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Algumas Observações sobre a Energia da Pirâmide

Posted by luxcuritiba em maio 19, 2009

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Até agora tratamos do aspecto material, quer dizer, das pedras, das formas e do aspecto mental; omitimos porém a alma, o aspecto etérico-astral.

Mas, tal como o homem, também a pirâmide consiste de matéria, alma e mente. Isto é lógico, pois a pirâmide é, em todos os seus aspectos, um reflexo da humanidade e do homem.

Essas três dimensões podem ser encontradas em todas as coisas da natureza ou nas formas perceptíveis do homem.

Tomemos como exemplo o movimento de um braço; ambos os braços sobem da altura dos quadris para a altura dos ombros.

Primeira dimensão: o movimento material, expresso em centímetros e em velocidade.

Segunda dimensão: a energia, os impulsos nervosos e energia das miofibrinas, para contrair o músculo. Essa energia é mensurável, mas não dá para vê-la, apenas suas consequências e o movimento.

Terceira dimensão: o objetivo, o espírito e sentido do movimento, a mensagem, é querer bater ou, talvez, acariciar alguém.

Todos os três aspectos formam um todo, nenhum existe sem os outros. Para mim a terceira dimensão é a mais importante, pois afinal foi ela que motivou o movimento.

O mesmo aplica-se ao homem, também a sua origem é espiritual.

Isso também vale para a pirâmide; o espírito, a mensagem, é o mais importante, as outras dimensões são meios para expressar o espiritual.

O que é o aspecto etérico, ou astral, da pirâmide, senão uma energia?

Pelo que sei, essa estranha forma de energia foi percebida pela primeira fez durante a guerra. Durante um vôo rasante de aviões Messerschmidt sobre as pirâmide, os seus instrumentos ficaram desregulados.

Hoje os aviões regulares não podem mais sobrevoar as pirâmides por motivos culturais e por medo de danos (!). Mas não tenho conhecimento de qualquer tentativa de uma investigação sobre aquele fenômeno. Parece que todos estavam ocupados demais com a guerra.

Foi preciso esperar pelo francês Antoine Bovis. É ele o homem que se deteve com o fenômeno pelo qual dezenas de milhares de pessoas simplesmente passaram.

Ele encontrou na câmara mortuária real ratos, camundongos e outros bichos mortos, mas não apodrecidos. E isso apesar da umidade e escuridão na câmara real, onde a temperatura de aproximadamente 20ºC proporciona uma base ideal para a decomposição. Antoine Bovis, na realidade um radiestesista, começou a meditar sobre isso. Ele sentiu intuitivamente que este fenômeno devia ter alguma ralação com a própria forma da pirâmide. Voltando das férias para casa, ele construiu um modelo exatamente nas proporções da pirâmide de Quéops. Alinhou a pirâmide, num dos lados da sua base, precisamente na direção norte-sul e colocou um gato morto dentro dela na posição de um terço da altura total.

Seu esforço foi premiado. O gato não demonstrou qualquer indício de decomposição, não exalou mau cheiro e manteve-se perfeitamente íntegro como se tivesse sido mumificado. Podemos imaginar o entusiasmo do homem.

Este mesmo entusiasmo pode ser alcançado por qualquer pessoa que fizer uma primeira e bem-sucedida tentativa com a energia das pirâmides.

Motivados pelo entusiasmo de Antoine, muitos outros começaram a experimentar, com o mesmo resultado. Antoine Bovis publicou os seus resultados numa revista para operadores de pêndulos e radiestesistas, e isso deu o impulso que faltava. Karl Derbal, engenheiro radiotécnico, pioneiro no campo do rádio e da televisão, que se especializara em ondas de rádio, recebeu por acaso uma destas publicações, que o levou a iniciar uma pesquisa sobre as características da pirâmide.

Ele desenvolveu uma teoria, segundo a qual deve ocorrer na pirâmide uma concentração de energias cósmicas, e partiu do pressuposto de que isso deveria afetar até o fio de uma gilete.

Tentemos imaginar o seu raciocínio: inicialmente ele pensou – e queria provar – que uma gilete perderia o corte sob a influência desses raios.

Uma teoria precisa ser confirmada na prática. Para isso ele construiu um modelo reduzido nas proporções exatas. Colocou uma lâmina nova de barbear nela, na altura que corresponde a um terço da distância entre a base e a ponta, onde foi constatado o campo de força mais intensivo.

Vinde e quatro horas depois, ele retirou a lâmina e tentou fazer a barba. Para sua total decepção a lâmina continuou cortante. Mas ele não desanimou e recolocou a lâmina na pirâmide. E ela continuou cortante. Dia após dia sua surpresa aumentou, porque ele continuou podendo fazer a barba com ela.

Depois de sessenta dias fazendo a barba com esta lâmina diariamente, finalmente ela ficou cega.

Então ele fez outra tentativa, e conseguiu cem a duzentas barbas. Naquele tempo, em 1948, as giletes estavam em falta no seu país, e os amigos insistiam em que ele registrasse este inusitado modelo e fenômeno como patente.

Quase por brincadeira ela requereu a patente, mas demorou até 1959 para ela ser registrada com o número 91.304.

Mas por que demorou tanto tempo?

De acordo com a legislação vigente na Tchecoslováquia, não basta que uma coisa funcione, é indispensável apresentar também uma explicação técnica de como funciona.

Não houve dificuldade em provar ao serviço de patentes que a idéia funcionava. Inclusive pelo fato de que vários membros da comissão deliberativa, entre eles o próprio presidente, conseguiram passar um ano com apenas duas ou três lâminas. Finalmente Karl Derbal conseguiu apresentar uma hipótese aceitável.

Pelo seu trabalho no Instituto para Técnicas de Alta Frequência ele tinha acesso a toda a literatura científica sobre microondas, raios cósmicos e raios terrestres.

Um aço de boa qualidade tem certa elasticidade que serve para neutralizar deformações passageiras e restabelecer o estado original. Por exemplo: deixando uma lâmina depois de uma única utilização de um a dois meses sem uso, ela recupera o fio inicial. O vão da pirâmide, cavidade de ressonância para as mais variadas irradiações, acelera o processo para 24 horas.

A energia presente na pirâmide tem também a capacidade de retirar as moléculas de água presentes no metal, aumentando a sua rotação própria. Neste processo a água é eliminada mesmo nos menores vãos. A energia necessária para isso é pequena, apenas 1,6 x 10-19 watts por segundo. O espaço de uma pirâmide pode gerar muito mais energia. Por outro lado, a energia das pirâmides está sujeita a interferências de um campo magnético, gerado por equipamentos elétricos, como por exemplo uma TV. Também grandes massas de ferro podem causar interferência.

Podemos observar, entre outras mais, duas forças:

1. que acelera a desidratação,
2. que age sobre a microestrutura dos organismos.

A esterilização ou exterminação de microorganismo e a regeneração do aço são dois exemplos.

Pirâmides com outros ângulos ou outra estrutura também geram energia. Acontece que o modelo da pirâmide de Quéops parece ter o maior efeito. Através da rápida desidratação seria possível até matar pequenos animais.

Esse efeito só se consegue com a concentração de energias cósmicas, atraídas pelo magnetismo da Terra. A pirâmide tem que estar alinhada exatamente no eixo norte-sul, pois os campos magnéticos têm o mesmo alinhamento.

Derbal coloca as suas lâminas com o corte na direção norte-sul. Eu mesmo as coloquei na direção leste-oeste, mas da próxima vez pretendo colocá-las também na direção norte-sul, a fim de observar a diferença. No momento da redação deste capítulo eu já tinha feito a barba 210 vezes com a mesma lâmina, submetida ao tratamento na pirâmide. Utilizo aqui uma pirâmide em forma de cone, que tem a vantagem de não precisar ser alinhada, pois tem um número infinito de faces laterais.

Experiências na Própria Pirâmide

O homem, como sempre, é um caçador materialista de tesouros e sempre acreditará que aqui ou acolá deve existir escondido um enorme tesouro. Numa época em que o conforto tem importância excepcional, a caça ao tesouro foi simplificada e pode ser comparada a uma loteria. E ainda tem gente que acredita que nas pirâmides do Egito devam existir cômodos secretos e ainda desconhecidos. Para esclarecer definitivamente esse aspecto, em 1968 o dr. Louis Alvarez iniciou um grande projeto.

Ele criou um medidor capaz de captar raios cósmicos. Sua teoria baseou-se na premissa de que os raios cósmicos, ao passar por um material, seja qual for a espessura deste, perdem energia. Pretendia colocar o medidor dentro da pirâmide e medir a potência desses raios. Casos existisse um cômodo escondido em algum lugar, ele poderia determinar a sua localização através da intensidade medida da irradiação.

Sempre que se tratar de tesouros escondidos, parece que o dinheiro aparece, pois em meados de 1968 esse caríssimo projeto pôde ser iniciado.

Uma equipe de cientistas, membros de doze diferentes instituições nos Estados Unidos e nos Emirados Árabes, começou a trabalhar. Milhões de feixes de raios cósmicos foram medidos, indicando nitidamente todas as formas e pontos da pirâmide. A pirâmide de Quéfren tinha sido escolhida como primeiro objeto das pesquisas.

Sob a direção do dr. Amr. Goneid, do Cairo, foram analisadas as fitas num computador IBM 1130. Não foi descoberta uma única câmara secreta, mas surgiu um outro fenômeno: cada vez que as fitas eram analisadas na Universidade Ein-Sham do Cairo, apresentou-se um padrão de dados diferente, cuja variação já deveria ter sido constatada por ocasião de análises anteriores.

Para ter certeza absoluta, mandaram as fitas para Berkeley, na Califórnia, onde as colocaram num computador ainda mais altamente especializado. O dr. Goneid observou que o processo não tinha explicação científica e parecia absolutamente impossível. Constatou que na pirâmide deviam existir forças que estariam se divertindo com aquilo que até então vinha sendo considerado conhecimento científico seguro.

Mas a equipe não continuou os trabalhos na pirâmide de Quéops, abandonando o projeto de vez. Temos aqui mais uma prova indiscutível de que a sociedade contemporânea ainda não se conscientizou de que o maior tesouro da pirâmide, ou de qualquer outro lugar, deve ser de natureza espiritual. Esta sabedoria já nos foi ensinada nos velhos contos de fadas, como por exemplo neste que vou contar rapidamente:

“A pobre e trabalhadora filha adotiva cai num poço e chega num prado. Lá ela se emprega com a Frau Holle e executa com altruísmo e amor muitos trabalhos. Passados sete anos, ela deseja voltar e recebe, como agradecimento, uma chuva de ouro. Evidentemente, a madrasta ávida pelo ouro a recebe muito bem. Acha que agora pode mandar a própria filha em busca de mais ouro. Esta cai no poço, mas é preguiçosa demais para mexer um dedo, e na hora da volta é coberta com piche, para desgosto da sua mãe.”

Neste conto de fadas o amor é premiado com ouro mental. A avareza do ouro material é punida com um fracasso.

Também na história da pirâmide encontramos este tema.

Além do dr. Louis Alvarez, mais um outro pesquisador foi até a pirâmide. Mas não com o intuito de localizar a misteriosa câmara do tesouro, e sim para explorar o sentido espiritual, a mensagem da pirâmide.

Por acaso recebi em casa a visita de alguém que tinha passado um dia com Paul Brunton. Sr. Francis Younghusband descreve Paul Brunton como uma pessoa espiritualmente muito evoluída, com profundo conhecimento da sabedoria oriental e da evolução cósmica. Considera-o um  dos líderes da filosofia de ioga no Ocidente, que se dedicara durante anos ao estudo dos antigos exercícios místicos e do conhecimento filosófico, a fim de poder transmiti-los a nós numa forma moderada e compreensível.

Paul Brunton partiu em busca do “porquê” da pirâmide, e o resultado é aquilo que ele descreve num dos seus livros com o título Egito secreto.

A fim de poder realmente saber o que a pirâmide escondia nas suas entranhas, ele deixou-se encerrar durante uma noite na câmara real, assumindo todos os riscos.

Conta ele que precisou deixar sua mente totalmente vazia, para conseguir absorver todas as impressões com a máxima precisão. Nisso, o treinamento da ioga lhe foi muito útil. No começo, o silêncio foi muito deprimente, enquanto ele ficou sentado junto do sarcófago aberto, aguardando os acontecimentos daquela noite.

Concentrou-se totalmente no próprio interior e sentiu aos poucos uma espécie de felicidade aproximando-se. Naquela câmara escura, sem o mínimo traço de luz, sombras começaram a mexer-se violentamente. Imagens de rostos mal-intencionados debruçaram-se sobre ele. Sentiu-se cercado por figuras hostis, que com certeza queriam expulsá-lo da câmara mortuária real. E ele chegou bem perto do momento da fuga, tão grande tornou-se a revolta contra aquilo que o rodeava. Mas de repente ocorreu uma mudança no ambiente e a hostilidade cessou como viera.

Passado algum tempo, começou a sentir uma nova presença, desta vez com uma irradiação benéfica. Uma segunda figura aproximou-se. Reconheceu-as como sacerdotes com roupas brancas, cuja irradiação de luz iluminava a câmara real. Umas das figuras dirigiu-se a ele e perguntou por que queria invocar as forças espirituais.

Tudo isso ele sentiu como algo indescritível; apesar de não perceber as vozes acusticamente, escutou e compreendeu tudo no seu íntimo.

A voz aconselhou-o a ir embora. Já na antiguidade outros teriam voltado enlouquecidos da câmara mortuária real. Brunton respondeu que pretendia continuar lá.

Explicaram-lhe então que seria conduzido para o lugar onde o Saber era anunciado. Que fizesse o favor de deitar-se sobre a pedra. Ele descreve a sensação que sentiu, de morrer lentamente, e de repente estava livre do corpo.

Supondo que se trate daquilo que chamam a saída da matéria.

Um médico escreveu um livro sobre este assunto, depois de conversar com centenas de pacientes que tinham sofrido a morte clínica e em seguida tinha ressuscitado.

Brunton continua contando que viu a si mesmo deitado e em seguida sentiu-se flutuar dali. Tinha consciência de que o corpo estava sem alma e a alma livre. Em seguida recebeu mensagens de um dos sacerdotes.

“O homem que possui um corpo mortal e uma alma imortal, nunca será esquecido.”

Quando Brunton perguntou sobre o segredo da pirâmide, recebeu a seguinte resposta: “Não importa se você descobre o segredo da pirâmide ou não. Procure o caminho secreto na sua mente, que o levará ao segredo na sua alma e lá encontrará o maior segredo. O segredo da pirâmide é o segredo do seu próprio ser. A mensagem da pirâmide é que os homens devem descobrir nas suas almas o maior poder da mente.

A verdade oferecida a Paul Brunton lembra-me do livro já mencionado de Baird Spalding. Die Meister des Fernen Ostens, um livro que vale a pena ler. Um grupo de arqueólogos assiste a uma demonstração de como todo homem tem em si o poder para dominar a matéria. Em cada home está presente o poder do Cristo, e podemos utilizá-lo da mesma maneira como Cristo o utilizou. Mas será preciso que nos abramos ao espiritual. Também nesse caso é válida a analogia com a pirâmide.

Esta precisa ter a forma exata, as proporções certas e o alinhamento para o norte para que a energia possa ser eficaz.

O mesmo aplica-se ao homem. O homem precisa limpar o seu corpo, alimentar-se com alimentos saudáveis, respirar corretamente e concentrar-se no espiritual, na mensagem de Cristo. Se fizer isso, a energia mental lhe chegará sozinha e ele, por sua vez, poderá irradiá-la também.

Já depois da entrega do manuscrito deste livro ao editor, este me presenteou com um livro de Benjamin Creme: Die Wiederkehr Christi und die Meister der Weisheit. Neste livro consta algo muito estranho sobre a grande pirâmide, e apressei-me a incluí-lo. Creme fora incumbido da construção de um instrumento que pudesse irradiar formas de energia estereométrica. Esse instrumento serviria, entre outras coisas, também para curar pessoas.

Falando da forma estereométrica da Grande Pirâmide de Quéops, ressalta ele que a mesma deriva sua potência da sua forma e que ela é capaz de atrair energias das regiões etéricas e astrais. Essas energias deveriam ser transmitidas aos habitantes de uma grande cidade, que hoje estaria escondida debaixo da área junto da pirâmide e da Esfinge.

No livro ele fala ainda dos grandes mestres, com cuja orientação aquela cidade terá que ser reencontrada. Isso seria mais uma prova dos conhecimentos extraordinários de que os mestres dispunham.

Em seguida ele estabelece um paralelo interessante entre o homem e a Terra, da mesma forma como fiz num capítulo precedente deste livro. Creme conta que o homem que segura excessivas energias em determinados pontos do corpo, e não as deixa circular no resto do corpo, faz-se adoecer ele próprio.

Na acupuntura identificam-se esses bloqueios, tratando de restabelecer o fluxo normal.

O mesmo fenômeno pode ser observado atualmente, em escala muito maior, na organização do nosso mundo. O Ocidente está bloqueando tanta energia e alimentos que muitos países em desenvolvimento estão enfrentando grave escassez. Por causa disso o mundo inteiro está cheio de tensões, morte e doenças. A única solução seria uma distribuição mais equitativa da energia e dos alimentos no mundo inteiro. Essa redistribuição estaria sendo preparada, na opinião dele, pelos grandes mestres em escala universal.

Paul Liekens, Os segredos da energia das pirâmides, editora Record, Rio de Janeiro-RJ, pp. 79-88.

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Uma noite com a Esfinge

Posted by luxcuritiba em abril 19, 2008

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Já se foram os últimos turistas, premidos pela fome; o último dos guias embuçados de negro pela milésima vez repetiu seu discurso e erudição superficial, destinado aos estrangeiros que visitam seu velho país; os burricos, cansados, e o camelos, blaterando, empreenderam pressurosos o caminho de regresso, levando os últimos dirigentes da caravana.

A descida da noite sobre a campina egípcia é um espetáculo de inesquecível beleza sobrenatural. Todas as coisas mudam de cor e vivíssimos contrastes se estendem entre o céu e a terra.

Fiquei só, sentado na morna areia amarelada; diante de mim a Esfinge se destacava em sua pose majestosa, estirando-se com imponência. Meus olhos contemplavam fascinados o fantástico jogo de cores sutis, em todos os matizes; aproveitando os últimos lampejos agonizantes que retiravam do Egito seu manto de glória dourada, o sol aparecia e desaparecia em rápida sucessão. Quem pode receber a sagrada mensagem transmitida pelo belo e misterioso resplendor de um crepúsculo africano e não se sentir transportado a um paraíso? Enquanto os homens não estiverem completamente embrutecidos, espiritualmente mortos, continuarão amando ao Genitor da Vida, o sol, que torna possível esses prodígios com a arte de sua magia incomparável. Não eram tolos aqueles homens de antanho quando veneravam Aa, a grande luz, e o albergavam em seus corações como a um deus.

O sol se deteve no horizonte, incendiando o céu com os magníficos lampejos de um vermelho ferrugíneo, de carvão em braza. O colorido foi diminuindo gradativamente e um delicado rubor coralino se estendeu pelo firmamento, até ficar reduzido a meia dúzia de cores diversas, desde o rosáceo até o verde e o dourado, formando um arco-íris diluído que se agitava em reticente adeus à vida. Por último, quando o crepúsculo rapidamente começou a invadir a paisagem, tudo se cobriu de uma opalescência cinzenta. As cativantes cores desapareceram com o grande disco do astro agonizante.

Sobre aquele fundo opalino vi a Esfinge revestir-se da sua roupagem noturna, velando as feições indeterminadas com o vivo reflexo dos últimos raios avermelhados.

Surgida das areias onipresentes, com sua cabeça gigantesca e o corpo reclinado, inspira tanto medo aos beduínos superticiosos que a denominaram a “Mãe do Terror”, quando aos viajantes céticos, em todas as épocas, sua colossal figura impõe perguntas intricadas. O mistério dessa monstruosa combinação, corpo de leão e cabeça humana, exerceu um influxo impreciso e atraiu, no decorrer de muitos milênios, visitantes em procissão interminável.

A Esfinge é tanto um enigma para os próprios egípcios como um arcano inexplicável para o resto do mundo. Ninguém sabe quem a esculpiu, nem quando; os egiptólogos mais competentes só podem conjeturar, às cegas, seu significado e sua história.

Na mirada final que a luz agonizante me concedeu, meus olhos pousaram nos olhos de pedra da Esfinge, fixos e serenos, que viram chegar milhares de pessoas, as quais, uma a uma, miravam interrogativamente a inescrutável face e retiravam-se perplexas; o olhar imóvel da Esfinge – que viu os atlantes, homens de tez morena, de um mundo perdido, desaparecerem sob milhões de toneladas de água; olhar que, semi-sorridente, presenciou a façanha de Menés, o primeiro dos Faraós, que desviou o curso do Nilo, esse bem-amado rio do Egito, obrigando-o a correr em novo leito; olhar que, com silencioso pesar, viu o grave e taciturno rosto de Moisés inclinar-se em sua última saudação; olhar que, melancólico e magoado, testemunhou os sofrimentos do seu país, saqueado e devastado na invasão dos persas conduzidos pelo cruel Cambises; olhar que, belo e desdenhoso, viu a arrogante Cleópatra, a das tranças sedosas, desembarcar de uma galera dourada na proa, de velas de púrpura e remos de prata; olhar que, jubiloso, deu as boas-vindas ao jovem Jesus, o peregrino errante, quando, em busca de sabedoria oriental, se preparava para a hora assinalada de sua missão pública, com a mensagem de amor e de piedade recebida do Pai: olhar que, intimamente cheio de complacência, deu a bênção ao jovem e nobre Salatino, o guerreiro valente, generoso e instruído, ao vê-lo levantar a lança com a meia lua cravada no verde pendão e tornar-se o soberano do Egito; olhar severo de admoestador, a saudar Napoleão como instrumento do destino europeu, esse destino que levara ao ápice o nome do corso, eclipsando todos os demais, para em seguida obrigá-lo a pisar as lisas tábuas do Belerofonte; olhar que, com certa tristeza, viu convergir sobre sua pátria a atenção de todo o mundo, ao ser aberto o túmulo de um soberbo Faraó, para retirar seu cadáver mumificado e seus reais ornamentos, e entregá-lo à voraz curiosidade moderna.

Aqueles olhos de pedra da Esfinge viram tudo isso e muito mais ainda; agora, desdenhando os homens que se consomem em atividades triviais e transitórias, indiferente à interminável cavalgada do prazer e da dor humana que atravessa o vale egípcio, sabendo que os grandes acontecimentos temporais estão predestinados e são iniludíveis, suas enormes órbitas fixam a eternidade. Dão a nítida idéia de que eles mesmos, imutáveis, perscrutam através do tempo e se afundam nas trevas do desconhecido, na origem mesma do universo.

A Esfinge se tingiu de negro; o céu perdeu sua opalescência prateada, e as trevas completas, absorventes, conquistaram o deserto.

E eu continuava sob o poder fascinante da Esfinge, fortemente prêsa minha atenção ao seu poderosos magnetismo, pressentindo que, ao chegar a noite, ela voltava à sua própria existência. O fundo de sombras era seu ambiente apropriado e no misticismo da noite africana encontrava a atmosfera adequada para ela. Ra e Horus, Ísis e Osíris, todos os deuses egípcios desaparecidos, também voltaram furtivamente à noite. Resolvi, portanto, aguardar que a lua e as estrelas aparecessem para revelar mais uma vez a verdadeira face da Esfinge. Fiquei só e, não obstante, a despeito da profunda desolação do deserto, não me sentia solitário.

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As noites do Egito são inteiramente diferentes das noites européias; elas vêm suavemente e sombras matizadas de um azul anivioláceo, e exercem um efeito mágico sobre as mentes sensíveis; enquanto que as noites da Europa são soturnas, terrivelmente categóricas e definidamente negras.

Apreciava pela centésima vez essa diferença, quando apareceu jubilosa a primeira estrela da noite, cintilando tão perto e com tanto brilho como nunca as vemos na Europa; a lua revelou sua presença e, como uma verdadeira sedutora, apoderou-se do céu transformando-o num docel de terciopelo azul.

Comecei a ver então a Esfinge como raramente a vêem os turistas; primeiro foi uma silhueta de tamanho colossal, talhada na rocha, escura e alta como um edifício londrino de quatro andares, elevando-se dignamente numa concavidade do deserto; depois, conforme os raios luminosos iam aclarando os detalhes, apareceram o rosto prateado e as patas estendidas da figura familiar da Esfinge. Vi então nela o impressionante simbolismo daquele Egito cuja origem misteriosa remonta à antiguidade imemorial da pré-história. Estava ali deitada como um cão solitário, guardiã eterna dos segredos milenários, meditando sobre os povos do continente atlante cujos nomes esqueceu a memória frágil da humanidade; a colossal criação de pedra sobreviveu a todas as civilização engendradas até agora pela raça humana e segue conservando intacta sua vida interior. O rosto grave e majestoso não revela nada; seus mudos lábios de pedra comprem o compromisso eterno de guardar silêncio; se a Esfinge oculta alguma mensagem secreta para o homem, ela a transmitiu através dos séculos aos poucos privilegiados que souberam ouvi-la, apenas num sussuro, como o fazem os maçons num supro ao ouvido do candidato à “Palavra do Mestre”. Não é de estranhar que o romano Plínio haja dito da Esfinge que “é a maravilhosa obra de arte ante a qual se observa o rito do silêncio, e é considerada como divindade”.

A noite destaca mais a Esfinge; atrás e dos lados estendia-se a chamada “Cidade dos Mortos”, região literalmente repleta de túmulos. Em torno da base rochosa da qual sobressai da areia a Esfinge, a Oeste e a Norte, todos os túmulos, um após outro, foram escavados para se extrairem deles sarcófagos com os corpos mumificados de príncipes, aristocratas e dignitários eclesiásticos.

Durante seis anos os próprios egípcios, seguindo o exemplo dos pioneiros ocidentais, empreenderam um grande esforço, sistemático e integral, em exumar toda a seção central da vasta necrópole. Retiraram milhares de toneladas de areia das gigantescas dunas que cobriam aquela zona, pondo a descoberto as estritas passagens abertas na rocha como trincheiras que vão de túmulo em túmulo, cruzando-se entre si, caminhos pavimentados que unem as pirâmides aos seus respectivos templos.

Percorri toda essa região de um lado a outro e visitei as câmaras de inumação, os sepulcros peculiares, as salas dos sacerdotes e as capelas mortuárias que a circulam e a fazem parecer um favo de abelhas. Merece realmente o nome de “Cidade dos Mortos” porque, separada por vários metros no espaço e quase três mil anos no tempo, há, dentro dos seus limites, dois grandes cemitérios superpostos. Os antigos egípcios cavavam fundo quando queriam esconder seus mortos; há uma câmara que possui nada menos de cinquenta metros abaixo do nível da famosa calçada. Estive em salas sepulcrais da IV dinastia, onde as efígies de pedra, de cinco mil anos de antiguidade, perfeitas reproduções dos defuntos, continuam de pé, com suas feições claras e identificáveis; quanto aos presumíveis serviços que prestaram aos espíritos, são mais discutíveis.

Todavia, quase não há um túmulo em que a pesada tampa do sarcófago não tenha sido removida e de cujo interior não hajam desaparecido todas as jóias e objetos de valor, ficando apenas as urnas como foram encontradas por escavadores. Os antigos egípcios também tiveram seus saqueadores de túmulos, e quando o povo se lançou-se à procura dos despojos invadindo o vasto cemitério onde as altas personalidades gozavam da honra de ser postas a descansar ao lado das múmias dos reis a quem serviram em vida.

As poucas múmias que escaparam aos primeiros saqueadores da sua própria raça, repousaram algum tempo em paz, até serem violadas sucessivamente pelos gregos, romanos e árabes. As que foram poupadas a essa prova se beneficiaram de um novo repouso que se prolongou até os princípios do século passado, quando os arqueólogos modernos começaram a peneirar o subsolo egípcio para recolher o que haviam deixado passar os ladrões. Apiedemo-nos dos Faraós e dos pobres príncipes embalsamados, cujos túmulos são profanados, e saqueados seus tesouros, pois ainda quando as múmias não tenham sido ultrajadas por ladrões em busca de jóias, o destino parece não lhes ter reservado melhor repouso que o das salas dos museus, para aí serem observadas e discutidas pelo público curioso.

É nesse lúgubre lugar, repleto dos cadáveres de antiquíssima sepultura, que se ergue a Esfinge solitária; testemunhas dos ultrajes e saques da “Cidade dos Mortos”, primeiro pelos egípcios rebeldes, e logo após pelos árabes invasores. Não é de estranhar que Willis Budge, o afamado conservador da coleção do Museu Britânico, haja chegado finalmente à conclusão de que “a Esfinge foi erigida para afugentar os maus espíritos dos túmulos, que invadem o lugar”. Não é de se admirar que o Rei Tutmés IV, há três mil e quatrocentos anos, erigisse sobre o peito da Esfinge uma lápide de pedra de quatro metros de altura e fizesse gravar nela as seguintes palavras:

“Nestas zonas reinou um mistério mágico desde a alvorada dos tempos, porque a figura da Esfinge é o emblema do Khepera (deus da imortalidade), o maior dos egípcios, o ser venerável que repousa neste lugar. Ó habitantes de Mênfis e de todo o distrito circundante, levantem suas mãos e orem ante sua imagem!”

Não é de admirar que os beduínos da cidade vizinha de Gizeh possuam copiosa quantidade de lendas tradicionais que dizem respeito aos egípcios e fantasmas que voltejam, à noite, sobre a área onde está erigida a Esfinge, pois, segundo eles, é esse o lugar onde mais pululam os fantasmas. Porquanto um cemitério antigo como este não é comparável a nenhum cemitério moderno, e os egípcios, ao embalsamarem os corpos de seus grandes vultos, o fizeram deliberadamente para que se prolongasse o contato dos espíritos com o mundo, durante um número incalculável de anos.

A noite, sem dúvida, é o momento mais apropriado para se contemplar a Esfinge e, quando as sombras reinantes dão contornos fantasmagóricos às rígidas formas do mundo material circundante, o mais insensível dos homens crê estar perto do mundo dos espíritos, tornando-se-lhe a mente mais receptiva às sensações agudas.

O céu noturno cobriu-se de um tom índigo-purpurino, tom místico, que se harmonizava admiravelmente com o meu intuito.

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As estrelas foram aumentando até formar-se uma cúpula luminosa sobre a escura imensidão da terra. A lua contribuía com seu esplendor para iluminar a silenciosa paisagem espectral que me rodeava.

O possante corpo de leão sobressaía da oblonga plataforma de rocha e, com maior nitidez, deixava contemplar sua enigmática cabeça. Adiante e atrás de mim, o pequeno planalto perdia-se confundindo-se com o deserto que se estendia até desaparecer absorvido pelas trevas.

Contemplei as abas graciosas da enorme coifa de pedra, semelhante a uma touca, principiando por distinguir seu feitio. A coifa real confere à Esfinge majestade e distinção, qualidades realçadas pela régia serpente que, pousada sobre a fronte, ergue sua cabeça, o símbolo “URAEUS” (1) da soberania, emblema da supremacia divina e humana, de poder temporal e espiritual. A figura da Esfinge aparece com frequencia na escrita hieroglífica, representando o Senhor da Terra, o poderoso Faraó, e um antiga tradição afirma que dentro da estátua há um túmulo do monarca chamado Armais. O arqueólogo francês Mariette, diretor do Museu Egípcio do Cairo, tomou tão a sério essa tradição que decidiu explorar a base rochosa da Esfinge.

“Não é impossível” – declarou numa reunião científica – “que dentro da esfinge, em alguma parte do corpo do monstro, exista uma cripta, uma caverna ou uma capela subterrânea que seja um túmulo.” Porém, pouco tempo depois de ter anunciado seu projeto, a morte bateu à sua porta e lhe tocou a vez de ser sepultado numa cova. Desde então, ninguém se atreveu a perfurar a plataforma circundante da Esfinge, nem a base rochosa onde descansa. Quando, falando com o professor Selim Hassan, a quem as autoridades egípcias haviam confiado a direção das escavações na “Cidade dos Mortos”, abordei o tema e o interroguei a respeito da possibilidade de existirem, sob a Esfinge, câmaras funerárias ignoradas, meu interlocutor desviou a pergunta com uma réplica enfática e categórica: – “A Esfinge foi trabalhada em rocha maciça. Debaixo não pode haver nada mais do que rocha maciça!”

Eu o ouvi com todo o respeito que o professor merecia, mas não me convenci, não aceitando nem rejeitando essa afirmação. Optei por deixar em suspenso a dúvida. O nome de Armais lembra muito o de Harmakis, o deus-sol que, segundo outra lenda, personifica a Esfinge. É bem possível que debaixo dela não haja nenhuma câmara mortuária e que as tradições se tenham confundido com o lento perpassar do tempo. Por outro lado, porém, podem existir recintos abertos na rocha, com outros propósitos que não sejam especialmente funerários, e que os egípcios os usassem, como o provam as outras criptas subterrâneas, a fim de realizar serviços religiosos secretos, que foram sempre bem guardados. Antigas tradições de fontes caldaicas, gregas, romanas e até árabes falam insistentemente de certa passagem a uma câmara subterrânea, que os sacerdotes usavam para se transladarem da Grande Pirâmide à Esfinge. Essas tradições, na grande maioria, carecem de fundamento, mas não há fumaça sem fogo. Tão destros eram os egípcios antigos em abrir passagens na pedra e dissimular as entradas, que nenhum egípcio contemporâneo poderá garantir que o solo onde pisa nunca tenha sido perfurado por engenho humano. Na lápide que Tutmés fez instalar entre as patas dianteiras da Esfinge, os artistas da época esculpiram a figura dela, representando-a num bloco de forma cúbica, onde há todo um edifício com sua grande entrada central e respectivas decorações em baixo-relevo. Ter-se-iam baseado em alguma lenda ancestral, perdida na atualidade? Existiria mesmo um templo em forma de bloco, sepulto na colina rochosa, com a Esfinge descansando no seu teto imenso, como um gigante? Algum dia o saberemos.

O que intriga é o fato de a Esfinge não estar esculpida totalmente na rocha. Os escultores deviam ter reconhecido que um bloco de rocha viva não comportava a dimensão requerida para a enorme obra encomendada, e viram-se obrigados a construir parte do arredondado das ancas e das patas, de quinze metros de comprimento, com tijolos especialmente cozidos e com pedras lavradas, a fim de completar seu tremendo empenho. No entanto, esse conjunto cedeu em parte pelos embates do tempo e da selvajeria dos homens; desconjuntaram-se tijolos e desapareceram outras tantas pedras.

Há cerca de cem anos ali esteve o coronel Howard Vyse, que, licenciado do serviço ativo, regressava da Índia à sua pátria. Em Suez deixou o navio e tornou a diligência postal, mantida pela antiga Companhia das Índias Orientais, para conduzir seus oficiais ao Cairo e dali ao Mediterrâneo, onde tomavam a embarcação. O coronel permaneceu algum tempo no Cairo, atraído pelas pirâmides e pela Esfinge, que visitou repetidas vezes. Ao inteirar-se das antigas lendas que circulavam sobre a Esfinge, empenhou-se em comprovar a veracidade e averiguar se o corpo era oco ou não; nesse intuito mandou perfurar os ombros da Esfinge com enormes ferros providos de cinzéis nas pontas. O resultado foi desolador. As furadeiras, após terem penetrado numa profundidade de oito metros, encontraram sempre a rocha maciça, deixando apenas as marcas das perfurações em sinal do esforço empreendido. Na época do Vyse, porém, por infelicidade só se via a cabeça da Esfinge, estando o corpo sepulto sob a enorme massa de areia; os trabalhos do coronel deixavam, portanto, como estavam, as tres quartas partes sob o monte de areia, e nem sequer se aproximaram da base.

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A noite deslisava furtivamente, silenciosa como uma pantera, numa quietude apenas interrompida pelos uivantes gemidos semi-humanos de algum chacal do deserto, que assinalava o correr das horas. A Esfinge e eu sentados sob a luz clara das estrelas africanas, reforçamos o laço invisível que nos tinha unido, transformando a relação em amizade, e quiçá, também, aumentando nossa recíproca compreensão.

Quando pela primeira vez fui vê-la, há vários anos atrás, a Esfinge tinha cravado seu olhar distante com um tranquilo desdém. Era eu então para ela um mortal a mais, um dos tantos peregrinos insignificantes, um pigmeu imbuído de vã presunção, desejos vaidosos e pensamentos frívolos. A Esfinge parecia-me ser o emblema lobrego daquela Verdade que nunca poderia encontrar ídolo gigantesco, dedicado ao Incognoscível, ante o qual as preces cairiam sem eco nas pálidas areias do deserto e todos os problemas se fundiriam no esquecimento eterno. Fiquei mais cínico e mais cético que dantes, enfastiado do mundo e cheio de amarguras.

Os anos todavia não se passaram em vão; o Mestre Invisível me havia ensinado umas tantas coisas importantes, e eu soube qual era a verdadeira significação da vida. Aprendi que o mundo não girava no espaço, sem ter outra finalidade na sua existência.

Retornei a ver a Esfinge com melhor disposição. Enquanto nos fazíamos companhia na escuridão, ela recostada no seu pedestal, no limiar do deserto da Líbia, eu sentado de pernas cruzadas, na areia, voltei a meditar sobre o misterioso significado do Colosso.

Todos conhecem algumas fotografias da Esfinge e se lembram de seu rosto mutilado, mas ninguém sabe quando e por que foi esculpida em maciça pedra calcária, emergindo da areia, nem quais foram as mãos que transformaram a rocha solitária em uma estátua de proporções gigantescas.

A arqueologia cala-se, baixando a cabeça com vergonha, porque se vê obrigada a retirar suas conjeturas disfarçadas em teorias que sustentava cheia de confiança, até poucos anos atrás. Agora, não se atreve a pronunciar um móvel sequer, nem expor um fato concreto; já não se aventura a atribuir a Esfinge ao Rei Khafra ou ao Rei Khufu, porque chegou a compreender que as inscrições descobertas só indicam a existência do Colosso durante aqueles reinados.

Nos papiros que foram encontrados até agora não há praticamente indícios além da XVIII Dinastia, que digam respeito à Esfinge, e além da IV nenhuma inscrição na pedra a menciona. Nas escavações que se fizeram em busca de antigos despojos, havia uma inscrição em que se fala da Esfinge como de um monumento cuja origem se perde na noite dos tempos, e que foi encontrada casualmente depois de haver estado enterrada nas areias do deserto, completamente esquecida e ignorada de todos. Essa inscrição pertence ao período da IV Dinastia, cujos Faraós viveram e reinaram no Egito há mais de seis mil anos. E PARA ESSES ANTIQUÍSSIMOS REIS A ESFINGE JÁ ERA INCALCULAVELMENTE VELHA.

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A noite traz o sono; mas eu resolutamente o afastava ao chegar a essa altura de minhas reflexões noturnas; as pálpebras cansadas começavam a pesar movidas por rebelião involuntária, e minha mente a dormitar; duas forças disputavam a supremacia – a primeira era um desejo ardente de passar a noite acordado junto à Esfinge – a segunda, um crescente impulso de entregar corpo e alma à suave e soporífera carícia das trevas envolventes. Por fim, logrei conciliar as duas coisas, firmando um tratado de paz em virtude do qual eu manteria os olhos apenas entreabertos numa vigilância renitente que não me permitiria ver nada, e a mente apenas desperta deixaria deslisar os pensamentos num devaneio colorido, em câmara lenta.

Abandonei-me um instante à serena languidez que sobrevem quando a mente permanece em repouso. Não sei quanto tempo havia passado nesse estado, quando num dado momento sumiram da minha visão mental as cores, e no seu lugar apareceu uma ampla e extensa paisagem, iluminada pela luz fosforescente do plenilúnio.

Vi-me rodeado de uma multidão de figuras escuras que se moviam apressadamente, indo de um lado para outro, algumas levando cestas carregadas na cabeça, outras subindo e descendo as frágeis estacas de um andaime armado junto a uma enorme rocha. Havia entre elas os encarregados da obra, que davam ordens aos operários e observavam atentamente o trabalho dos homens, que armados de martelos e cinzéis lavraram a pedra previamente marcada com pontos, imprimindo uma forma ao desenho. O martelar contínuo soava insistentemente no ar.

Aqueles homens tinham o rosto oval, a coloração da pele castanho-avermelhada ou amarelo-acinzentada, o lábio superior notavelmente saliente.

Concluindo seu labor, o escarpado promontório rochoso se havia transformado numa cabeça humana gigantesca, assentada num corpo de leão, formando um conjunto monumental que se erguia no centro de um grande bloco de granito. Na cabeça da estátua, sobre uma curiosa espécie de touca de amplas pregas, presas atrás das orelhas, havia um disco de ouro maciço…

A ESFINGE!

A multidão desapareceu, deixando a paisagem tão silenciosa como túmulo deserto. Vi então à minha esquerda um mar extenso que cobria a terra com suas águas tranquilas, a uma légua de distância. Aquele silêncio continha algum presságio que não pude compreender, quando do coração mesmo do oceano veio um bramido profundo e prolongado, a terra estremeceu sob meu corpo, e com estrondo ensurdecedor alçou-se no ar uma imensa parede de água que se lançou sobre nós, a Esfinge e eu, e nos inundou a ambos.

O DILÚVIO!

Houve um intervalo, não sei se de um minuto ou de mil anos, antes de ver-me de novo sentado ao pé da grande estátua. Olhei em redor, não havia mar nenhum. Em compensação, via-se uma extensa planície pantanosa, ressequida pelo sol e salpicada aqui e acolá de grandes manchas brancas, granulosas e salgadas. O sol em brasa lançava, implacável, seus raios escaldantes na areia deserta, até que as manchas foram aumentando em tamanho e quantidade. Ao desaparecer a última gota da umidade dos pântanos, a campina e transformou numa superfície fofa, porosa, seca e cáustica de cor amarelo-pálida.

O DESERTO!

A Esfinge continuava contemplando a paisagem; parecia satisfeita com sua existência solitária. Os lábios grossos, fortes, pareciam estar prontos a desabrochar num sorriso. Que perfeita harmonia havia aquela figura solitária e o solitário ambiente que a rodeava! O espírito da solidão parecia ter encontrado naquele Colosso impassível sua digna encarnação.

Assim seguiu a Esfinge na imperturbável espectativa, até o dia em que uma pequena flotilha de barcos acostou à margem do rio; um grupo de homens desembarcou, avançou lentamente e aproximou-se da Esfinge, prosternou-se diante dela, levantando suas preces jubilosas.

Desde aquele dia o feitiço do silêncio rompeu-se; nas planícies, nas terras adjacentes construíram-se vivendas e os reis iam com seus sacerdotes fazer corte à que era a rainha sem corte do deserto.

Com a chegada deles foram embora as minhas visões, como se apaga a chama do candeeiro, quando acaba o combustível.

Fonte: O Egito Secreto, Paul Brunton, Editora Pensamento, pp. 9-19.

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