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Pirâmide não é magia. É Tecnologia!

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Trabalho com o Mármore

Posted by luxcuritiba em abril 20, 2008

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Quando o arqueólogo Sir Flinders Petrie levou para o Egito um equipamento completo de teodolitos de alta precisão, níveis óticos, calibres micrométricos e goniômetros adaptados aos ângulos de 90º, 51º50′ e 26º20′, com a intenção de medir exaustivamente os monumentos, as câmaras e os sarcófagos, causou surpresa aos colegas; e na introdução da obra “The Pyramids and Temples of Gizeh” julgou-se obrigado a explicar a razão da extrema precisão das medidas, esclarecendo que a função do cientista deve desempenhar-se sempre com a maior precisão possível. Muito depois (1925), os arqueólogos Borchardt(14) e Cole(24) com a colaboração de “Survey of Egypt”, resolveram localizar novas medições porque consideravam não terem as de Petrie precisão suficiente.

Como se sabe, Petrie foi um dos grandes metrólogos da história da Arqueologia e devemos ao seu trabalho incomparável a maior parte do que hoje sabemos a respeito da Metrologia e da Micrometria dos antigos egípcios. Como salienta com admiração o próprio Petrie(90) no sarcófago de Sesóstris II em Illahum, a precisão das medidas, determinada pelo paralelismo das arestas, alcança o limite das realizações modernas: Num comprimento de 2,70m os erros médios de paralelismo das arestas estão abaixo de 0,17mm, ou seja, 0,06mm por metro. Como Petrie avalia (em “Wisdom of the Egyptians”) a curvatura dos planos em menos de 0,05mm, podemos calcular o erro angular em 10″. Levando em conta que estas tolerâncias correspondem a médias gerais, podemos considerar este sarcófago como “normalizado” para 0,03mm/metro. No sarcófago de Quéfren o erro médio é da ordem de 0,02mm/metro, o que também representa excelente trabalho micrométrico. O erro no sarcófago de Queops é um pouco maior – da ordem de 1mm/metro, mas não se deve esquecer que este sarcófago está somente serrado, sem ter recebido o polimento final, de sorte que, tecnologicamente, representa uma façanha comparável ao ajustamento conseguido no sarcófago de polimento brilhante de Quéfren ou o fosco caprichosamente polido, em granito cor-de-rosa, do de Sesóstris II.

Contudo, como realização tecnológica de alta precisão não existe no mundo inteiro nada que iguale o revestimento de calcário da Grande Pirâmide. As análises realizadas por Petrie(88) nos blocos dessa rocha, colocados em posição na face Norte da pirâmide, revelam que tais blocos,pesando 16 toneladas, com superfícies planas de até 3 metros quadrados, mostram um paralelismo ao longo das arestas de 1,90m da ordem de 0,05mm por metro. Os blocos que se acham justapostos com a aproximação de 0,05mm (isto é, em contato íntimo) e a abertura média da junta é da ordem de 0,5mm. Conforme Petrie observa, colocar em posição blocos de tal peso e tal superfície constitui já, por si, uma empresa delicada mas fazê-lo pondo cimento nas juntas parece impossível. Não se observam no chão da pirâmide arranhões que indiquem arrastamento dos blocos, nem mesmo nos blocos pontos de engate para cordas ou gruas. O cimento utilizado era o gesso, de adesão rápida, com que se formula um problema analisado por outros técnicos (Clarke), de solução impossível. A colocação dos blocos de revestimento apresenta-se, portanto, como outra tarefa egípcia misteriosa, de realização impossível para nós.

Contudo, os estudos de Petrie revelam outro problema quanto à colocação dos blocos de revestimento que, conforme diz, deviam ter sido trazidos ao lugar de dentro para fora. Entretanto, esta solução que resolvia muitos problemas de colocação implicaria em começar a construção da pirâmide colocando-se primeiramente os blocos exteriores em posição, passando-se depois a colocar os blocos internos de granito encostados aos primeiros. De outro modo, argumenta Petrie(88), não é possível explicar que as faces exteriores dos blocos formem uma linha reta de 230m de comprimento, na qual não houve qualquer correção ou retoque posterior – conforme provam os ângulos retos exatos, que constituem os diedros dos blocos calcários. Em outras palavras, os blocos deviam receber um tratamento ulterior no canteiro em que, talhados cuidadosamente, passaram a formar uma linha reta sobre o pavimento, perfeitamente polido, escavado na rocha da meseta de Gizé. A construção com blocos pré-fabricados de uma linha reta de 230m de comprimento pressupõe um controle dos ângulos da ordem de segundo de erro. Como os diedros dos blocos apresentam este grau de exatidão, nada mais nos resta senão admiti-lo assim.

A colocação dos blocos de revestimento da Grande Pirâmide recai de tal modo na complexidade do problema de construção das pirâmide, que falta muito para se resolver, apesar do empenho de arqueólogos e técnicos que chegaram até a construir uma “pirâmide-piloto”(28) procurando resolver este enigma pré-histórico.

Com relação ao problema da fabricação dos blocos, conhecem-se os processo modernos para o preparo de “superfícies planas” e “diedros retos” que permitem se obter um padrão de comparação mediante correções sucessivas. No processo de Withworth pulveriza-se a superfície por meio de contato com azul-da-prússia de modo a obter, por meio de duas cópias sucessivas, uma superfície fac-símile da primeira que, em seguida, se compara com a outra para continuar, mediante etapas sucessivas de polimento, até a obtenção de ângulos e superfícies com a exatidão necessária.

É possível que os egípcios tenham aplicado este processo para a obtenção dos blocos de revestimento, mas tal técnica não se pode aplicar para obter planos e ângulos dos sarcófagos, sobretudo no sarcófago complexo de inúmeras facetas de arestas cortadas em bisel de Illahum. Em tais casos teriam de lançar mão de um polimento direto com um controle instrumental permanente. A técnica moderna emprega, para trabalhos deste tipo, um controle com o interferômetro.

Para a obtenção de ângulos com 10″ de tolerância, torna-se necessário lançar mão de goniômetros especiais. Empregando o teodolito não é possível chegar a essa exatidão na medição de diedros sólidos, sendo indispensáveis microscópios de autocolimação. Petrie, por exemplo, levou para o Egito dispositivos óticos especiais para a medição de ângulos, mas o erro instrumental era maior que o erro angular dos blocos de revestimento, tendo de contentar-se com as medidas do paralelismo, que os calibres lhe forneciam, e a curvatura das faces.

Fosse qual fosse a maneira pela qual procederam, o que fica fora de qualquer dúvida é terem conseguido um resultado altamente satisfatório mesmo para a nossa época. Assim, por exemplo, para os melhores “esquadros normalizados”, produzidos pela indústria moderna (Norma DIN 875), admitem-se erros de 0,03mm/metros – em coincidência notável com os erros angulares e o paralelismo das obras egípcias de precisão*.

Neste estudo, torna-se fundamental distinguir o alcance dos instrumentos e os erros que ofrece o objeto elaborado com o auxílio deles. Assim, por exemplo, o microscópio foto-elétrico moderno permite medir padrões de comprimento com um erro menor que 0,000001mm por metro, mas este invento notável não modificará as normas da óptica e do preparo de matrizes. Um erro normalizado de 10″ de arco indica que o instrumento de controle media com erro não maior que 5″. Levando em conta que os melhores instrumentos não-ópticos medem com erros de mais de 300″, demonstra-se, como se fosse um teorema, que os egípcios deviam possuir instrumentos ópticos e, além disso, de alta precisão, visto como a luneta de autocolimação corrente, por exemplo, dá erros da ordem de 5″(115).

Determina-se o normalizado principalmente devido a considerações econômicas de fabricação. Assim, por exemplo, levando em conta o preço atual aproximado de 500 dólares por metro quadrado de “mármore de ajustamento”, com normalizado-tipo da Grande Pirâmide podemos calcular o custo total dos 25.000 blocos de revestimento calcário em uns 500 milhões de dólares. Se se fixasse a norma de tolerância em 3″, o custo elevaria a um bilhão.

Neste caso, o aspecto econômico é fundamental. Pretender, conforme se faz geralmente, que tais considerações não deveriam preocupar os egípcios, devido à barateza da mão-de-obra, importaria em ignorar que o trabalho dessa natureza exige mão-de-obra especializada que, em época alguma, foi motivo de improvisação. Torna-se evidente, portanto, que os egípcios da IV Dinastia deviam possuir enormes institutos tecnológicos nos quais preparavam os milhares de especialistas necessários. E embora a arqueologia atual desconheça em absoluto tudo isso, o argumento tecnológico é decisivo neste caso. Assim se explicaria esse outro mistério egípcio da evolução tecnológica da I à IV Dinastia, embora o instrumental necessário já fosse conhecido dos artífices da I Dinastia. A criação  das organizações e o preparo da mão-de-obra especializada poderia exigir os três séculos assinalados por essa evolução.

Não acredito que, no mundo atual, fosse possível reunir o número de operários especializados nesse gênero de trabalho capazes de enfrentar com êxito o polimento e o revestimento exterior da Grande Pirâmide. Observando que na óptica e no preparo de matrizes não são os sólidos de revolução os objetos mais difíceis – parabolóides e esferas – mas os paralelepípedos e prisma, o preparo de um dos blocos de revestimento (de 20m2 de superfície) equivalente ao polimento do espelho do telescópio do Monte Palomar (EUA). A televisão e o cinema difundiram amplamente os detalhes desse empreendimento ciclópico que exigiu mais de cinco anos de esforços continuados. A fim de compreender a magnitude da obra egípcia, bastará observar que prepararam 25.000 desses blocos. Haviam conseguido no ano 2500 a.C. a produção em massa de instrumentos ópticos que a indústria moderna só produz em escala artesanal.

Devemos lamentar a destruição desse revestimento de mármore que a Grande Pirâmide possuía outrora, pois não só nos priva do prazer estético de contemplá-lo mas igualmente da posse de uma obra que podemos, seguramente, considerar a maior criação da tecnologia humana. Tem-se de lamentar também a destruição desses planos perfeitos, de quase dez hectares de superfície, pois temos a certeza de que a sua presença, por si só, teria convencido, tanto os leigos como os arqueólogos, da excelência técnica dos construtores, a qual devemos inferir a partir dos poucos blocos que ainda restam no lugar na face Norte da Pirâmide.

Resta determinar o objetivo perseguido por esse esforço enorme da tecnologia de precisão, que triplicou o custo total da Pirâmide. Poderia ser finalidade religiosa, esportiva ou científica? Tê-la-iam feito sem qualquer finalidade? Podemos formular muitas perguntas como esta que não encontram resposta fácil. De concreto é terem-na feito, criando assim uma estrutura que, apesar de quase destruída, ainda hoje nos permite medir – com a aproximação da melhor topografia – uma altura que talvez seja o valor mais exato da distância ao Sol determinada até agora (Veja-se “A Altura da Pirâmide”).

O preparo dos blocos de revestimento da Grande Pirâmide confronta-nos com um problema sui generis somente comparável, na época moderna, ao que chamamos “produção em massa” de instrumentos ópticos. A realização de semelhante trabalho, conforme sabemos, pressupõe certas premissas de execução como possuir dispositivos padronizados, bem como um profundo sentimento de organização industrial. Nada sabemos das técnicas empregadas, mas os resultados alcançados obrigam a reconhecer neles uma eficiência somente comparável à da época moderna. Nenhuma outra época histórica realizou trabalhos dessa natureza, pelo que devemos considerar seriamente o que semelhante realização implica no domínio da Mecânica, da Óptica e da Geometria, bem como no que entende com o objetivo visado pela realização dessa precisão excepcional.

A realização atual de obra semelhante ao revestimento da Grande Pirâmide exigiria um esforço técnico que poria à prova a capacidade de nossa era científica. Os técnicos capazes de realizar semelhante trabalho nos alvores da história devem merecer a nossa admiração mais sincera.

Notas:

* Um estrutura prismática com a tolerância de +- 0,03mm por metro no paralelismo das arestas e a curvatura – em planos de 3m2 – de 0,05mm corresponde ao que modernamente se denomina de “óptica de precisão”. A “óptica comercial” admite valores dez vezes maiores.

Para o controle das superfícies planas, utilizam-se na óptica de precisão, as figuras de interferência obtidas por meio de “Vidros-padrão”. Para as grandes superfícies, o processo é embaraçoso, em virtude dos desgastes que sofrem os vidros-padrão, a necessidade de ausência total de pó e o controle exigido para a temperatura, visto bastar o calor da mão para produzir deformações perceptíveis nas figuras de interferência. Por estes motivos preferem-se, para o controle de superfícies amplas, as “lâminas normais” que, mediante o emprego da luz de mercúrio, produzem figuras de interferência sem entrarem em contato com a superfície em estudo.

É possível que os técnicos egípcios tenham controlado as “superfícies normalizadas” como o emprego de “vidro-padrão” ou qualquer outro processo equivalente, dada a simplicidade desta técnica. Quanto às medições angulares, o emprego de “ângulos-padrão” permite um método de controle capaz para o ajustamento à escola da óptica d precisão.

Fonte: O enigma das pirâmides, J. Alvarez Lopes, editora Hemus, 1978, pp. 87-92.

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As 8 faces da pirâmide e O Relâmpago de Pochan

Posted by luxcuritiba em abril 20, 2008

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Petrie já havia observado que a face Sul da Grande Pirâmide apresentava uma anomalia inexplicável, pois a linha demarcatória da base tinha uma entrada de 94cm no centro. Levando-se em conta que a linha reta que constitui os outros lados não apresentava erros maiores que 3mm, estes 94cm implicavam num propósito perfeitamente definido. Petrie, entretanto, não pôde encontrar a explicação desta aparente irregularidade.

Coube a outro piramidólogo (A. Pochan) encontrar a explicação. Trata-se de um fenômeno observável em nossos dias – apesar da atual deterioração das faces da pirâmide – em todos os dias de equinócio ao pôr do sol, quando uma metade da face Sul encontra-se iluminada e a outra metade escura. Pochan apresenta em seu livro uma fotografia feita pela Royal Air Force às 18 horas de um dia de equinócio, momento em que este fenômeno torna-se claramente visível. Pochan qualifica esta fotografia como “extraordinária”, e não é para menos, pois ela permite que se observe hoje (5.000 anos depois) este sutil fenômeno que acontece unicamente nos dias de equinócio – isto é, conforme os anos, em 21 de setembro e 21 de março, quando o sol passa, no seu desvio anual, pelo plano equatorial.

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A análise do fenômeno – que tem a duração de 20 segundos – é extremamente importante do ponto de vista da análise tecnológica da goniometria piramidal, pois seria absurdo pensar que esta divisão do plano piramidal pelo meio fosse devida a um acidente fortuito acontecido durante a construção. Impõe-se aqui o propósito deliberado com a força de sua própria naturalidade e mostra a notável capacidade de levantamento goniométrico daqueles agrimensores, sempre que o ângulo formado pelos dois planos mede 27′ de arco. Além da capacidade construtiva que permite modelar, nesta ordem de medidas, uma superfície de quase quatro hectares (superfície de triângulos laterais da Grande Pirâmide), ressalta o fato de que o movimento do sol no equinócio corresponde a 23′ de arco a cada 24 horas. Este notável ajuste angular faz com que o fenômeno possa ser observado unicamente nos dias de equinócio – que foi o efeito buscado deliberadamente e com precisão pelos seus criadores.

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Os povos antigos (gregos, romanos, orientais, americanos) mediam a duração do ano observando o momento em que a sombra de um pilar retrocedia no solstício. Plínio conta, a esse respeito, que Otávio Augusto utilizava para este fim o obelisco do Campo de Marte. Mas nem o matemático Manilio, que desenvolveu o dispositivo de Augusto, nem um astrônomo sequer do mundo antigo podia medir a duração do ano através da observação da sombra do equinócio. A Grande Pirâmide sempre ofereceu esta possibilidade; e é de se notar que, nos tempos em que seu magnífico revestimento de mármore amarelo encontrava-se intacto, devia ser um espetáculo impressionante observar, no por do sol do equinócio, sua face Sul dividida em duas metades: uma com um dourado brilhante e a outra já imersa nas sombras da noite. Assim mesmo, deve-se observar a ausência de referências a respeito desta peculiaridade tão notável nos textos dos cronistas antigos.

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A análise do fenômeno permite, também, a observação de que o movimento dos continentes e as anomalias geodésicas produzidas nos últimos cinco mil anos não o afetaram. Pelo que podemos deduzir de análises já mencionadas, o deslocamento do continente africano em dois mil metros com relação ao paralelo 30 N, sua movimentação de 5’31” de Leste para Oeste e a inclinação da meseta de Gizé em 8′ com relação à horizontal atual são as irregularidades geodésicas detectáveis produzidas desde a data da construção do monumento. Entretanto, toda esta distorção geodésica é insuficiente para modificar a reprodução de dois em dois anos. A anomalia mais importante – a movimentação de 5’31” – foi, por outro lado, absorvida pelo excesso de 4′ na curvatura dos planos da face Sul.

O relâmpago de Pochan é uma prova conclusiva dos conhecimentos goniométricos e astronômicos dos antigos construtores, assim como das intenções científicas vinculadas à construção do monumento. Referindo-se a isto Pochan disse: “Como vemos, o conhecimento astronômico dos antigos egípcios era bastante superior ao que lhes é atribuído pelos arqueólogos modernos”.

Fonte: O enigma das pirâmides, J. Alvarez Lopes, editora Hemus, 1978, pp. 108-110.

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A Altura da Pirâmide

Posted by luxcuritiba em abril 20, 2008

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Quando, na Parte II, estudamos os aspectos tecnológicos do entalhe do revestimento de mármore que outrora recobria a Grande Pirâmide, estabelecemos uma comparação entre a “opera magna” da moderna tecnologia de precisão – o espelho do telescópio do Monte Palomar – e os 25.000 primas ópticos de 16 toneladas do revestimento, cada um dos quais representava, por si só, uma tarefa de entalhe óptico equivalente ao polimento do famoso espelho.

Esta imensa tarefa de micrometria – de acordo com a exatidão dos planos de cada unidade e à ajustada correlação mútua observada por Petrie – devia produzir quatro espelhos planos de precisão óptica de 1,7 hectares de superfície cada um. Se tal obra não tivesse sido destruída, a pirâmide seria hoje um “instrumento óptico” monumental – algo inimaginável mesmo para os ópticos da Era Cósmica.

Não pareceu oportuna naquela ocasião analisar a possível finalidade de uma obra de tanto fôlego, mas pareceu claro que nenhum objetivo importante presidiu à execução de uma tarefa que triplicou o custo total da pirâmide.

Depois do já visto sobre o significado metrológico da pirâmide e sua vinculação à estrutura geodésica e astronômica, resulta de certo modo evidente que a altura da pirâmide não foi uma magnitude qualquer senão, precisamente, um comprimento que em escala decimal representava a distância ao Sol. Aceita esta hipótese, que as análises anteriores tornam muito plausível, o minucioso esforço de precisão que deveu desenvolver-se em toda a largura e profundidade do revestimento se cristaliza no único objetivo da determinação, com a máxima exatidão possível, da Unidade Fundamental da astronomia, que ainda hoje continua sendo a distância do Sol.

Perfeitamente justificada, por nossos modernos conceitos científicos, a façanha tecnológica executada pelos antigos, se faz evidente que sua correta interpretação dependerá do ajuste entre os dois fatores fundamentais envolvidos pelo problema: 1) a verdadeira distância ao Sol; 2) a verdadeira altura da pirâmide.

Com relação ao primeiro, convirá recordar que existem três maneiras de interpretar a “verdadeira” distância ao Sol. Uma delas corresponde à menor distância ao Sol (periélio); outra, à maior distância ao Sol (afélio); a terceira, é a média, ou seja, o raio maior da elipse, chamado também a Unidade Astronômica. Já víramos que dada a equivalência das três definições, do ponto de vista astronômico, razões construtivas faziam aconselhável indicar o valor do periélio na altura da pirâmide.

As medições astronômicas mais recentes correspondem à aproximação de Eros (1º de janeiro de 1931), ocasião em que a moderna astronomia pôs em jogo todos os seus recursos para a obtenção de 2.800 chapas fotográficas, tiradas através de 20 telescópios de diversos países, e o rigoroso cálculo ortocromático da luz das estrelas localizadas sobre a trajetória do planetóide, com o fito de obter uma correção precisa da refração atmosférica. Dez anos de cálculo permitiram, por volta de 1942, a obtenção da moderna cifra de 149,670 x 10^6 km, considerado até há pouco como o valor mais provável da distância média do Sol.

Pelo plano de 1959, Price e Gunn, utilizando o radar, determinaram a distância de Vênus, o que importou em uma correção da U.A. que Herrick, Westrom e Makemson (9) avaliaram em:

(149,470 +/- 0,001) x 10^6 km

considerando-se na atualidade que o método de microondas nos dá valores mais exatos que as determinações astronômicas.

Quanto aos valores mais antigos, convém mencionar o aceito por volta do ano de 1900, que era de 152,00 x 10^6 km, e o utilizado até a véspera do acontecimento de 1931, que era de 149,43 x 10^6 km. Com o auxílio do valor da excentricidade da eclíptica (e = 0,0167), podemos calcular os valores de periélio que aparecem na Tabela VI.

Quanto à verdadeira altura da pirâmide, ela foi calculada por Borchardt (14) e Cole (24) com o auxílio da “Survey of Egypt”, e estimada em 146,595 metros. Baseia-se este cálculo no valor médio dos quatro lados da pirâmide e na aceitação como inclinação das faces da pirâmide, do valor 22/7 pi (primeiro número de Arquimedes).

A interpretação do autor para a altura da pirâmide difere da de Borchardt-Cole em apenas 3mm. Aceita o valor da inclinação, correspondente a 22/7, mas utiliza a média dos três lados, norte, sul, e oeste, que difere apenas em 3mm do valor do lado oeste. Quanto ao lado leste, já vimos (cf. A Mensuração, Cap. III) que sua inclinação permitia determinar o valor do “erro” admitido pelos construtores, em seu cálculo da distância ao Sol. Este procedimento, que nos é familiar depois do estudo da Câmara do Rei, nos permite escrever, para o comprimento do lado da base: L = (230,355 +/- 0,100)m. Daqui, podemos calcular uma altura da pirâmide que nos dá, para a distância do Sol:

R = (146,592 +/- 0,05) x 10^6 km

onde se deve destacar o exagerado valor do erro aceito, que contrasta com os exíguos valores da determinação por radar. Isto é, repetição de uma situação que já víramos a propósito dos erros de massa admitidos para as determinações da Câmara do Rei.

Como era de se esperar, na expressão da distância do Sol, não esqueceram os antigos astrônomos de indicar o erro possível. E isto é muito importante, pois “uma medida tem sentido só quando se pode avaliar de uma ou outra forma o erro de que está afetada”.

Com isto, fica suficientemente esclarecido o misterioso objetivo perseguido com a extrema precisão do revestimento da Grande Pirâmide; resta como problema, resolver se aquelas antigas medidas impõem uma revisão de nossos cálculos modernos, ou indicam uma modificação nas dimensões da eclíptica.

TABELA VII
Distância ao Sol (periélio)
(km x 10^6)
Ano    1900    149,46
Ano    1930    146,93
Ano    1940    147,17
Ano    1960    146,97
Egito    –    146,60

Mas, à parte o objetivo puramente científico de indicar a distância do Sol com a máxima exatidão, também esteve presente na magna tarefa uma intenção artística. Podemos nos convencer, apenas imaginando a esplendorosa beleza daquela gema, talhada em octaedro por um Titã, que fulgurava qual ouro brunido, sob os raios do Sol.

Quem, mais indicado que seu próprios autores para descrevê-la? O poeta-astrônomo viu-a como “tendo a glória do Sol, e sua luz como a mais preciosa pedra, assim como uma pedra de jaspe, clara como um cristal”.

Fonte: O enigma das pirâmides, J. Alvarez Lopes, editora Hemus, 1978, pp. 193-196.

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A Pirâmide de Quéfren

Posted by luxcuritiba em abril 20, 2008

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CAPÍTULO II

É pouco o que sabemos sobre a pirâmide de Quéfren. Os autores antigos quase não aludiram à segunda pirâmide de Gizé e os arqueólogos lhe prestaram muito pouca atenção.

Vimos que Heródoto diz, no capítulo dedicado a Euterpe, de seus “Nove Livros de História”, que os sacerdotes egípcios “queriam ignorar o nome dos construtores das pirâmides”, e por isso as designavam genericamente como “as pirâmides do pastor Filitis”.

Apesar desta assertiva, narra Heródoto a lenda de Queops, Quéfren e Miquerinos, que teriam construído as três pirâmides, submetendo o povo a brutais sacrifícios, chegando o primeiro deles até a prostituir sua filha para obter fundos adicionais.

Estas referências de Heródoto podem ser consideradas como puramente lendárias, já que não tiveram posterior confirmação arqueológica.

É importante sublinhar a afirmação de Heródoto de que a pirâmide de Quéfren não tem dispositivos subterrâneos; é prova de que o acesso à pirâmide de Queops estava aberto naqueles dias, não estando, por conseguinte, o acesso à de Quéfren. De certo modo, a situação se mantém hoje no Egito, pois a entrada à pirâmide de Queops é livre para todos os turistas, mas não à pirâmide de Quéfren – fechada com corrente e cadeado – e para cuja inspeção se necessita de autorização ministerial.

De qualquer modo que fosse, pouco é o que se esclarece com referência à Segunda Pirâmide segundo as descrições dos historiadores clássicos. Quiçá mais ilustrativos sejam neste aspecto os cronistas árabes. Com relação à primeira pirâmide (ou Pirâmide de Queops; ou Oriental; ou Grande Pirâmide), diz Akbar Ezzeman (Bodleian Library; Oxford): “Na pirâmide oriental foram inscritas as esferas celestes e as cifras representativas das estrelas e dos planetas”. Outro importante manuscrito árabe (Macrisi) completa esta citação com esta breve e importante referência: “A primeira pirâmide foi consagrada à astronomia, e à história; a segunda, à medicina”.

Relativamente a pormenores construtivos, cabe observar que a Segunda Pirâmide é de confecção inferior à da Grande Pirâmide. Disto resultou a parcial sobrevivência, na parte superior, do revestimento calcário. Como é sabido, as três grandes pirâmides de Gizé possuíam quatro faces espetaculares, formadas por cunhas de mármore inseridas sobre os degraus de granito, de modo a formar uma parede completamente lisa. As pirâmides apresentam o aspecto desolado de nossos dias por terem sido arrancados os primitivos blocos do revestimento, que no caso das duas pirâmides de Gizé pesavam umas dezesseis toneladas cada, e totalizavam cerca de 25 mil blocos. É do conhecimento dos arqueólogos (Petrie; Edwards; Clarke) que cada um destes blocos estava talhado e polido em obediência às mais estritas exigências da indústria óptica moderna e, que no caso da de Queops, cada um dos 25 mil blocos era por si mesmo uma obra de fôlego semelhante à do telescópio do Monte Palomar (Califórnia, EUA).

Na pirâmide de Queops, os poucos blocos conservados em sua posição original se salvaram de sua depredação por estarem, desde tempos imemoriais, sepultados sob as dunas da face norte, o que também preservou-os da erosão, podendo hoje ser objeto de estudo científico de alta precisão. Na pirâmide de Quéfren, os blocos, que lhe dão seu aspecto característico na parte inferior, salvaram-se de ser convertidos em cal, precisamente pela má construção dessa pirâmide, cujos blocos de pequeno peso não estão sequer imbricados uns nos outros (como os ossos parietais, de modo que, na “Galeria Ascendente”, a junta aparece como traçada por um lápis de ponta fina), o que determinou desabamentos parciais da edificação, que impediram subir, para saquear os blocos de mármore.

Sem dúvida, o embasamento é de boa construção, e assim como em Queops, está recortado no mármore da meseta. Com estas partes do alicerce e pavimento exterior da Segunda Pirâmide se conservam em bom estado, pôde-se determinar a orientação azimutal até o segundo de arco. Petrie dá os valores comparativos, para as pirâmides de Queops e Quéfren, dos dados azimutais que podem ser apreciados na tabela II (pág. 105). Na citada tabela, pode-se observar que tanto a pirâmide de Queops como a de Quéfren se encontram desviadas ao Oeste do Norte por um ângulo de 5’31”, o que implica que o erro de posicionamento das duas pirâmides é da ordem do segundo de arco. Quer dizer, esta parte da tarefa de construção indica a posse de instrumentos de precisão tão eficazes como os modernos. Um teodolito geodésico dá erros da ordem do segundo, que é necessário interpolar – com o ajuste da curva de Gauss – para a obtenção de erros abaixo do segundo de arco. Sobre os teodolitos de agrimensura, nem é preciso fazer comentários. O paralelismo destas duas direções é prova concreta do movimento do pólo. Não tendo nós possuído a indicação da pirâmide de Quéfren, os arqueólogos atribuíram um erro de 5’31’ na orientação do meridiano indicado pela pirâmide de Queops, aos “necessários” erros dos antigos construtores. Dada a extraordinária precisão dos valores observados, a hipótese mais aceitável é que esta antiga agrimensura se efetuou com dispositivos de microondas (“Maser”, e seus equivalentes) (Cf. “Goniometria”, pág. 101 item Cf. “Apêndice”: “Análise estatística da goniometria egípcia”).

A entrada da Segunda Pirâmide se encontra na face Norte, e ao nível da areia do deserto na atualidade. O acesso se efetua por uma galeria estreita, pela qual é necessário descer com o auxílio das mãos. No término do primeiro lance, inverte-se o sentido da galeria, que, sem deixar de descer, chega à câmara do Belzoni, assim chamada por ter sido o arqueólogo italiano o primeiro a descer por ela, na época moderna. Uma inscrição com alcatrão na parede da câmara testifica em italiano: “Eu, Belzoni, fui o primeiro homem que entrou nesta câmara. 1818”.

A reversão do segundo lance da galeria de descida apresenta um certo perigo, pois é necessário deixar-se cair de vários metros de altura. É uma pequena artimanha dos antigos construtores egípcios. No interior da câmara, o ar é seco, e a temperatura elevada, o que prova a excelente ventilação desta pirâmide – semelhante à de Queops.

Para o lado ocidental da câmara, encontra-se o sarcófago, que Belzoni encontrou destampado, dispersos pela câmara os restos de sua tampa. Neles encontrou Perring vestígios de resina dos primitivos lacres. Como em outros sarcófagos, a tampa deslizava sobre guias.

Quando visitei esta pirâmide, em 1962, constatei que o sarcófago jazia arrombado ao lado de um fosso cavado no piso da câmara. A explicação desta desordem, é que primitivamente o sarcófago esteve enterrado ao nível do solo da câmara, e os arqueólogos o desenterraram na busca de tesouros que poderiam haver sob ele. É lamentável a falta de respeito por estas antiquíssimas e valiosas estruturas, inexplicável em homens dedicados ao estudo da arqueologia. A este respeito é oportuno recordar que quando Petrie levantou com gruas – para estudos metrológicos – o sarcófago de Queops, marcou com giz a posição primitiva (88) a fim de voltar a colocá-lo em seu lugar exato.

As dimensões exteriores da pirâmide de Quéfren (88) são, em metros egípcios (= Metro Absoluto):

Altura        136,69
Base        205,62
Ângulo        53º10′

As medidas da Câmara de Belzoni, em côvados egípcios:

1º comprimento        20,00
2º comprimento        7,00
Profundidade        9,50
1ª altura        10,00
2ª altura        12,00

Estas são as medidas com precisão até o centímetro e, como se pode ver, são “números redondos”. As duas alturas referem-se a que a câmara tem o teto de duas águas.

As seguintes, são as medidas interiores do sarcófago, em côvados egípcios:

Largura        4,0000
Profundidade    1,2600
Altura        1,3969

A grande precisão destas medidas deve-se à exatidão do polimento deste sarcófago, que conjuntamente com o de Illahum é uma amostra do entalhe de precisão egípcio que chegava ao normalizado, de nossas modernas normas ópticas.

Assim como o Capítulo XXI do Apocalipse está dedicado à interpretação metrológica da Grande Pirâmide, o Capítulo XI se refere à Pirâmide de Quéfren. Por ora – dados os escassos conhecimentos biológicos atingidos por nossa civilização – o citado texto do Apocalípse nos resulta impenetrável, pelo qual limitar-me-ei a citar a parte metrológica que, como o leitor poderá verificar, guarda estreita relação com o Capítulo XXI, onde também há alusão ao Metro Absoluto (“medida de uma cana de ouro para medir a cidade, e suas portas, e seu muro”). Começa assim:

“1) E me foi dada uma cana semelhante a uma vara, e disse-me: Levanta-te e mede o Templo de Deus, e o altar, e aos que adoram nele.

2) E deixa de lado o pátio que está fora do templo, e não o meças, porque está entregue aos gentios, que pisarão a cidade santa durante quarenta e dois meses.

3) E darei às minhas duas testemunhas, e eles profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, cobertos de saco.”

Começarei por observar que a interpretação desse capítulo mal está em seu começo, de modo que não poderemos fazer uma elucidação tão completa quanto a que conseguimos para o Capítulo XXI; o qual foi interpretado em sua totalidade com perfeita congruência e clareza. Aqui, o mais que podemos fazer é alguma tentativa de interpretação sobre base hipotética, de que esta pirâmide está dedicada à medicina, e que o Capítulo XI do Apocalipse se refere a ela.

O que trabalha na interpretação de um texto antigo deve fazer toda classe de hipóteses e submetê-las a provas de congruência.

Logicamente, quem realiza a tarefa tem a vantagem de estar mais familiarizado com a mesma, mas por sua vez, corre o risco de deixar-se levar demasiado longe pelo entusiasmo de suas próprias interpretações. Por isso, quero sublinhar, não comprometo nesta interpretação minha opinião pessoa, porém simplesmente realizo um ensaio que exigirá ulteriores e prolongados estudos; mas a importância da tarefa não escapará a ninguém que pense que tenho constatado a exatidão da indicação de que a pirâmide oriental estava dedicada à astronomia, há uma grande probabilidade de que, efetivamente, a ocidental o esteja à medicina. Mais ainda, se temos em conta o grau superlativo de desenvolvimento astronômico ali encontrado, devemos pensar que uma tal medida estará muito acima de tudo o que sabemos a respeito, dado o atraso das ciências biológicas desenvolvidas por nossa civilização. Fica assim justificada a necessidade deste intento.

Com o objetivo de sublinhar a congruência da interpretação que aqui ofereço, quero recordar que por volta do ano de 1955, já tinha realizado esta interpretação do Capítulo XI do Apocalípse, e havia deduzido que, possivelmente, nas dimensões do sarcófago de Quéfren estivera inscrito o número 1260. O fato de que o texto apocalíptico nos dá o número 1260 também em meses (quarenta e dois meses ou 1260 dias), apenas destacava a importância deste período de tempo. Conhecia, ademais, a incidência vital dos ciclos de 3,5 e 6,5 anos – assinalados pelo grande biólogo Julian Huxley e considerada por ele como um dos mistérios da biologia, já que estes dois ciclos regulam a evolução da vida sobre a terra. Segundo o referido autor, este ciclos foram obtidos de diversas análises estatísticas relacionadas com fenômenos biológicos e, particularmente, das estatísticas da “Companhia de Peles do Canadá”, que tem arquivos de vários séculos, onde se registra a quantidade de peles de cada ano. De imediato, das estatísticas da companhia, destacava-se a incidência do conhecido “Ciclo de Wolf” das manchas solares, de uma duração de onze anos. Mas os outros dois ciclos – que regem desde as migrações do lemingue e outros roedores até as migrações de peixes e aves, e desde a produção agrícola-graneleira até a ocorrência das epidemias – constituem um absoluto mistério quanto à sua origem e quanto à sua significação.

De qualquer modo, um ciclo de 1260 dias está muito próximo a um ciclo de 3,5 anos (exatamente 3,46 anos) e poderia ver-se nisto a relação entre a pirâmide de Quéfren e a medicina. Em tal caso, tratar-se-ia de ciclos de importância para a saúde humana. Talvez, ajustando-se a eles, poder-se-ia obter saúde e longevidade.

Dada a importância da questão, escrevi a funcionários do governo egípcio, uma carta redigida em árabe pelo professor Guraieb, solicitando dados sobre esta segunda pirâmide. Estes funcionários não responderam à carta. Depois, pude constatar pessoalmente no Egito que o tema das pirâmides não interessa ali a ninguém e que, inclusive, a maioria dos habitantes do Cairo nunca visitou as pirâmides. Era lógico que não houvesse resposta; mas havia outro fator adicional que dificultava a resposta à minha solicitação, e era que os arqueólogos do Cairo desconheciam as dimensões do sarcófago de Quéfren.

Por este motivo, vi-me obrigado a obter estes dados pessoalmente, o que me obrigou a mobilizar a pesada burocracia egípcia, cujas ramificações chegavam até os umbrais da pirâmide pois, o que nunca poderia imaginar, a última assinatura da autorização foi aposta por um policial que apareceu de trás de uma duna, carregando uma metralhadora, e que ali estampou sua rubrica, e pôs um selo, utilizando um lápis de tinta solúvel. Haviam montado uma repartição pública em meio ao deserto…

Seria demais enumerar as etapas desta pesada tarefa de obter permissão para a descida, mas durante seu lento trâmite (“um instantinho” podia significar três horas de espera), pensava que, possivelmente,a paixão burocrática dos egípcios modernos, bem poderia ser um resquício dos antigos sistemas imperiais. Pelo menos, o sorriso afável do filho de um guia em Sakkarah era inequivocamente a do modelo de alguma frisa antiga. Nem tudo se perdeu do Egito, os modos elegantes do arqueólogo Mohamed Saber, ou o gesto senhorial do Sheik da Grande Pirâmide, ou a simples saudação de algum cameleiro, ainda tresandam a nostalgia de um passado imperial.

Com a ajuda de dois guias – um, Ahmed, que já havia apreendido a arte de medir paredes e sarcófagos, e outro que tinha a chave do cadeado da pirâmide – realizei uma exaustiva e cuidadosa medição das dimensões da câmara e do sarcófago do suposto Quéfren.

Saí à superfície e me despedi dos guias – não sem antes dar-lhes a correspondente propina, que repartiriam depois, comunitariamente. Antes de tomar o ônibus 8 (“tamania”) que me conduziria em dez minutos a Midan el Taharir (no centro do Cairo), pude observar que no interior da pirâmide, fazia o mesmo calor que lá fora. O que implicava num bom sistema de ventilação, já que a câmara estava na mais absoluta escuridão. Eram duas horas da tarde, e o termômetro marcava 48ºC, uma temperatura normal para esta hora, no mês de junho. Penetrei no bar do Nilo Hilton Hotel – com ar condicionado – e diante de um enorme jarro de suco de frutas bem gelado dispus-me a transformar minhas medidas, tomadas com nosso metro convencional, nas medidas do Metro Absoluto, ou egípcio. Recordo que quando obtive a cifra de 1260 surpeendi-me com a exatidão de minhas deduções de cinco anos antes, com Córdoba, a 20 mil quilômetros de distância. Estava claro, também, o porquê não devia tomar em consideração as estruturas exteriores: simplesmente porque o sarcófago estava enterrado no pavimento.

Alguns meses depois, em Paris, pude obter as medidas efetuadas por Petrie com instrumentos de precisão, nesta mesma pirâmide. Com um maior número de casas decimais, pude encontrar que o valor exato da largura do sarcófago era de 1260,0 milímetros egípcios.

Desde então até agora, meditei e tratei de desentranhar que relação há entre todas as coisas e que estranhas práticas de ioga estão simbolizadas neste misterioso Capítulo XI do Apocalipse. Vem-me a recordação daquele versículo que diz: “E os homens das diversas tribos, e povos, e línguas, e nações, verão os seus corpos durante três dias e meio; e não permitirão que seus corpos seja sepultados”. Aqui, os 3,5 dias poderão ser três anos e meio? Há outro versículo que diz: “…um tempo, tempo e meio tempo”, ou seja, três tempos e meio. Poderá existir alguma relação com os 42 meses?

Não podemos seguir adiante no Apocalípse, nem pela pirâmide de Quéfren. Prefiro passar para a pirâmide de Hórus Sekhem-Het (em Sakkarah) onde o estudo metrológico das estruturas revelou três vezes a presença do número 2373. No Capítulo “As relações não-homogêneas” (pág. 161) ocupamo-nos da metrologia desta pirâmide e vimos que tal número aparece nas dimensões da câmara e no interior e exterior da sarcófago.

No dito capítulo não quis adiantar uma hipótese sobre este misterioso número – dado que ali ocupar-me-ei com concretas questões metrológicas. Mas em nossa tentativa de penetrar este inquietante arcano da sabedoria egípcia, descobrimos que:

6,5 anos – 2373 dias

A concordância das três estruturas vai além do limite de erro. Há algo na coincidência. Mas os números estão com todos os seus algarismos. Essa outra pirâmide com seu sarcófago, tampouco ocupado por nenhum faraó, nos mostra de novo um sedimento metrológico muito importante, porque este número expresso como “dois mil e trezentos dias de tarde e de manhã” (Daniel, VIII; 14) é o ciclo biológico, anotado por Huxley, de 6,5 anos.

Para mais informação, podemos recordar o número 2340 (234) que aparece obsessivamente no dimensionamento do sarcófago de Diodefres (cf. “O Problema de Diodefres”, pág. 144) como único número para todas as suas dimensões lineares e de volume.

Não podemos fazer mais inferências até que o progresso de nossa biologia possa dizer-nos algo mais dos misteriosos ciclos de 3,5 e 6,5 anos. Enquanto isso, é importante destacar que esses ciclos á eram do conhecimento dos antigos, como o atestam a Bíblia e as Pirâmides. Não tem isto nada de estranho. Colocando-nos na posição mais cética, é óbvio que homens que tiveram arquivos burocráticos que cobriam vários milênios, poderiam ter conhecimento de coisas que nossa incipiente civilização mal começa a descobrir. Arredondando o ciclo de 6,5 anos, converte-se no antigo, conhecido e misterioso ciclo das 7 vacas gordas e 7 vacas magras do sonho do Faraó, que José interpretou como um ciclo de chuvas e secas de sete anos. No citado capítulo XI do Apocalípse, lemos: “Eles têm poder de fechar o céu, para que não chova durante o tempo que durar sua profecia…” Não é de surpreender que o que José interpretou no ano 1600 a.C. possa parecer indicado em algum pirâmide egípcia; tampouco que volte a aparecer no livro de Daniel. A interpretação do sonho do Faraó é uma simples lenda que é aproveitada pela Bíblia, mas os arquivos que José – administrador da corte – podia consultar quantas vezes quisesse, são uma realidade histórica. É evidente que os utilizou ou para seu plano de governo, pois não é de se pensar que este conhecimento milenar fosse aplicado unicamente à determinação do almanaque egípcio, que Neugebauer considera obtido das estatísticas milenares das crescentes do Nilo.

Mais fácil de obter que um almanaque no qual a saída helíaca de Sírio aparece consignada com precisão de 365,25 dias, é conhecer os ciclos que automaticamente se depreendem destes arquivos.

Assim se explica que todo o ciclo undecenal do Sol (ciclo de Wolf) fosse do conhecimento de todos os povos antigos, que possuíram uma grande civilização, como os chineses e os egípcios. Foi preciso que se passassem três mil anos para que Galileu voltasse a descobrir as manchas solares, mas os antigos as conheciam muito bem, e no entanto, hoje os astrônomos utilizam os arquivos chineses de manchas solares para extrapolar o ciclo de Wolf até a pré-história. O número onze está na chave de todas as religiões antigas. Os heróis solares levam-no como data natalícia. A magia e a religião popular o cultivaram durante milênios. Mas nós, apenas recentemente o descobrimos no século XVI.

Um aspecto importante da investigação biorrítmica moderna constituem os trabalhos de G. Piccardi*, à frente do “Instituto di Fenomeni Flutuanti”, dependente da Universidade de Florença. Como é sabido, Piccardi alcançou renome mundial ao determinar a trajetória da Terra na Galáxia, valendo-se de ensaios químicos de laboratório. A forma nítida como nas estatísticas de Piccardi se reflete a atividade undecenal do ciclo solar mereceu que os “testes químicos” de Piccardi fossem incluídos nos programas geofísicos internacionais.

A revolução que Piccardi trouxe à serologia e hematologia foi destacada nos anos recentes por investigadores soviéticos e norte-americanos. Mas o que se tem que destacar aqui é que o “fenômeno de Piccardi” nos permite seguir os ritmos do universo uma forma até agora não conseguida por nenhum outro dispositivo de laboratório.

Em 1962, trabalhando com a equipe científica do professor Piccardi, tive a ocasião de estudar seus arquivos, em busca da recorrência de 3,5 e 6,5 anos, mas não pudemos encontrar nada. Na opinião do prof. Piccardi, é possível que com a prolongação das estatísticas, apareçam os citados e enigmáticos ciclos. Com observações que datavam apenas de 18 anos, o único que podia destacar-se era o ciclo de Wolf e a variação sazonal, com máximos e mínimos em abril e setembro, este último ciclo devido, segundo Piccardi, à posição da Terra no ápice solar.

As observações de Piccardi** conduziram-no a descobrir na radiação natural da ordem de 3.000 KHz o agente determinante da “ativação” da água, um estado alotrópico da água, responsável pelo processos biológicos observados por Piccardi. No laboratório do “Elektrophysikalisches Institut” (Instituto de Eletro-Física) de Munique, o professor Konig investigou a influência desta e outras faixas de frequência sobre este tipo de fenômenos, em estreita colaboração com o professor Piccardi. Mas aqui também as estatísticas datam de pouco tempo, e não é possível ainda fazer inferência biorrítmica. Consegue-se, isto sim, confirmar a hipótese do professor Schuman, de que a Terra é um ressoador para ULF (“Ultra Low Frequencies” – Frequências Ultra-Baixas).

O conhecimento dos ritmos biológicos exige estatísticas de longa duração, que todavia não possuímos. Com o tempo, as conseguiremos, mas enquanto isto, podemos tratar de aproveitar o que nos legaram os egípcios, cujos arquivos – segundo o sacerdote de Sais, citado por Platão no “Timeu” – cobriam milênios. O enigma da pirâmide de Quéfren é um desafio para os cientistas de nossa era. Sua solução mudará o futuro da raça humana.

* Piccardi, G. Rend. Acad. Naz. Lincei – 21 – VII – 84, 1956.

** Piccardi, G. – Chemical Basis of Medical Climatology, Nova Iorque, 1960.

Fonte: O enígma das pirâmides, J. Alvarez Lopes, editora Hemus, 1978, pp. 49-59.

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