29 de janeiro de 2008
Recentes escavações arqueológicas legitimam a comparação; ainda falta apoio do governo
Camila Anauate – O Estado de S.Paulo
CHICLAYO – Arqueólogos arriscam chamar a desértica costa norte peruana de Vale do Rio Nilo. A comparação só faz sentido – diferenças geográficas à parte – durante visita às ruínas que revelam crenças e hábitos de culturas milenares. As primeiras civilizações do Peru são contemporâneas dos faraós egípcios e também deixaram enterrados tesouros de um esplendoroso passado. Como a tumba do Senhor de Sipán, líder político e religioso comparado a Tutancâmon.
É nesse terreno fértil em descobertas históricas que começa a viagem de 5 mil anos pela história das civilizações peruanas. Entre as cidades de Trujillo e Chiclayo, os povos chamados pré-incas, como os mochicas, os lambayques e os chimús, construíram grandes templos, pirâmides e cidades de barro, legados de sua força, sabedoria e organização.
É bem verdade que essas culturas estão longe de competir com a fama do Império Inca – e de receber parte dos 700 mil turistas que visitam Machu Picchu todos os anos -, apesar de terem vivido séculos antes e sobrevivido por muito mais tempo. Também, pudera. Enquanto a cidadela de pedra dos incas, que recentemente mereceu o título de maravilha moderna do mundo, é conhecida desde 1911, os tesouros do norte ainda estão sendo desvendados. O Senhor de Sipán, por exemplo, só foi encontrado em 1987.
Mas são exatamente as diferenças culturais (e temporais) entre os povos que inspiram um roteiro arqueológico completo, de norte a sul. Cuzco, outrora capital do Império Inca, foi reerguida pelos espanhóis sobre os muros de pedra dos palácios incaicos. Machu Picchu revela a estratégia militar dessa civilização e mostra mais da arquitetura inconfundível: toneladas de pedras formando praças, fortalezas e até terraços agrícolas.
Já na paisagem desértica da costa norte, templos, pirâmides e tumbas de adobe evidenciam as concepções sobre vida, mundo e homem das culturas pré-incaicas. Esses povos viviam sob forte conotação política e religiosa e eram adoradores da natureza. A proximidade do Oceano Pacífico foi fundamental para seu desenvolvimento. Em contrapartida, o clima seco contribuiu para a preservação de muitos sítios arqueológicos da região.
Dificuldades
A costa norte peruana se consolida como destino turístico à medida que as escavações revelam descobertas. Mas a falta de recursos e a ajuda limitada do governo impede que muitas dessas riquezas sejam vistas pelos turistas. Faltam museus para expor tudo o que os arqueólogos desenterram do passado.
Pode-se dizer, aliás, que a tumba do Senhor de Sipán é um marco para a arqueologia no Peru. “Antes não havia estrutura nem reconhecimento do nosso trabalho”, conta o arqueólogo Luís Chero Zurita, um dos responsáveis pelo sítio Huaca Rajada, onde o senhor foi achado.
Durante a viagem arqueológica, prepare-se para ver ruínas de templos que ainda permanecem sob milhares de anos de sedimentação. Ou mesmo acompanhar de perto as escavações à procura de novas relíquias da história.
As últimas novidades mostram que o esforço está valendo a pena. Em novembro do ano passado, foi descoberto perto de Chiclayo um templo de 6 mil anos, que pode ser o mais antigo da América. Enquanto isso no Huaca Rajada, uma nova tumba foi aberta e revelou a existência de um outro líder da dinastia do Senhor de Sipán (leia mais abaixo). A cada ano, o turismo arqueológico no país ganha credibilidade. E, ao que parece, ainda há muito por descobrir.
Fonte: http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup116769,0.htm
.
●●● Gostou? Então Curta nossa página no Facebook.
●●● Seja amigo do autor do site no Facebook, e esteja sempre antenado em assuntos interesantes como este.