, pode-se encontrar diferentes níveis de desenvolvimento tecnológico.
CENA 1:
Estou sobre o que parece ser um telhado feito de grandes telhas de metal, parecidas com aquelas telhas de eternite usadas em galpões industriais. O telhado parece feito de grandes telhas que vão de lado a lado, levemente abauladas para cima, para dar vasão á água para as laterais. Curiosamente, porém, alguma coisa em mim me dizia que aquilo não era telhado, mas uma espécie de plataforma.
Ao meu lado está um sujeito. Estavamos, juntos, conversando alguma coisa e mexendo em umas peças. Ao nosso lado havia uma abertura retangular, recortada no que imaginei serem as telhas de metal. Decemos pela abertura, através de uma escada que nos levaria até o chão. O telhado, ou plataforma, era bastante alto, como um grande galpão industrial. Vejo sob a cobertura umas máquinas enormes que pareciam ser guindastes. Nesse momento é que me dou conta da enormidade do galpão.
Uma vez no chão, preciso ir ao banheiro. Chegando lá, porém, fico surpreso com a sujeira que reina no lugar. Onde deveria haver um vaso sanitário há uma espécie de miquitório de cerâmica, que cheira mal. Vejo uma porta ao lado e abro-a para ver se ali há um vazo sanitário, mas vejo apenas o que parece ser uma latrina a céu aberto, semelhante aquelas usadas em sítios antigamente, com um cheiro ainda pior. Fecho a porta, urino no mictório mesmo, e saio dali o mais rápido possível para me livrar logo daquele cheiro insuportável.
Reunindo-me aos demais, numa sala para café ou algo parecido, vejo vários rapazes conversando amistosamente. Parece que estão em seu intervalo de descanço. Nesse momento me dou conta de que aquele não é o meu lugar comum, digo, o meu lugar no espaço-tempo correto, como este aqui, agora, onde estou escrevendo este texto. Quando percebo isso sinto uma necessidade de coletar informação precisa, pois nesses casos sempre costumo voltar, para o meu lugar comum, aqui e agora, com informações imprecisas ou distorcidas.
– Que ano é? – Pergunto.
– Que ano é? – Respondem as pessoas que estão ali.
– Em que ano nós estamos? – Repeti, pois sentia uma necessidade premente de saber a informação correta, saber onde e quando eu estava.
– Hei, esse é um bom exercício. – Respondeu alguém.
“Exercício?”, pensei, “mas do que é que eles estão falando?”. Olhei a volta da sala para ver se encontrava algum cartaz, algum planfleto, qualquer coisa impressa que pudesse me dar uma informação a respeito da data em que estávamos. Encontrei um calendário, ou pelo menos pensei ser um calendário, pendurado em uma das paredes. Tinha as tabelas normais dos 12 meses do ano e mais uma porção de outras tabelas que não fazia a menor idéia do que eram. Procurei pelo calendário até encontrar um lugar onde estava escrito “Ano”. Aha, pensei, é aqui. E ao olhar para o número que vinha ao lado fiquei confuso. Dizia 13.1xx (treze mil, sento e alguma coisa, não consigo me lembrar dos ultimos dois número, apesar de ter me esforçado para guardar bem o número na cabeça para lembrá-lo depois).
“13.000?”, pensei, “13.000? Não, não pode ser, alguma coisa está errada.” Acontece que, pelo que vi naquele lugar, não podia acreditar que estivéssemos no ano 13.000. Normalmente sempre pensamos no futuro como algo sofisticado, com tudo mais moderno, mas não era isso o que eu via ali.
– Há outro calendário por aqui? – Perguntei.
– Outro calendário? – respoderam. – Para que você quer outro calendário?
Vi que estavam todos me olhando de forma estranha, deviam estar me achando maluco. Entendi então que não podia contar com eles para obter mais informações. Saí dali e fui andando pela estrada, olhando o comércio local, uma mercearia, uma padaría, lojinhas, um comércio típico da década de 80-90, um comércio de bairro. Procurava algum lugar onde pudesse encontrar um calendário ou qualquer coisa que me confirmase aquela data absurda.
CENA 2:
Estou no que parece ser uma cozinha. As peredes brancas, talvez cobertas por azulejos. Estou conversando com uma moça, de cabelos compridos e claros. Não me lembro o que estamos conversando. Logo aparece um garoto, entrando correndo pela porta, diz algo à moça. Esta lhe responde e o garoto sai correndo novamente. Então ela olha pela janela, uma grande janela que opuca toda a parede, ao lado da porta, com cortinas rendadas brancas. Abaixo da janela encontra-se um grande balcão, branco, que também ocupa toda a parede. Ela se debruça sobre o balcão para olhar pela janela e eu a acompanho.
Na rua, bem em frente a casa, vejo uma van, branca, estacionada rente ao meio fio. Logo ao lado dela um outro veículo semelhante a um gol bola, também branco, mas com umas faixas quadriculadas na lateral. Logo os dois veículos se poem em movimento e vão embora. São bastante silenciosos e por isso julguei que fossem movidos a eletricidade. Pareciam um pouco mais modernos do que os veículos atuais, mas não muito. Pelo que pude perceber externamente, as maiores diferenças eram as janelas e parabrisas, que eram um pouco maiores que nos veículos atuais, além de um design algo diferente. Pelos desenhos que vi no carro menor, julguei que fosse um veículo policial ou algo do gênero.
Depois que os veículos foram embora percebi que a moça estava segurando, sobre o balcão, uma espingarda. Aquela arma ficou estranha e deslocada ali, porque era uma espingarda antiga, fina e comprida. Não entendi o porque de ter uma espingarda ali, mas talvez por isso tenha imaginado que o veículo com a faixa quadriculada fosse uma viatura policial.
CENA 3:
Vejo o que parece ser uma nave espacial. É formada por gomos retangulares, ligados uns aos outros em sequencia. Imagine um trem, bem comprido, com vagões ligados em sequencia, grudados uns aos outros. Agora imagine que ligado a esse trem, colado ao lado dele, há outros aglomerados de vagões, e mais outros, e uma infinidade de outros conjuntos compridos de vagões, de forma que todos juntos formam uma estrutura grossa, larga, e muito comprida. Em alguns pontos há estruturas fixadas transversalmente, mas são poucas, a maioria das estruturas são fixadas longitudinalmente, ao comprido da nave.
Vou passando pela nave, observando seus detalhes, ou tentando observar. Chego a uma das estremidades e percebo que de uma das estruturas começam a sair outros estruturas, lateralmente. São como folhas, ou placas, também de metal ou algo parecido, da mesma cor da nave, um marrom escuro. Cada placa, talvez com 5 ou 10 metros de largura, tem desenhos diferentes: circulos, losangos, triangulos, quadrados, etc, todos desenhados em alto relevo. Fiquei impressionado pela quantidade de placas que saem da estrutura e pela distância que alcançam, ficando com quase tres ou quatro vezes a largura da estrutura de onde sairam. Elas eram como aquelas antenas que se usam em rádios portáteis que você vai esticando até ela ficar com um tamanho final muito maior do que o tamanho inicial. Aquelas placas iam saindo de dentro da estrutura da mesma forma. Acredito que esse movimento só era possível devido a gravidade nula do espaço, do contrário seriam inviáveis.

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