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O prisioneiro da pirâmide

Publicado por: luxcuritiba em abril 19, 2008

O incidente da Torre de Babel pôs um fim súbito e inesperado à mais longa era de paz na Terra de que o homem tem notícia. A cadeia de eventos trágicos que esse acontecimento iniciou teve uma relação direta com a Grande Pirâmide e seus mistérios. Para desvendar esses segredos, apresentaremos nossa teoria sobre como essa estrutura singular foi projetada e construída, e posteriormente lacrada e invadida.

Como se não bastassem os inúmeros enigmas existentes sobre a construção da Grande Pirâmide, existem outros dois relacionados com a estrutura terminada. Todas as teorias que tentaram explicálos, uma vez que se baseavam na hipótese de que a pirâmide seria uma tumba real, mostraram-se inconsistentes. Acreditamos que as respostas para esses enigmas não estão nas lendas dos homens, mas sim nas dos deuses.

Várias referências à Grande Pirâmide encontradas em crônicas gregas e romanas comprovam que naquela época era bem conhecida a entrada protegida pela pedra giratória, o Corredor Descendente e a Cova Subterrânea. No entanto, ninguém desconfiava da existência de todo o sistema de túneis e câmaras superiores, porque a entrada para o Corredor Ascendente encontrava-se lacrada por três grandes blocos de granito e camuflada com uma pedra triangular encaixada no teto da passagem.

Durante os séculos que se seguiram, até mesmo a posição da entrada da pirâmide acabou sendo esquecida. Por isso, quando o califa Al-Mamun decidiu penetrar na pirâmide, no ano 820, seus homens forçaram uma abertura, abrindo um túnel escavado a esmo.

O Corredor Descendente foi descoberto por acaso. O som de uma pedra que caiu no vazio incentivou os trabalhadores a continu-ar com a escavação até atingi-la. Mas o que caíra com o impacto das picaretas e martelos era uma pedra triangular que disfarçava a entrada do Corredor Ascendente, e a queda revelou o tampão feito com os blocos de granito. Incapazes até mesmo de lascá-los com suas ferramentas, os homens do califa cavaram as pedras de calcá-rio em torno deles e chegaram ao Corredor Ascendente, e daí ao conjunto de câmaras e túneis superiores. Todos os historiadores árabes contemporâneos de Al-Mamun afirmam que ele não encon-trou no interior da pirâmide nada além de espaços vazios.

Depois de retirarem o entulho – pedaços de calcário que com o passar dos séculos tinham deslizado pela passagem e se acumulado junto ao tampão de granito -, os árabes subiram agachados o estreito túnel quadrado. Ao chegar ao seu final puderam ficar em pé, pois tinham atingido a junção do Corredor Ascendente com o Corredor Horizontal e a Grande Galeria. Seguindo pelo túnel hori-zontal, eles chegaram à câmara com teto em V invertido, que ex-ploradores de épocas posteriores passaram a chamar de “Câmara da Rainha”. Ela e seu enigmático nicho estavam completamente vazios, e as paredes não mostravam nenhum sinal de decoração. Voltando à junção, os homens subiram pela Grande Galeria, usando para se apoiar os orifícios perfeitamente cortados na pedra, agora não mais que buracos vazios, pois uma camada de poeira branca que cobria o piso e as rampas era limosa e escorregadia. Depois de subirem o Grande Degrau no final da galeria, viram-se diante da Antecâmara e, ao entrarem nela, descobriram que as portas corrediças que de-viam fechá-la não existiam mais. Agacharam-se para penetrar na câmara superior (mais tarde batizada “Câmara do Rei”) e constata-ram que a única coisa que havia nela era uma pedra escavada em forma de baú (“O Caixão”, dos exploradores posteriores).

Voltando à junção das três passagens, os árabes notaram um buraco num canto junto à entrada da Grande Galeria e viram que uma das pedras de calcário que formava a rampa tinha sido arrebentada. Entrando pelo buraco, eles encontraram-se numa curta passagem horizontal que se abria para um túnel vertical, que ima-ginaram ser um poço de água. Enquanto desciam por esse Po-ço (como veio a ser conhecido), descobriram que aquele era apenas o trecho superior de uma longa série de dutos, com cerca de 60 metros de comprimento total, que terminava no Corredor Descen-dente, dessa forma ligando as câmaras e corredores superiores com os inferiores. Tudo indica que a abertura para o Corredor Descendente estava fechada e escondida de quem passava por ela até os homens do califa a abrirem, vindos de cima para baixo.

As descobertas dos árabes e investigações posteriores desen-cadearam uma infinidade de enigmas. Por que, quando e quem ve-dou o Corredor Ascendente? Por que, quando e quem fez o Poço que atravessava o terço inferior da pirâmide até atingir sua base rocho-sa?

A teoria mais corrente que tentou responder essas perguntas dizia que a pirâmide fora construída por Khufu (Quéops) para ser sua tumba e que, depois de o corpo mumificado do faraó ter sido colocado no “caixão da Câmara do Rei”, os servos, por ordem dos sacerdotes, fizeram deslizar os três blocos de granito pelo Corredor Ascendente, de cima para baixo, para vedarem sua entrada. Eles, portanto, ficariam enterrados vivos com o faraó. Contudo, esses servos enganaram os sacerdotes: arrebentaram a pedra no canto da Grande Galeria, escavaram o poço e atingiram o Corredor Descendente, fugindo pela entrada da pirâmide situada na face norte.

Essa teoria é muito difundida, mas não resiste a um escrutínio crítico.

O Poço é constituído por sete segmentos distintos. Seis deles são constituídos com precisão, possuindo linhas e planos retos, e um é tortuoso, escavado a esmo, obviamente sem seguir um projeto anterior. A série de dutos começa com a parte horizontal superior (A) curta, que liga a Grande Galeria com o segmento vertical B, que, por meio do segmento tortuoso C, liga-se com um trecho verti-cal inferior (O). Segue-se um trecho bastante inclinado (E), que leva a um segmento mais curto (F), com uma inclinação bem menor do que a anterior. Por fim há um pequeno trecho que deveria ser horizontal para se equiparar com A, mas que é ligeiramente inclinado e desigual (G), abrindo-se para o Corredor Descendente. O poço propriamente dito, constituído pelos trechos B, C, D, E e F, apesar das mudanças de rumo quando visto num plano norte-sul está precisamente alinhado dentro de um plano leste-oeste paralelo ao plano das passagens e câmaras.

Enquanto os três segmentos superiores do Poço cortam cerca de 20 metros de blocos de calcário, os inferiores atravessam cerca de 50 metros de rocha pura. Ora, segundo a teoria acima, alguns poucos servos deixados no interior da pirâmide para fazerem desli-zar o tampão de granito não poderiam ter escavado a rocha com tanta perfeição. Também, se a escavação foi feita de cima para baixo, onde teria ido parar o entulho que, obrigatoriamente, teria de ser levado para cima enquanto eles cavaram? Levando-se em conta que o Poço tem cerca de 70 centímetros de largura na maio-ria de seus trechos, quase mil quilos de pedaços de calcário e rocha teriam de ser depositados nas câmaras e passagens superiores.

Em vista dessas improbabilidades, novas teorias foram apresentadas, tendo como base a hipótese de que o Poço fora escavado de baixo para cima (nesse caso, o entulho teria sido removido pelo Corredor Descendente). E qual seria a explicação para isso? Segundo essas teorias, quando o faraó estava sendo enterrado, um terremoto sacudiu a pirâmide, fazendo soltarem-se prematuramente os blocos de granito que iriam vedar a passagem. E não somente servos, mas também membros da família real, e altos sacerdotes, ficaram presos. Como os projetos de construção da pirâmide ainda con-tinuavam disponíveis, equipes de salvamento fizeram o Poço para atingir a Grande Galeria e libertar os dignitários.

Essa teoria e muitas outras, como uma há muito descartada, que afirmava ser o Poço obra de ladrões de túmulos, pecam por não explicar a questão da precisão. Por que equipes de salvamento ou ladrões perderiam tempo em construir dutos tão perfeitos? Como já dissemos, todos os segmentos são retos, com ângulos uniformes ao longo de todo o comprimento e cuidadosamente acabados.

Enquanto cresciam os indícios de que jamais um faraó fora enterrado dentro da Grande Pirâmide, surgiu uma nova teoria, que logo ganhou muitos seguidores: o Poço fora construído para permitir o exame de fissuras na rocha resultantes de um terremoto. A me-lhor obra com base nessa hipótese é o livro The Great Pyra-mid Passages and Chambers, dos irmãos John e Morton Edgar. Moti-vados por um zelo religioso que via no monumento uma expressão em pedra das profecias bíblicas, os Edgar limparam, examinaram e fotografaram todos os cantos da pirâmide. Com isso, demonstraram conclusivamente que tanto o trecho horizontal curto A como o primeiro segmento vertical B eram parte da construção original. Além disso, descobriram que o segmento D não fora escavado, mas cuida-dosamente construído com blocos de calcário, para atravessar uma cavidade natural na base rochosa. Essa cavidade só poderia ter sido preenchida por ocasião da construção da pirâmide. Em outras pala-vras, esse trecho também era muito antigo.

Segundo a teoria dos irmãos Edgar, quando a base da pirâmide estava em construção, um terremoto abalou vários pontos da rocha em que ela se assentava. Para avaliar a extensão dos danos e determinar se a obra poderia continuar, os construtores fizeram os dutos E e F como poços de inspeção. Ao constatarem que os estragos não tinham sido importantes, eles autorizaram o prosseguimento da obra. No entanto, visando possibilitar inspeções periódicas mais rápidas, foi escavado o pequeno trecho horizontal G, não tão per-feito e com cerca de 1,80 metros de comprimento, ligando a Passa-gem Descendente com o segmento F.

Embora as teorias dos irmãos Edgar (ampliadas por Adam Ru-therford em seu livro Pyramidology) tenham sido adotadas por mui-tos, elas ainda estão longe de dar solução aos enigmas. De novo, se os trechos E e F foram construídos como poços de inspeção feitos numa emergência, por que tanto gasto de tempo e preocupação com precisão durante sua construção? Qual o propósito original dos dutos B e D? Como explicar o trecho tortuoso C, escavado grosseiramente no calcário? E o tampão de granito? Por que lacrar o Corredor Ascendente se não tinha havido um enterro?

Apesar de a teoria dos Edgar ser falha, a árdua e minuciosa medição feita por eles guarda a chave dos enigmas. Acredito que as partes essenciais do Poço foram de fato executadas pelos construtores originais e eram parte integrante do projeto, sendo características destinadas a servir de diretrizes arquiteturais durante a construção da pirâmide.

Ao longo dos séculos, muito se escreveu sobre as maravilhosas proporções e notáveis relações geométricas da Grande Pirâmide. No entanto, como todas as outras estruturas similares do Egito possuíam apenas passagens inferiores, sempre houve a tendência de se encarar todo o sistema superior como uma melhoria que surgiu com o passar do tempo. Em resultado disso, foi dada pouca atenção a certos alinhamentos entre os dois sistemas, que só poderiam existir se as partes inferiores e superiores tivessem sido planejadas e cons-truídas simultaneamente. Assim, por exemplo, o ponto na Grande Galeria onde o piso eleva-se abruptamente para formar o Grande Degrau (U – fig. 71), o eixo central da Câmara da Rainha (Q) e um recesso no segmento G estão todos situados na linha central da pi-râmide. Um enigmático degrau (5), situado na parte superior do Corredor Horizontal, está alinhado com o ponto que marca o final do Corredor Descendente (P). O diagrama que se segue revelará muitos outros alinhamentos.

Mostraremos agora que todos esses alinhamentos não foram obra do acaso, mas de um cuidadoso trabalho de concepção e planejamento, e que os dutos acabados do Poço eram parte integrante da pirâmide.
Comecemos pelo trecho D, porque acreditamos que foi o pri-meiro a ser construído. Atualmente todos concordam que a eleva-ção rochosa onde a pirâmide está assentada foi aplainada em de-graus. O nível mais inferior da rocha (visível do lado de fora) formava a Linha Base. O nível superior da rocha fica na altura da Gruta, e ali pode ser vista a primeira camada (“Curso”) de blocos de calcário. Uma vez que o trecho D esta abaixo desse primeiro curso, ele deve ter sido construído antes, pois o único modo de se abrir um túnel numa rocha é da face externa para dentro. O duto E co-meça sua descida inclinada exatamente no final do trecho D, o que significa que ele só foi escavado quando D já estava pronto. Termi-nado E, foram feitos F e G.

Por que – e esse é um fato que geralmente passa despercebido o segmento E está inclinado em relação ao trecho D e a Linha Base num ângulo exato de 45 graus? Por que, se era meramente um poço de inspeção, ele não continua até o Corredor Descendente em vez de inclinar-se, dando origem ao trecho F? E por que esse trecho F está num ângulo exato de 90 graus em relação ao Corredor Descen-dente?
Como os arquitetos da pirâmide projetaram essas simetrias, alinhamentos perfeitos e notáveis relações geométricas? Nossa ex-plicação para isso mostra a disposição das partes interiores da pi-râmide como devem ter sido projetadas pelos que a conceberam. Trata-se de um projeto arquitetônico simples, mas muito engenhoso que alcança a perfeição com o auxílio de apenas três circunferên-cias e algumas linhas!

A construção da pirâmide começou com o nivelamento da colina rochosa onde ela seria erigida. Para conferir maior estabilidade à estrutura, a rocha só foi cortada perto da circunferência da base da pirâmide. No núcleo o leito rochoso foi deixado mais alto, elevando-se em degraus. Então a Gruta – uma falha natural na rocha ou uma cavidade artificial – foi escolhida para ser o ponto onde come-çariam os alinhamentos da estrutura.

O primeiro dos dutos verticais, D, foi construído atravessando a Gruta, sendo em parte feito de blocos de calcário e parte escava-do diretamente na rocha. A altura do trecho D marca exatamente a distância do nível base até onde termina a rocha e começa o assen-tamento de blocos de calcário no núcleo da pirâmide.

Há muito reconhece-se que o valor de n, ou seja, a relação entre o valor do comprimento da circunferência e seu diâmetro, foi empregado para se calcular a circunferência da base, lados e altura da pirâmide. Mas, como mostra claramente o diagrama, não apenas o aspecto exterior, mas também suas características interiores fo-ram projetadas com o auxílio de três circunferências iguais.

É claro que antes de desenhar as três circunferências, os ar-quitetos das pirâmides tiveram primeiro de escolher uma medida de raio adequada. Os que vêm estudando a Grande Pirâmide nunca conseguiram encaixar em suas proporções perfeitas nenhuma das antigas unidades egípcias de medição: o cúbito comum, com 24 de-dos, ou o “cúbito real”, com cerca de 28 dedos (525 milímetros). Há uns três séculos, Isaac Newton concluiu que um enigmático “cúbito sagrado”, com 600 milímetros, fora empregado não somente na construção da pirâmide como também na Arca de Noé e no templo de Jerusalém, conclusão que atualmente os egiptólogos e piramidó-logos aceitam para o caso da pirâmide. Nossos próprios cálculos mostram que o raio adotado para as três circunferências foi igual a 60 desses cúbitos sagrados e, como se sabe, 60 era o número-base do sistema matemático sumério, o sistema sexagesimal. Essa medi-da de 60 cúbitos sagrados é dominante nos comprimentos e alturas da estrutura interior da pirâmide e nas dimensões de sua base.

Uma vez escolhido o raio das circunferências, traçou-se a Li-nha Horizontal que marcaria o fim do leito rochoso e início das ca-madas de blocos de calcário, passando pelo ponto D, situado na Gruta. O centro da primeira circunferência ficou nesse ponto (1). Os dois seguintes ficaram nas interseções dessa circunferência com a linha horizontal.

No ponto onde a segunda circunferência cortava o Nível da Base da Pirâmide (4) elevar-se-ia uma das faces da pirâmide, com uma inclinação de 52 graus – o ângulo perfeito porque é o único que incorpora as relações Pi na estrutura.

O trecho E seria construído num angulo de 45 graus, saindo do fundo do duto D. A projeção da linha E para cima, cortando o círculo 2 no ponto 5, forneceu a linha inclinada para a face oposta da pirâmide e também demarcou a altura onde deveriam ficar a Câmara do Rei e a Antecâmara (linha 5-U-K), e o final da Grande Galeria. Projetada para baixo, a inclinação do trecho E determinou o ponto onde terminaria a Passagem Descendente. Uma linha vertical saindo de P determinou a posição do Degrau (5) no Corredor Hori-zontal, perto da Câmara da Rainha.

Passando para a terceira circunferência, a da esquerda, ve-mos que seu centro (ponto 3) marca a linha vertical da pirâmide. No local onde ela corta a linha que passa pela parte superior das três circunferências foi colocado o Grande Degrau (V), marcando o final da Grande Galeria e a posição do piso na Câmara do Rei. A linha central vertical em si determinou a posição da Câmara da Rainha. Ligando-se o centro da segunda circunferência (ponto 2) com V, obteve-se a linha de piso do Corredor Ascendente e da Gran-de Galeria.

O duto vertical F sai do final do segmento E, numa inclinação que permite que a linha projetada para cima a partir dele corte a linha de piso 2-V num ângulo reto. À partir do ponto formado pela interseção da projeção do segmento F com a primeira circunferên-cia, a central, (ponto 6), desenhou-se uma linha passando pelo pon-to 2 e continuando até se encontrar com a face da pirâmide (ponto 7), o que determinou a posição do Corredor Ascendente, sua junção com o Corredor Descendente (ponto 2) e a entrada da pirâmide.

Portanto, as três circunferências e os túneis verticais D, E e F determinaram a maioria das partes essenciais da Grande Pirâmide. No entanto ainda faltava marcar onde ficariam os pontos em que terminaria o Corredor Ascendente e começaria a Grande Galeria e, conseqüentemente, o nível do Corredor Horizontal levando para a Câmara da Rainha. É aqui que entra em cena o trecho B do Poço. Ninguém até agora salientou que seu comprimento é exatamente igual a D e que ele marca exatamente a distância entre o nível da entrada e o nível do Corredor Horizontal. B foi colocado no ponto onde a linha do Corredor Ascendente corta a circunferência 2 (pon-to 8), e sua extensão vertical determina o inicio da parede da Grande Galeria. A distância entre o ponto 8 e o ponto 9, onde a linha vertical saindo de D corta a linha horizontal que sai de 8 é o local da grandiosa junção das passagens e a Grande Galeria.

Para a execução desse projeto, a construção teve de começar pelo trecho D, com o aproveitamento da cavidade natural da rocha, e nele foi colocado o teodolito ou equipamento similar que deter-minou a direção em que os segmentos E e F teriam de ser escavados na rocha pura. Esses trechos sumiram de vista quando o assenta-mento dos blocos de calcário subiu acima do nível rochoso. Então foi escavado o duto G, mais grosseiro, para a retirada dos instru-mentos de medição ou então para se permitir inspeções de última hora. No ponto de junção do trecho G com o Corredor Descendente, colocou-se um bloco de calcário bem ajustado fechando a abertura, o que terminou escondendo de vez esses dutos inferiores.

O trecho B, ligado no ponto 8 com as passagens através do pequeno segmento horizontal A, permitiu aos construtores da pirâmide terminar o seu interior. Uma vez concluída essa parte da obra, deixou de haver necessidade do uso funcional ou arquitetural desses segmentos e a entrada para eles foi fechada por meio de uma pedra de calcário da rampa, bem ajustada, em forma de cunha.

A obra estava completa, com todos os segmentos do Poço o-cultos de vista. No entanto, resta um deles que, pelo que vimos anteriormente, não teve nenhuma função ou propósito no projeto ou na construção da Grande Pirâmide.

Essa exceção é o trecho C, escavado grosseiramente nas ca-madas de blocos de calcário, torto, desigual, deixando as pedras quebradas, cheias de pontas e asperezas. Quando, por que e como surgiu esse enigmático pedaço do Poço?

Esse trecho, acreditamos, não existia quando a pirâmide foi concluída pelos seus construtores. Como mostraremos adiante, tra-ta-se de um túnel feito apressadamente muito mais tarde, quando Marduk foi aprisionado vivo dentro da Grande Pirâmide.

Não existe dúvida de que Marduk foi aprisionado vivo na “Tumba Montanha”, porque vários textos mesopotâmicos traduzidos com competência atestam esse fato. Outros relatos nos esclarecem so-bre a natureza do crime que redundou nessa sentença. Todos juntos nos permitem fazer uma reconstrução plausível dos acontecimen-tos.

Expulso da Babilônia e de toda a região da Mesopotâmia, Mar-duk voltou ao Egito e não perdeu tempo para se estabelecer em Heliópolis, enfatizando o papel da cidade como seu “centro de cul-to” ao reunir os objetos celestiais que possuía num santuário espe-cial, ao qual, daí em diante e por muitos séculos depois, os egípcios faziam peregrinações.

Porém, ao tentar restabelecer seu domínio hegemônico sobre o Egito, Marduk descobriu que as coisas tinham mudado desde que ele partira dali para tentar seu golpe de Estado na Mesopotâmia. Embora, pelo que se pode depreender, Thot não tenha se empenhado numa luta pela supremacia e Nergal e Gibil estivessem muito distantes desse centro de poder, surgira um novo rival nesse ínterim: Dumuzi. O filho mais novo de Enki, cujos domínios faziam fronteira com o Alto Egito, estava emergindo como o novo preten-dente ao trono.

Havia alguém insuflando as ambições de Dumuzi e era nin-guém mais ninguém menos que sua noiva Inanna/Ishtar – mais um motivo para o desagrado e suspeitas de Marduk.

A lenda de Dumuzi e Inanna, já que ele era o filho de Enki e ela neta de Enlil, faz o leitor recordar-se da história de Romeu e Julieta. E, tal como no drama de Shakespeare, essa crônica também termina em tragédia, morte e vingança.

A primeira presença de Inanna/Ishtar no Egito está registrada no texto de Edfu que conta a Primeira Guerra da Pirâmide. Ali chamada de Astarot, seu nome cananeu, conta-se que ela surgiu no meio do campo de batalha para ajudar as forças de Hórus. O motivo para essa inexplicável presença no Egito poderia talvez ser uma visita ao seu noivo Dumuzi, por cujos domínios o exército passava no seu avanço para o Alto Egito. Um texto sumério registra uma visita que a deusa fez ao noivo, “O que Cuida do Gado”, em seu dis-tante distrito rural. Ele nos conta como Dumuzi esperava a chegada de sua prometida e como dirigiu palavras de incentivo a uma noiva ansiosa em relação a seu futuro numa terra estranha:

O rapaz aguardava;
Dumuzi abriu a porta.
Como um raio de luar ela avançou ao seu encontro…
Ele a contemplou, regozijou-se com o que viu, tomou-a nos braços e a beijou.
O que Cuida do Gado colocou o braço em torno da donzela.
“Não a trouxe para a escravidão”, ele disse.
“Sua mesa será esplêndida, a mesma em que eu mesmo como…”.

Naquela época, Inanna/Ishtar tinha a bênção de seus pais, Nannar/Sin e Ningal, e também a de seu irmão, Utu/Shamash, para uma união tipo Romeu e Julieta entre a neta de Enlil e um filho de Enki. Alguns irmãos de Dumuzi, e talvez o próprio Enki, concordavam com o casamento e a presentearam com contas e peças de lápis-lazúli, a pedra preciosa de que ela mais gostava. E, para sur-preendê-la, esconderam as jóias no fundo de uma cesta cheia de tâmaras. Além disso, ao entrar no quarto que lhe fora destinado, Inanna encontrou “uma cama de ouro, adornada de lápis-lazúli, que Gibil mandara fundir para ela na morada de Nergal”.

Foi então que a guerra explodiu, e irmão lutou contra irmão. Enquanto eram apenas os filhos de Enki que se enfrentavam, nin-guém viu grandes problemas na presença de uma neta de Enlil na região. No entanto, depois da vitória de Hórus, quando Set ocupou terras que não lhe pertenciam, a situação mudou por completo. A Segunda Guerra da Pirâmide atirou os filhos e netos de Enlil contra os descendentes de Enki, e a “Julieta” teve de ser separada de seu “Romeu”.

Quando, terminada a guerra, os noivos se reuniram e consu-maram o casamento, passaram muitos dias e noites envoltos em êxtase e bem-aventurança, fato que foi tema de muitas canções de amor sumérias. Mas mesmo enquanto eles faziam amor, Inanna sus-surrava palavras provocadoras ao marido:

Suas partes são tão doces como sua boca e fazem jus a sua posição principesca!
Subjugue o país rebelde, faça a nação se multiplicar.
Eu o governarei corretamente!

Numa outra ocasião, Inanna revelou a Dumuzi:

Tive a visão de uma grande nação escolhendo Dumuzi como seu deus…
Pois eu fiz de Dumuzi um nome a ser exaltado, eu lhe dei posição.

Apesar de todo esse amor, a união não foi considerada feliz, pois não produziu um herdeiro – ao que tudo indica, um requisito essencial para tornar realidade os anseios dos dois deuses. Dumuzi, na esperança de ter um herdeiro homem, recorreu a uma tática que já fora adotada por seu pai: tentou seduzir e fazer sexo com a própria irmã. Mas enquanto em épocas anteriores Ninharsag cedera aos avanços de Enki, Geshtinanna recusou a proposta do irmão. Deses-perado, Dumuzi violou um tabu sexual e a estuprou.

Essa trágica história está registrada numa plaquinha de argila que os estudiosos catalogaram como CT.15.28-29. O texto conta como Dumuzi despediu-se de Inanna, dizendo-lhe que precisava ir à planície deserta onde guardava seus rebanhos. Geshtinanna, “a irmã que conhecia canções, estava sentada lá”, pois pensava que fora convidada para um piquenique. Quando os dois estavam “comendo o alimento puro, rico em mel e manteiga, enquanto bebiam a fra-grante cerveja divina” e “divertiam-se alegremente… Dumuzi tomou a solene decisão de fazê-lo”. A fim de preparar Geshtinanna para o que ele tinha em mente, pegou um cordeiro e o fez copular com a ovelha-mãe, depois fez um cabrito copular com sua irmã cabrita. Enquanto os animais cometiam incesto, Dumuzi tocava Geshtinanna, procurando imitá-los. Quando suas intenções foram ficando mais óbvias, a moça “gritou e gritou em protesto”. Mas, “ele a montou… sua semente estava se derramando na vulva de Geshtinanna”… Ela gritou: “Pare! Isto é uma desgraça!” Mas Dumuzi não parou.

As rachaduras na placa de argila não nos permitem ler o que aconteceu depois do ato, mas tudo indica que Dumuzi explicou à irmã que aquilo fora premeditado, tendo talvez sido planejado com a ajuda de Inanna.

No código moral dos Anunnaki, o estupro era considerado um grave crime sexual. Em épocas mais remotas, quando os primeiros grupos de astronautas tinham chegado à Terra, Enlil, o comandante supremo, fora condenado ao exílio por ter estuprado uma jovem enfermeira (que posteriormente veio a ser sua esposa). Sem dúvida Dumuzi sabia bem o que estava fazendo e só deve ter tomado a irmã à força porque jamais imaginara que ela iria recusá-lo ou porque seus motivos eram muito fortes para superar seu temor pela proibição. Já o consentimento de Inanna nos faz lembrar da história de Abraão e Sara, sua esposa estéril, que lhe ofereceu a criada para ele ter um herdeiro homem.

Consciente de que cometera uma falta terrível, Dumuzi previu que pagaria por seu ato com a própria vida, como está contado no texto sumério SHA.GA.NE.IR.IM.SHI – “Seu Coração Estava Cheio de Lágrimas”. Composta como se fosse um sonho de Dumuzi, a história conta como ele viu todos os seus títulos e propriedade lhe serem tirados um a um pelo “Pássaro Principesco” e um falcão. O pesadelo terminou com Dumuzi vendo-se morto no meio de seus currais.

Ao acordar, ele pediu a Geshtinanna para interpretar o sonho. “Meu irmão, está muito claro para mim, seu sonho não é favorável”, ela respondeu. Ele prevê que “bandidos o atacarão em tocaia… você será manietado, terá os pés presos em grilhões”. Nem bem a jovem acabou de falar, os inimigos capturaram Dumuzi.

Ao se ver em ferros, Dumuzi lançou um apelo a UtuShamash: “Ó, Utu, és meu cunhado, sou o marido de tua irmã… Faça meus pés se transformarem nos de uma gazela, para que eu consiga escapar dos malvados!”. Ouvindo a súplica, Utu facilitou a fuga de Du-muzi. Depois de algumas aventuras, este foi se esconder na casa do Velho Belili – que tinha um caráter bastante duvidoso, que fazia jogo duplo. Mais uma vez foi capturado e fugiu. Finalmente encon-trou-se de novo entre seus currais, onde tentou esconder-se de seus perseguidores. Soprava um vento forte, que derrubou as cercas, tal como Dumuzi vira em seu sonho. E, no final:

As taças de beber estavam tombadas;
Dumuzi jazia morto.
O curral fora levado pelo vento.

A arena desses eventos, pelo menos nesse texto, é uma planí-cie desértica perto de um rio. A geografia do local é ampliada numa outra versão da história, um texto intitulado “O Mais Amargo dos Gritos”. Composto como um lamento de Inanna, ele conta como sete delegados de Kur entraram no curral e acordaram Dumuzi, que dor-mia. Diferente da versão anterior, que fala apenas que os persegui-dores eram os “malvados”, esse texto deixa claro que eles represen-tavam uma autoridade mais alta: “Meu amo mandou-nos vir buscá-lo”, disse o chefe. Em seguida, o grupo começou a tirar os objetos divinos do prisioneiro:

Tire a tiara divina de sua cabeça; levante-se de cabeça descoberta.
Tire o manto real de seu corpo, levante-se nu.
Ponha de lado o cajado divino que carrega, levante-se de mãos nuas.
Tire as sandálias sagradas de seus pés, levante-se descalço!

Dumuzi, porém, consegue fugir e alcança o rio “no grande di-que no deserto de E.MUSH (‘Casa das Cobras’)”. Só havia um lugar no Egito onde deserto e rio encontravam-se num grande dique: a pri-meira catarata do Nilo, onde atualmente está localizada a represa de Assuã.

Dumuzi atirou-se à água, mas devido à violenta correnteza não conseguiu atingir a margem oposta, onde sua mãe e Inanna ten-tavam oferecer-lhe proteção. As ondas o levaram para Kur.

Esses e outros textos paralelos revelam que os que haviam ido prender Dumuzi o faziam por ordem de um deus mais alto, o Senhor de Kur, que “lhe passara uma sentença”. No entanto a condenação não poderia ter vindo da Assembléia dos Deuses, pois deuses enlili-tas, como UtuShamash e Inanna, estavam ajudando Dumuzi. Portan-to, a sentença deveria ter sido dada por decisão única do Senhor de Kur, ou seja, Marduk, o irmão mais velho de Dumuzi e Geshtinanna.

Essa identidade surge num texto que os estudiosos chamam de “Os Mitos de Inanna e Bilulu”. Por ele ficamos sabendo que o Velho Belili da versão que vimos anteriormente era o Lorde Bilulu (EN.BILULU) disfarçado, a mesma deidade que ordenara a ação pu-nitiva contra Dumuzi. Os textos acadianos que tratam dos epítetos divinos explicam que En-Bilulu era il Marduk ska hattati: “O Deus Marduk que Pecara” e “O Lamentador de Inanna”.

Tendo desaprovado a união Inanna-Dumuzi desde o início, Marduk sem dúvida se colocou mais fortemente contrário a ela depois das guerras da pirâmide. O estupro de Geshtinanna, feito com motivos políticos, foi a oportunidade que ele esperava para pôr fim às intenções de Inanna em dominar o Egito. Talvez Marduk não te-nha decretado a morte de Dumuzi, pois a pena costumeira nesses casos era o exílio. É possível que ela tenha sido acidental.

Mas, para Inanna, acidentalmente ou não, Marduk causara a morte de seu amado. E, como deixam bem claro os textos, ela procurou vingança:

O que é sagrado no coração de Inanna?
Matar!
Matar o Lorde Bilulu.

Trabalhando com fragmentos encontrados em diversos mu-seus, os estudiosos reconstituíram um texto que Samuel N. Kramer chamou de “Inanna e Ebih” e classificou como parte do ciclo dos mitos de “morte do dragão”, pois trata da luta da deusa contra um deus cruel que se escondia no interior da “Montanha”.

As partes disponíveis dessa lenda contam como Inanna armou-se com tudo o que pôde para atacar o deus em seu esconderijo. Embora os outros deuses tenham tentado dissuadi-la, ela aproximou-se confiante da Montanha, que chamava de E.BIH (“Morada do Chamado Tristonho”), e proclamou:

Montanha, és tão alta, elevas-te acima de todas as outras…
Tocas o céu com teu ápice…
Mesmo assim, eu a destruirei, ao solo te atirarei…
No interior de teu coração, dor eu causarei.

Além dos textos, um escudo cilíndrico sumério deixa bem cla-ro que a Montanha era a Grande Pirâmide, e o local, o Egito. Inan-na, em sua habitual semi-nudez, é vista em confronto com um deus situado sobre três pirâmides, que aparecem exatamente como sur-gem diante de um observador em Gizé. A tiara do sacerdote, o signo egípcio ankh e as serpentes entrelaçadas apontam para o único lu-gar: o Egito.

Enquanto Inanna continuava a desafiar Marduk, agora escondendo-se dentro da grandiosa estrutura, sua fúria ia aumentando porque ele ignorava suas ameaças: “Pela segunda vez, indignada com aquele orgulho, a deusa aproximou-se novamente e proclamou: ‘Meu pai Enlil me permitiu entrar na Montanha!”‘. Exibindo suas ar-mas, Inanna anunciou: “No coração da Montanha penetrarei… Den-tro da Montanha, estabelecerei minha vitória!”. Não obtendo res-posta, deu início ao ataque:

Ela não parou mais de golpear os lados de E-Bih e todos os seus cantos, até mesmo sua miríade de pedras assentadas.
Mas dentro… A Grande Serpente que entrara não parava de cuspir seu veneno.

O próprio Anu interferiu na disputa, alertando Inanna de que o deus que se escondia na Montanha possuía armas terríveis: “Sua explosão é avassaladora; elas a impedirão de entrar”. Em seguida, Inanna foi procurar justiça pelos trâmites legais, levando sua causa contra o deus ofensor ao tribunal.

Os textos não deixam dúvida sobre a identidade do inimigo de Inanna. Tal como nas histórias sobre Ninurta, ele é chamado de A.ZAG e apelidado de “A Grande Serpente”, ou seja, Marduk. O local onde ele se escondeu é o “E.KUR, cujas paredes atingem os céus”, isto é, a Grande Pirâmide.

O registro do julgamento e da condenação de Marduk está num texto bastante fragmentado publicado pela Seção Babilônica do Museu da Universidade da Pensilvânia. As linhas legíveis começam com os deuses já sitiando a pirâmide e um porta-voz dirigindo-se a Marduk, “enclausurado”, implorando-lhe que se entre-gasse. O “malvado” ficou comovido com o apelo: “apesar da raiva em seu coração, lágrimas marejaram-lhe os olhos”. Marduk concor-dou em sair e apresentar-se diante do tribunal. O julgamento teria lugar perto das pirâmides, num templo situado à beira do rio.

Ao local de reverência, junto ao rio, acusadores e acusados se dirigiram.
Os inimigos ficaram a um lado.
A justiça foi colocada em ação.
Ao chegar a hora de sentenciar Marduk, veio à baila o mistério da morte de Dumuzi. Não havia dúvida de que ele era o responsável, mas teria sido propositado ou um acidente? Se o crime não fora premeditado, não caberia uma sentença de execução.
Enquanto estavam ali, perto das pirâmides, Inanna teve uma idéia, que apresentou diante do Conselho dos Deuses:

Nesse dia, a própria Dama, aquela que fala a verdade, a acusadora de Azag, a grande princesa, emitiu seu impressionante julgamento.

Existia um jeito de condenar Marduk à morte sem de fato e-xecutá-lo, disse a deusa. “Que ele seja enterrado vivo dentro da Grande Pirâmide”.

Que ele fique lá, como dentro de um envelope lacrado.
Sem ninguém para lhe fornecer alimento; sozinho deve sofrer, a fonte de água potável será cortada.

O Conselho dos Deuses aceitou a sugestão. “Tu és a dona da arte… A sorte decretas. Que assim seja!”. Imaginando que Anu concordaria com o veredicto, “os deuses passaram a ordem para o Céu e a Terra”. Ekur, a Grande Pirâmide, acabara de se transformar nu-ma prisão e, daí em diante, um dos epítetos de sua dona passou a ser “Senhora da Prisão”.

Foi então, acreditamos, que se terminou a lacração da pirâ-mide. Deixando Marduk sozinho na Câmara do Rei, os deuses que o prenderam saíram e, ao atingirem o Corredor Descendente, solta-ram o dispositivo que fez deslizarem os blocos de granito que lacra-ram a entrada para o Corredor Ascendente.

Devido aos dutos inclinados que ligavam a Câmara do Rei às faces norte e sul da pirâmide, Marduk tinha ar para respirar, mas não lhe fora deixado nenhum alimento ou água. Ele estava enterrado vivo, condenado a morrer em agonia.

O registro do enclausuramento de Marduk ficou preservado em tabuinhas de argila encontradas nas ruínas de Assur e Nínive, as antigas capitais assírias. O texto de Assur sugere que ele servia de roteiro para uma cerimônia realizada habitualmente na Babilônia, reencenando o sofrimento e o salvamento do deus. No entanto, nem a versão babilônica original nem o texto anterior sumério em que esse roteiro se baseou foram descobertos.

Heinrich Zimmem, que transcreveu e traduziu o texto de Assur a partir das tabuinhas guardadas no Museu de Berlim, criou uma grande comoção nos círculos teológicos ao anunciar sua interpreta-ção numa conferência realizada em setembro de 1921, pois viu nele um Mistério pré-cristão, tratando da morte e da ressurreição de um deus e, portanto, uma lenda do Cristo primitiva. Stephen Langdon, por sua vez, ao incluir o texto em seu livro sobre os Mistérios de Ano-Novo da Mesopotâmia, deu a esse relato em especial o titulo de A Morte e Ressurreição de Bel-Marduk, salientando seus paralelos com a história da morte e ressurreição de Jesus contada no Novo Testamento.

Mas, como conta o texto, Marduk ou Bel (“O Senhor”) não morreu, embora tenha sido encerrado dentro da Montanha como se ela fosse uma tumba – o que faz com o que o paralelo ainda se susten-te.

Essa antiga “peça teatral” para as festividades de Ano-Novo começa quando Marduk já está encarcerado na Montanha. Um men-sageiro vai avisar Nabu, o filho do deus, que, chocado com a notí-cia, toma seu carro para ir à Montanha. Ele chega “à casa na beira da Montanha, onde é interrogado”. Respondendo às indagações dos guardas, o filho aflito diz que é “Nabu, que vem de Borsippa, procu-rando saber sobre o bem-estar de seu pai, que foi feito prisioneiro”.

Vários atores entram e saem no palco. Eles representam “as pessoas das ruas que correm à procura de Bel, perguntando: ‘Onde ele está preso?”‘. O texto explica que depois de Bel “ter entrado na Montanha, a cidade foi tomada pelo tumulto” e, “por causa dele, houve muita luta”. Então surge uma deusa, Sarpanit, a irmã-esposa de Marduk, que é avisada por um mensageiro em lágrima que seu marido foi levado para a Montanha. Ele mostra as roupas de Marduk (possivelmente manchadas de sangue), dizendo: “Esta é a veste que tiraram dele, que foi trocada por um Traje de Condenação”. O homem então exibe uma mortalha para a platéia. “Isto significa que ele está num caixão”.

Sarpanit aproxima-se de uma estrutura que simboliza a Montanha. Ela vê um grupo de carpideiras. O roteiro explica:

Essas são as que lamentam depois que os deuses o trancaram, separando-o dos vivos.
Na Casa do Cativeiro, longe do sol e da luz, eles o prenderam.

O drama chega ao clímax: Marduk está morto…

Mas… Esperem, nem tudo está perdido! Sarpanit recita u-ma súplica aos dois deuses capazes de falar com Inanna a respeito de seu marido: seu Pai, Nannar/Sin, e seu irmão, Utu/Shamash. “Ela reza para Sin e Shamash, dizendo: ‘Dêem vida a Bel’.”

Sacerdotes, astrólogos e mensageiros entram no palco numa procissão, recitando preces e encantamentos, para fazer sacrifícios em honra de Inanna/Ishtar, pedindo sua misericórdia. O sumo sacerdote roga ao deus supremo e também a Sin e Shamash: “Devolvam Bel à vida!”.

O drama agora muda inesperadamente. O ator que faz o papel de Marduk, vestindo uma mortalha “tinta de sangue”, de repente começa a falar: “Não sou um pecador! Não serei exterminado!”. Em seguida anuncia que o deus supremo reviu seu caso e considerou-o inocente.

Mas, então, quem era o assassino? A atenção da platéia é desviada para a “porta de Sarpanit na Babilônia” e fica sabendo que o verdadeiro deus culpado foi capturado e vê sua cabeça por uma fresta da porta. “Essa é a cabeça do malvado, que será executado”.

Nabu, que retornara a Borsippa, volta para “parar diante do malvado e olhá-lo bem de perto”. Não ficamos sabendo a identidade do verdadeiro culpado, mas somos informados de que Nabu já o vira antes na companhia de Marduk. “Este é o pecador”, diz ele, selando o destino do cativo.

Os sacerdotes agarram o malvado, e ele é executado. “Aquele que cometeu o pecado” é levado num caixão. O assassino de Dumuzi pagou o crime com a própria vida.

Mas o pecado de Marduk, o de ser o causador indireto da mor-te de Dumuzi, pode ser reparado? Sarpanit reaparece em cena, u-sando as Vestes da Expiação. Ela limpa simbolicamente o sangue que foi derramado e em seguida lava as mãos em água purificada. “Esta é a água para a lavagem de mão que trouxeram depois de o Malvado ter sido levado embora.” Tochas são acesas em “todos os lugares sagrados de Bel”, e novamente todos dirigem súplicas ao deus supremo. A supremacia de Ninurta, que fora proclamada por ocasião de sua vitória sobre Zu, é reassegurada, aparentemente para aplacar qualquer receio de que Marduk, libertado, pudesse tentar contestá-la. Os rogos se sucedem até que o deus supremo envia um mensageiro divino, Nusku, para “anunciar as boas novas”.

Num gesto de boa vontade, Gula, a consorte de Ninurta, envia a Sarpanit novas roupas e sandálias para ser entregues a Marduk. A carruagem do deus, sem o condutor, é trazida à cena. Mas Sarpanit está confusa; não entende como Marduk poderá ser libertado, se estava preso numa tumba lacrada. “Como poderão colocar em liberdade aquele que não tem como sair?”

Nusku, o mensageiro divino, explica que Marduk passará pelo SA.BAD, a “abertura superior entalhada”. Conta que ela é:

Dalta biri ska iqabani ilani
Uma porta-túnel que os deuses perfurarão

Shunu itasrushu ina biti etarba
Seu vórtice eles levantarão, em sua morada reentrarão.

Dalta ina panishu etedili
A porta que foi barrada diante dele

Shunu harrate ina libbi dalti uptalishu
No vórtice do buraco, dentro das entranhas, uma porta eles perfurarão.

Qarabu ina libbi uppashu
Aproximando-se, em suas entranhas forçarão uma passagem.

Essa descrição de como Marduk seria libertado permaneceu sem sentido para muitos estudiosos. Todavia, para nós, o significado está mais do que claro. Como explicamos anteriormente, o segmen-to irregular e grosseiro C do Poço da Pirâmide não existia quando a construção foi concluída nem quando Marduk foi encarcerado. Ele foi o túnel que os deuses abriram para libertar o prisioneiro perdo-ado.

Como ainda estavam familiarizados com a disposição interior da estrutura, os Anunnaki perceberam que o caminho mais curto para chegarem a Marduk, faminto e sedento, seria abrindo uma passagem unindo os segmentos B e D do Poço de construção, o que representaria escavar um túnel de pouco mais de dez metros através dos relativamente moles blocos de calcário, uma tarefa que poderia ser realizada em poucas horas.

Removendo a pedra que cobria a entrada do Poço no Corredor Descendente, os salvadores entraram no trecho G e subiram rapidamente pelos segmentos inclinados E e F. No local onde E se ligava com o trecho vertical D, existia uma pedra de granito cobrindo a entrada na Gruta. Ela foi empurrada para um lado – e ainda continua nessa posição. Os salvadores galgaram a pequena distância até o alto de D e viram-se diante do primeiro curso de blocos de calcá-rio da pirâmide.

Cerca de dez metros acima ficava o fundo do trecho vertical B e o caminho para a Grande Galeria. Quem mais, senão os que ti-nham construído a pirâmide poderiam saber de suas seções superio-res lacradas e tinham as plantas do projeto para localizá-las?
Portanto, nossa teoria é que foram os salvadores de Marduk que escavaram o trecho C, usando ferramentas para “perfurar uma porta-túnel”.

Tendo atingido B, eles passaram para a pequena passagem horizontal A, onde um estranho, sem conhecimento do interior da i-mensa estrutura, teria parado mesmo se tivesse conseguido chegar até lá, pois só o que teria visto era uma parede de caleário sólido. Por isso, sugerimos que só os Anunnaki, que tinham em mãos a plan-ta do projeto da Grande Pirâmide, poderiam saber que atrás do bloco de caleário que tinham diante deles ficava a imensa cavidade da Grande Galeria e todas as outras partes superiores.

Para eles conseguirem acesso a essas câmaras e passagens, eles teriam de remover a pedra de rampa em forma de cunha, mas ela estava ajustada demais e não podia ser movida.

Se ela pudesse ter sido puxada, continuaria ali, na Grande Ga-leria. No entanto, o que vemos é um buraco, e todos os que o exa-minaram atentamente usaram a palavra explodido para descrevê-lo, afirmando que a explosão não foi de dentro da Galeria, mas a partir do Poço. Segundo Rutherford, em Pyramidology, “o buraco parece ter sido explodido por uma força tremenda vinda do interior do Po-ço”.

Mais uma vez os textos mesopotâmicos nos dão a solução do mistério. A pedra de fato foi retirada a partir do interior do trecho A. Como diz o verso final do texto que vimos: “Aproximando-se, em suas entranhas forçarão uma passagem”. Os fragmentos do bloco de calcário deslizaram pelo Corredor Ascendente abaixo até chegarem aos tampões de granito, e foi ali que os homens de Al-Mamun os encontraram. A explosão também cobriu a Grande Galeria com o pó fino e branco que os árabes encontraram – uma prova muda da anti-ga explosão e do enorme buraco que deixou.

Tendo entrado na Grande Galeria, os salvadores retiraram Marduk por onde tinham ido. A entrada pelo Corredor Descendente foi novamente fechada, mas já não com tanto cuidado, pois os ho-mens de Al-Mamun a encontraram com facilidade. Já os tampões de granito continuaram no mesmo lugar, com a pedra triangular escon-dendo-se da vista, e assim o Corredor Ascendente continuou ignora-do por milênios. E, no interior da pirâmide, as partes superiores e inferiores originais do Poço ficaram para sempre ligadas por um túnel tortuoso, grosseiramente escavado.

E quanto ao prisioneiro da pirâmide?

Os textos mesopotâmicos contam que ele foi exilado. No Egito, Ra adquiriu o epíteto de Amen, “O Escondido” ou “O Oculto”.

Por volta de 2000 a.C., Ra/Marduk reapareceu para novamente exigir a supremacia. Por causa disso, a espécie humana terminou pagando um preço por demais amargo.

Fonte: As Guerras de Deuses e Homens – Zecharia Sitchin

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As guerras da pirâmide

Publicado por: luxcuritiba em abril 19, 2008

“No ano 363, Sua Majestade Ra, o Santo, o Falcão do Horizon-te, o Imortal que vive eternamente, estava no país de Khenn. Seus guerreiros o acompanhavam, pois os inimigos tinham conspirado contra seu senhor… Hórus, o Medidor Alado, foi ao barco de Ra e disse ao seu ancestral: ‘Ó, Falcão do Horizonte, vi o inimigo conspi-rar contra vossa soberania, tomar a Coroa Luminosa para si’… Então Ra, o santo, o Falcão do Horizonte, disse a Hórus, o Medidor Alado: ‘Altíssimo descendente de Ra, meu filho: vá rápido, arrasa o inimigo que vistes’”.

Assim começa a lenda que foi escrita nas paredes de templos da antiga cidade egípcia de Edfu. Essa história, acreditamos, conta sobre o evento que só poderia ser chamado de A Primeira Guerra da Pirâmide – um conflito com raízes na interminável disputa pelo con-trole da Terra e suas instalações espaciais, e nas tramas dos Grandes Anunnaki, especialmente de Enki/Ptah e seu filho Ra/Marduk.

Segundo Manetho, Ptah abdicou do domínio sobre o Egito depois de um reinado de 9000 anos; o de Ra foi interrompido depois de 1000 anos devido ao Dilúvio, como vimos anteriormente. Seguiu-se então o reinado de Shu, que ajudou Ra a “encontrar os céus so-bre a Terra”, com a duração de setecentos anos, e nos quinhentos anos seguintes reinou Geb (“Que Empilha a Terra”). E foi no reinado de Geb, por volta de 10.000 a.C. que as instalações espaciais – o espaçoporto no Sinai e as pirâmides de Gizé – foram construídas.

Embora a península do Sinai, localização do espaçoporto, e as pirâmides de Gizé supostamente permanecessem neutras sob a égi-de de Ninharsag, é duvidoso que os construtores dessas instalações – Enki e seus descendentes – tivessem mesmo a intenção de abrir mão do controle sobre elas. Um texto sumério, que começa com uma descrição idílica, chamada pelos estudiosos “O Mito do Paraí-so”, mas cujo nome era realmente Enki e Ninharsag é, de fato, um registro do relacionamento amoroso com objetivos políticos entre os dois, uma lenda que fala sobre o trato que Enki e sua meia-irmã fizeram sobre o controle do Egito e da península, portanto, das pirâmides e do espaçoporto.

A história se passa depois que a Terra foi dividida entre os A-nunnaki, cabendo Tilmun (a península) a Ninharsag, e o Egito ao clã de Enki. Este atravessou os lagos pantanosos que separavam os dois territórios e procurou a solitária Ninharsag para uma orgia amorosa:

Para aquela que está solitária,
Para a Senhora da Vida, dona da terra.
Enki, que procurou a sábia Senhora da Vida.
Faz seu falo cobrir de água os diques;
Faz seu falo submergir os juncos…
Ele derramou seu sêmen na grande dama dos Anunnaki, derramou o sêmen no ventre de Ninharsag;
Ela recebeu o sêmen no ventre, o sêmen de Enki.

A verdadeira intenção de Enki era conseguir um filho com sua meia-irmã, mas nasceu uma menina. Enki então teve relações sexuais com sua filha, assim que ela se tornou “jovem e bela”, e pos-teriormente com sua neta. Como resultado dessas estripulias, nas-ceram seis deusas e dois deuses. Irritada com tanto incesto, Ninharsag usou suas habilidades médicas para fazer Enki adoecer. Os Anunnaki que o apoiavam suplicaram pela sua vida, mas Ninhar-sag estava decidida: “Enquanto ele não estiver morto, não o con-templarei com o ‘Olho da Vida!”‘.

Satisfeito em ver Enki finalmente contido, Ninurta – que fora a Tilmun fazer uma inspeção – voltou à Mesopotâmia para relatar os acontecimentos numa reunião em que estavam presentes Enlil, Nannar/Sin, Utu/Shamash e Inanna/Ishtar. Não se contentando com as informações, Enlil deu ordem a Ninurta para voltar a Tilmun e trazer Ninharsag. Nesse ínterim, porém, Ninharsag tivera pena do irmão e mudara de idéia. “Ninharsag sentou Enki perto de sua vulva e perguntou: ‘Meu irmão, onde dói?’”. Em seguida começou a curar o corpo doente de Enki uma parte após outra. Uma vez restabelecido, Enki propôs que os dois, na qualidade de soberanos do Egito e da península do Sinai, designassem tarefas, consortes e territórios aos oito deuses jovens, seus descendentes:

Que Abu seja o senhor das plantas; que Nintulla seja o gover-nante de Magan; que Ninsutu case-se com Ninazu; que Ninkaski seja aquela que sacia a sede; que Nazi case-se com Nindara; que Azimua se case com Ningishzida; que Nintu seja a rainha dos meses; que Enshag seja o governante de Tilmun!

Os textos teológicos egípcios descobertos em Mênfis também afirmam que oito deuses “vieram à existência” a partir do coração, da língua, dos dentes, dos lábios e de outras partes do corpo de Ptah. E nesses relatos, como na lenda mesopotâmica, depois do nascimento desses filhos Ptah designou domicílios e territórios para eles: “Após ter formado os deuses, ele fez cidades, estabeleceu distritos, colocou os deuses em suas moradas sagradas; construiu seus santuários e determinou que oferendas eles deveriam receber”. E Ptah fez tudo isso “para alegrar o coração da Dona da Vida”.

Se, como tudo indica, essas lendas tiveram base em fatos, as rivalidades resultantes dessa confusão de parentesco só poderiam se agravar com as peripécias sexuais de Ra, o herdeiro legal de Ptah. A mais significativa delas está por trás da afirmativa de que Osíris era na verdade filho de Ra e não de Geb, tendo sido concebi-do quando o avô fora procurar a neta em segredo. E, como relata-mos antes, esse era o evento que estava no cerne do conflito Osíris-Set.

E por que Set, que recebera o Alto Egito de Geb, cobiçava tanto o Baixo Egito, concedido a Osíris? Os egiptólogos têm explica-do isso falando em termos de geografia, fertilidade do solo etc. Mas, como já mostramos, havia mais um fator e, do ponto de vista dos deuses, muito mais importante do que o número de safras que uma determinada região poderia render: a Grande Pirâmide e suas companheiras em Gizé. Quem as controlasse tinha nas mãos todas as operações das atividades espaciais, as idas e vindas dos deuses e a vital linha de suprimentos entre a Terra e o 12º. Planeta.

Por algum tempo, depois de matar Osíris, Set conseguiu tornar realidade sua ambição. Mas “no ano 363” de seu reino, o jovem Hórus apresentou-se como o vingador do pai e declarou guerra con-tra Set – A Primeira Guerra da Pirâmide. E foi nela, como vimos an-teriormente, que pela primeira vez os deuses envolveram os homens em suas lutas.

Apoiado por outros deuses da linhagem de Enki que reinavam na África, Hórus começou as hostilidades no Alto Egito. Usando o Disco Alado que Thot fizera, ele foi avançando para o norte, na direção das pirâmides. Uma importante batalha aconteceu no “distrito das águas”, a cadeia de lagos que separa o Egito da península de Sinai, e muitos dos seguidores de Set foram mortos. Depois que os esforços dos outros deuses em favor da paz provaram ser inú-teis, Hórus e Set engalfinharam-se num combate pessoal sobre a península. Durante uma das batalhas, Set escondeu-se em “túneis secretos”, localizados em algum lugar da península. Numa outra, ele perdeu os testículos. Por isso, o Conselho dos Deuses deu todo o Egito “como herança… para Hórus”.

E o que aconteceu com Set, um dos oito deuses descendentes de Ptah?
Os textos egípcios contam que ele foi banido do país e passou a morar nas terras asiáticas ao leste, entre as quais se incluía um lugar que lhe permitia “falar a partir do céu”. Seria Set o deus En-shag da lenda suméria sobre Enki e Ninharsag, aquele ao qual coube Tilmun (a península do Sinai) na divisão feita pelos dois amantes? Então ele também seria o deus egípcio (camita) que ampliou seus domínios, abrangendo também a terra de Sem ou Shem, mais tarde conhecida como Canaã.

Esse resultado da Primeira Guerra da Pirâmide explica muitas histórias da Bíblia. E nele também estão as causas da Segunda Guerra da Pirâmide.

Depois do Dilúvio, além de um espaçoporto e instalações de orientação, foi preciso estabelecer um novo Centro de Controle da Missão, que antes ficava situado em Nippur. Em A Escada para o Céu, mostramos que a necessidade de ele ficar eqüidistante das outras instalações relacionadas com as atividades espaciais determi-nou sua localização no monte Moriá (“O Monte de Dirigir”), local da futura cidade de Jerusalém.

Esse monte, tanto pelos relatos mesopotâmicos como pelos egípcios, ficava nas terras de Sem, e, portanto estava dentro dos domínios dos enlilitas (clã de Enlil). No entanto, ele terminou sob uma ocupação ilegal pela linhagem de Enki (os deuses camitas) e pelos descendentes de Canaã, o Camita.

O Antigo Testamento se refere ao país do qual Jerusalém veio a se tornar a capital como Canaã, nome do quarto filho de Cam. A Bíblia também escolhe Canaã para ser o objeto de uma reprimenda especial e determina que seus descendentes serão submissos aos descendentes de Sem. A improvável explicação para esse tratamen-to é que Cam – e não seu filho Canaã – viu os órgãos genitais de seu pai, Noé. Portanto, o Senhor amaldiçoou Canaã: “Maldito seja Cana-ã! Que ele seja para seus irmãos o último dos escravos… Bendito seja Iahweh, o Deus de Sem, e que Canaã seja seu escravo”!

Essa história do Livro do Gênesis deixa muitos aspectos sem explicação. Por que Canaã foi o amaldiçoado, quando foi seu pai que transgrediu acidentalmente? Por que seu castigo foi ser escravo de Sem e do deus de Sem? Como os deuses se envolveram no crime e seu castigo? Quando lemos o Livro dos Jubileus, ex-bíblico, fica claro que a verdadeira ofensa foi a ocupação ilegal do território de Sem.
Conta o Livro dos Jubileus que depois que a humanidade se dispersou e que seus vários clãs foram para os territórios para eles determinados, “Cam e seus filhos foram para a terra que ele deveria ocupar, a parte que lhe cabia no país do sul”. Mas, enquanto viajava do local onde Noé fora salvo para o território que lhe fora designa-do na África, “Canaã viu o país do Líbano até o rio do Egito e lhe pareceu muito bom”, então mudou de idéia: “Ele não foi para a ter-ra que havia herdado, a oeste do mar [mar vermelho], e ficou resi-dindo no país do Líbano, a leste e a oeste do Jordão”.

O pai e os irmãos de Canaã tentaram demovê-lo desse ato ilegal: “Cam, seu pai, Cuch e Mesraim, seus irmãos, disseram: ‘Tu te estabeleceste num país que não é teu, que não coube a nós; não faça isso, pois, se persistires, tu e teus filhos cairão em desagrado na Terra e serão acusados de sedição; pois por sedição tu te estabe-leceste, por sedição teus filhos cairão em desagrado, e vós sereis erradicados para sempre. Não resida no lugar de moradia de Sem, pois para Sem e seus filhos ela foi aquinhoada”‘.

Se Canaã insistisse em ocupar territórios alocados a Sem, eles acrescentaram: “Maldito és tu e maldito serás entre os filhos de Noé, pois nos comprometemos por um juramento na presença do Sagrado Juiz e na presença de nosso pai, Noé”…

“Mas Canaã não lhes deu ouvidos e morou no país do Líbano de Hamat até a entrada do Egito, onde estão ele e seus filhos até ho-je. Por esse motivo aquele país é chamado de Canaã.”

Devemos ter em mente que, naquela época, a partilha das terras foi feita entre deuses, não entre homens; portanto, os deu-ses e não os povos eram os donos dos territórios. Um povo só podia se estabelecer nas terras alocadas ao deus que ele venerava e só entrava no território de outros deuses se seu próprio deus tivesse estendido seu domínio sobre essas áreas por meio de acordos ou através da força. Portanto, a ocupação ilegal das terras entre o espaçoporto no Sinai e o Local de Aterrissagem em Baalbek por um descendente de Cam só poderia ter acontecido como resultado da usurpação da área por um descendente das deidades camitas, ou seja, por um dos deuses mais jovens do Egito.

E isso aconteceu, como vimos, em resultado da Primeira Guerra da Pirâmide.

A entrada de Set na região da futura Canaã significava que todos os locais relacionados com as atividades espaciais – Gizé, a pe-nínsula do Sinai, o monte Moriá – estavam sob o controle dos deuses Enki, algo que os enlilitas não podiam aceitar. Assim, logo depois – trezentos anos, acreditamos -, estes lançaram-se numa guerra para expulsar os ocupantes ilegais das instalações espaciais.

Essa guerra, que chamamos de Segunda Guerra da Pirâmide, foi extensamente comemorada nos registros sumérios, tanto por meio de crônicas escritas como em descrições pictóricas. Vários textos descobertos na Mesopotâmia – alguns em sumério original, outros versões acadianas ou assírias, que os estudiosos chamam de “Os Mitos de Kur” (os “mitos” das Terras das Montanhas) – são de fato crônicas em linguagem poética da guerra para se obter o controle das montanhas relacionadas com as atividades espaciais: o monte Moriá, o Harsag (monte Santa Catarina) e o monte artificial situado no Egito, o Ekur (a Grande Pirâmide).

Fica claro a partir desses textos que as forças enlilitas eram comandadas por Ninurta, “o principal guerreiro de Enlil”, e que os primeiros confrontos tiveram lugar na península do Sinai. Os deuses camitas foram derrotados, mas recuaram para continuar a guerra a partir das terras montanhosas da África. Ninurta prosseguiu avançando, e na segunda fase do conflito levou os combates até as for-talezas de seus inimigos, onde houve lutas ferozes e sangrentas. O teatro da fase final da guerra foi a Grande Pirâmide, o último e impenetrável baluarte dos opositores de Ninurta. Ali os deuses ca-mitas foram sitiados até se verem sem água e sem comida.

Os hinos a Ninurta contêm numerosas referências aos seus fei-tos e façanhas heróicas na guerra. Uma grande parte do salmo “Co-mo Anu És Feito” é um registro do conflito e da vitória final. No entanto, a principal e mais direta crônica da guerra é o texto épico Lugal-e Ud Melam-bi, que foi bem agrupado e editado por Samuel Geller em Altorientalische Texte und Untersuchungen. Como todos os outros textos mesopotâmicos, ele tem como título sua linha de abertura:

Rei, a glória de teu dia é fidalga;
Ninurta, o mais importante, possuidor dos Poderes Divinos, que as amarguras das Terras da Montanha enfrentou.
Como uma inundação que não pode ser contida, a Terra dos Inimigos cercaste como se a cingisse com um cinturão.
Mais importante de todos, que na batalha entra com veemência; herói, que na mão carrega a Arma Brilhante Divina;
Senhor: a Terra da Montanha submeteste como tua criatura.
Ninurta, filho real, cujo pai lhe concedeu poder; herói: por medo de ti, a cidade se rendeu…
Ó, poderoso…
A Grande Serpente, o deus heróico, arrancaste de todas as montanhas.

Ao exaltar Ninurta, seus feitos, sua Arma Brilhante, o poema também informa a localização do conflito (“as Terras da Montanha”) e quem era o principal inimigo: “A Grande Serpente”, líder das dei-dades egípcias. O poema sumério identifica várias vezes esse adver-sário como Azag, e uma vez o chama de Ashar, ambos epítetos bem conhecidos para Marduk, estabelecendo dessa forma os dois princi-pais filhos de Enlil e de Enki – Ninurta e Marduk – como os líderes das facções opostas na Segunda Guerra da Pirâmide.

O poema foi escrito em treze plaquinhas de argila, e a segun-da descreve a primeira batalha. A superioridade de Ninurta é atribuída tanto às suas armas divinas como a um novo veículo aéreo que ele mesmo construiu copiando um original que fora destruído num acidente.
O nome desse veículo era IM.DU.GUD, que em geral é traduzido como “O Divino Pássaro da Tempestade”, mas literalmente significa “Aquele que Corre como uma Heróica Tempestade”. Sabe-mos a partir de vários textos que a envergadura desse aparelho era de cerca de 25 metros.

Os desenhos arcaicos o mostram como um “pássaro” de construção mecânica, com suas asas enrijecidas por barras em treliça. A borda posterior das asas mostra uma série de orifícios, talvez en-tradas de ar para motores a jato ou similares. Essa aeronave, de milênios atrás, revela uma notável semelhança não apenas com os primeiros aviões da era moderna como uma similaridade impressio-nante com o desenho feito em 1497 por Leonardo da Vinci, mos-trando seu conceito sobre uma máquina voadora impulsionada por um homem.

O Imdugud serviu de inspiração para o emblema de Ninurta: um heróico pássaro com cabeça de leão pousado sobre dois leões ou sobre dois touros. E era nessa “embarcação feita artesanalmente” – um veículo manufaturado -, que “na guerra destrói as residências principescas”, que Ninurta cruzava os céus durante as batalhas da Segunda Guerra da Pirâmide. Ele voava tão alto que seus compa-nheiros o perdiam de vista. Então, como contam os textos, “em seu Pássaro, contra a morada fortificada”, ele mergulhava. “Quando seu Pássaro se aproximava do solo, despedaçava o cume [da fortaleza inimiga]”.

Expulso de suas fortalezas, o inimigo começou a recuar. Enquanto Ninurta mantinha o ataque frontal, Adad concentrava-se nos campos através das linhas inimigas, destruindo os suprimentos de comida do adversário: “No Abzu, Adad fez os peixes serem levados para longe pelas águas… o gado ele dispersou”. Enquanto os inimi-gos continuavam a recuar, os dois deuses “como uma terrível inun-dação as montanhas devastaram”.

Enquanto os combates aumentavam em abrangência e dura-ção, os dois principais deuses conclamaram os outros a se juntarem a eles.
“Senhor, por que não vais à batalha que se torna cada vez mais extensa”? Perguntaram a um deus cujo nome está faltando num verso danificado. Sem dúvida, eles fizeram a pergunta também a Ishtar, pois ela é especificamente mencionada: “No choque entre as armas, nos feitos heróicos, Ishtar não conteve seu braço”. Quan-do os dois deuses a viram, gritaram, incentivando-a: “Avança sem parar! Ponha teu pé firmemente na Terra! Esperamos-te nas monta-nhas”!

“A arma que é divinamente brilhante a deusa trouxe… um chifre [para dirigi-la] confeccionou para ela”. Enquanto usava essa arma contra o inimigo, num feito “que será lembrado em dias dis-tantes”, “os céus estavam da cor da lã vermelha”. O raio explosivo “rasgou o inimigo, o fez com a mão agarrar o coração”.

As plaquinhas V-VIII estão danificadas demais para ser lidas adequadamente. No entanto, os trechos de versos sugerem que depois da intensificação do ataque, devido ao auxílio de Ishtar, houve grande clamor e lamentação na Terra do Inimigo. “O medo do brilho de Ninurta apoderou-se da Terra”, e seus moradores tiveram de usar substitutos para o trigo e a cevada “para moer e usar como farinha”.

As forças inimigas continuavam recuando para o sul. Foi então que a guerra tornou-se mais feroz e sangrenta. Ninurta liderou os deuses enlilitas num ataque contra o coração do domínio africano de Nergal, a cidade-templo Meslam. Eles incendiaram os campos e fizeram os rios correrem vermelhos como sangue de pessoas inocentes: homens, mulheres e crianças do Abzu.

Os versos que descrevem esse aspecto da guerra estão danifi-cados nas plaquinhas que contêm o texto principal; todavia, seus pormenores podem ser lidos em várias tabuinhas quebradas que tratam da “conquista da Terra” por Ninurta, um feito pelo qual ele ga-nhou o título de “Vencedor de Meslam”. Nessas batalhas, os atacantes recorreram à guerra química. Lemos que Ninurta fez chover sobre a cidade, mísseis carregados de veneno, “que lançou da cata-pulta”; o veneno, por si só, “destruiu a cidade”.

Os que sobreviveram ao ataque fugiram para as montanhas vi-zinhas. Mas Ninurta, “com a Arma que Aniquila, incendiou as montanhas; a divina Arma dos Deuses, cujo Dente é amargo, destruiu o povo”. Neste trecho também está sugerido um tipo de guerra quími-ca:

A Arma que Rasga roubou os sentidos; o Dente arrancou-lhes a pele.
Rasgando, ele estendeu-se sobre a terra; os canais da Terra Inimiga encheram-se de sangue para os cães lamberem como leite.

Derrotado pelo ataque cruel, Azag conclamou seus seguidores a não oferecerem mais resistência: “O inimigo sublevado chamou sua esposa e filhos: contra o senhor Ninurta não levantou o braço. As armas de Kur foram cobertas de terra” (ou seja, escondidas); “Azag não as levantou”.

Ninurta encarou a falta de resistência como um sinal de vitó-ria. Um texto publicado por F. Hrozny (“Mythen von dem Gotte Ni-nib”) relata como, depois de ter matado os oponentes que ocupa-vam a terra de Harsag (a península do Sinai), ele partiu “como um Pássaro” para atacar os deuses que “tinham recuado para trás de suas muralhas”, em Kur, vencendo-os nas montanhas. Ninurta então cantou vitória:

Meu assustador Brilho, como o de Anu, é poderoso; contra ele, quem pode se levantar?
Sou o senhor das montanhas altas, das montanhas que para o horizonte erguem seus picos. Nas montanhas, sou o senhor.

O grito de vitória, contudo, foi prematuro. Usando a tática de não-resistência, Azag escapara da derrota. A capital podia estar destruída, mas os líderes do Inimigo continuavam incólumes. Em termos sóbrios, o texto Lugal-e observa: “o escorpião de Kur, Ninur-ta não aniquilou”. Os deuses inimigos recuaram para a Grande Pirâmide, onde o “Sábio Artífice” (Enki? Thot?) ergueu uma muralha pro-tetora que “O Brilho não seria capaz de enfrentar”, um escudo que os raios mortais não conseguiriam penetrar.

Nosso conhecimento dessa fase final e mais dramática da Segunda Guerra da Pirâmide é ampliado a partir de textos que contam o outro lado da história. Os seguidores de Nergal também compuseram hinos em louvor a ele. Alguns foram reunidos por J. Bollen-rücher em Gebete und Hymnem an Nergal.

Recordando os feitos heróicos de Nergal nessa guerra, os tex-tos contam de que forma, depois que os outros deuses viram-se sitiados dentro do complexo de Gizé, ele – “Altíssimo Amado Dragão de Ekur” – “saiu na calada da noite” e, portando armas impressionantes e acompanhado de seus tenentes, rompeu o cerco para atingir o Ekur (a Grande Pirâmide). Atingindo-a na escuridão, entrou pelas “portas trancadas que se abrem sozinhas”. Um clamor de boas-vindas o saudou enquanto entrava:

Divino Nergal,
Senhor que na calada da noite esgueirou-se e veio para a batalha!
Ele estala o chicote, suas armas tilintam…
Ele que é bem recebido, seu poder é imenso.
Como um sonho, na soleira ele apareceu.
Divino Nergal, Aquele que é Bem-vindo:
Combata o inimigo do Ekur.
Contenha o Louco de Nippur!

Mas as grandes esperanças dos deuses sitiados logo se desvaneceram. Ficamos sabendo mais sobre as últimas fases dessa Guerra da Pirâmide a partir de um outro texto, que foi reunido primeiro por George A. Barton (Miscellaneous Babylonian Texts) com base em pedaços de um cilindro de argila com inscrições, descoberto nas ruínas do templo de Enlil em Nippur.

Ao juntar-se aos defensores da Grande Pirâmide (“a Casa Formidável que se Ergue como um Monte”), Nergal fortaleceu suas de-fesas por meio de vários cristais emissores de raios (“pedras”) posi-cionados no interior da estrutura:

A Pedra-Água, a Pedra-Ápice, a Pedra-…, a…
…O senhor Nergal aumentou sua força.
A porta de proteção ele…
Para o céu seu Olho levantou, escavou fundo aquilo que dá vida… …na casa alimentou-os com comida.

Constatando o fortalecimento das defesas, Ninurta recorreu a uma outra tática. Mandou Utu/Shamash cortar o suprimento de á-gua da pirâmide mexendo no “riacho aquoso” que corria junto às suas fundações. A partir desse ponto o texto está danificado demais para permitir uma leitura de pormenores, mas tudo indica que a tática surtiu efeito.

Amontoados em seu último baluarte, sem água e sem comida, os deuses sitiados fizeram o possível para rechaçar os atacantes. Até então, apesar da ferocidade das batalhas, nenhum deus importante fora morto ou gravemente ferido. Mas agora, um dos mais jovens – Hórus, acreditamos -, que tentava esgueirar-se da Grande Pirâmide disfarçado de carneiro, foi atingido pela Arma Brilhante de Ninurta e perdeu a visão. Um dos deuses mais velhos então lançou um apelo a Ninharsag, famosa por seus feitos médicos, para salvar a vida do jovem:

Naquela hora, veio o Resplendor Assassino; a plataforma da Casa resistiu ao senhor.
Para Ninharsag houve um grito: …”A arma… meu descendente com a morte está amaldiçoado”…

Outros textos sumérios chamam esse jovem deus de “filho que não conheceu o pai”, um epíteto bem adequado a Hórus, que nasceu depois da morte de Osíris. A Lenda do Carneiro, pertencente ao folclore do Antigo Egito, conta sobre os ferimentos que Hórus sofreu nos olhos quando um deus “soprou fogo” nele.

Foi então, atendendo à súplica, que Ninharsag resolveu intervir para pôr fim às lutas.

A nona plaquinha do texto Lugal-e começa com as palavras da deusa, dirigindo-se ao comandante enlilita, seu próprio filho Ninur-ta, “filho de Enlil… o Herdeiro Legítimo nascido da irmã-esposa”. Em versos que muito nos revelam, ela anuncia sua decisão de atra-vessar a linha de batalha e fazer cessar as hostilidades.

À Casa onde Começa a Medição com o Cordão, onde Asar ergueu os olhos para Anu, eu irei.
O cordão cortarei pelo bem dos deuses que guerreiam.

Seu destino era “A Casa onde Começa a Medição com o Cordão”, a Grande Pirâmide!

Ninurta foi o primeiro a se assustar com a decisão da mãe de “entrar sozinha na terra do inimigo”, mas, ao ver que ela estava decidida, deu-lhe roupas “que a fazia sem medo” (da radiação deixada pelos aparelhos emissores de raios?). Enquanto Ninharsag a-proximava-se da pirâmide, dirigiu-se a Enki: “Ela grita para ele… roga a ele”. A conversa entre os dois está perdida devido à rachadu-ra na plaquinha, mas Enki concordou em entregar a pirâmide a Ni-nharsag:

A Casa que é como um monte, aquela que como uma pilha ergui… Sua dona podes ser.

Havia, porém, uma condição: a rendição estaria sujeita a uma resolução final do conflito até a “hora de determinação do destino”. Prometendo transmitir as condições de Enki, Ninharsag foi falar com Enlil.

Os eventos que se seguiram estão registrados em partes no épico Lugal-e e em outros fragmentos de textos, mas onde os en-contramos mais dramaticamente descritos é numa plaquinha com o título Canto a Canção da Mãe dos Deuses. Tendo sobrevivido quase integralmente por ter sido copiado e recopiado em todo o Oriente Médio da Antiguidade, esse texto foi publicado primeiro por P. Dhorme em seu estudo La Souseraine des Dieux. Trata-se de um poema em louvor de Ninmah (a “Grande Senhora”) e seu papel como Mammi (“Mãe dos Deuses”) nos dois lados do campo da batalha.

Abrindo com um apelo, para “os camaradas em armas e os combatentes ouvirem”, o poema descreve brevemente a guerra e seus participantes, falando de sua extensão quase global. Num lado estavam “O primogênito de Ninmah” (Ninurta) e Adad, aos quais logo se juntaram Sin e em seguida Inanna/Ishtar. No outro lado estão citados Nergal, um deus chamado de “Altíssimo, Poderoso”, que se-ria Ra/Marduk, e o “Deus das duas Grandes Casas” (as duas grandes pirâmides de Gizé), que tentara escapar camuflado com uma pele de carneiro: Hórus.

Afirmando que estava agindo com a aprovação de Anu, Ninhar-sag levou a oferta de rendição de Enki para Enlil, com quem se en-controu na presença de Adad (enquanto Ninurta permanecia no campo de batalha). “Ó, ouçam minhas preces”! Ela implorou aos dois, quando começou a explicar suas idéias. De início, Adad mos-trou-se irredutível:

Apresentando-se ali, à Mãe, Adad disse:
“Estamos esperando vitória, as forças do inimigo foram derrotadas”.
“O tremor da terra ele foi incapaz de suportar”.

Se Ninharsag quisesse o término das hostilidades, acrescentou Adad, ela deveria conversar tendo como base o fato de que os enli-litas estavam para vencer:

“Levante-se e vá”. Converse com o inimigo.
“Que ele esteja presente às discussões, para que o ataque seja retirado”.

Enlil, numa linguagem menos incisiva, apoiou a sugestão:

Enlil abriu a boca; na assembléia dos deuses falou:
“Como Anu reuniu os deuses na montanha, para a guerra desencorajar, para a paz trazer, e enviou a Mãe dos Deuses para a mim suplicar…
“Que a Mãe dos Deuses seja uma emissária”.

Virando-se para a irmã, disse num tom conciliatório:

“Vá, apazigúe meu irmão”!
Levante-lhe uma mão para a Vida; que ele saia pela sua porta trancada”!

Atendendo a sugestão, Ninharsag “o irmão foi buscar, colocando suas preces diante do deus”. Então informou-o de que sua segurança e a de seus filhos estava garantida: “pelas estrelas ela deu um sinal”.
Ao ver Enki hesitar, disse-lhe ternamente: “Venha, deixe-me conduzi-lo para fora”. E Enki deu-lhe a mão…

A Mãe dos Deuses levou Enki e os outros defensores da Grande Pirâmide para o Harsag, onde ela morava. Ninurta e seus guerreiros ficaram vendo os enkitas partir.

E a grande e inexpugnável estrutura ficou desocupada, em silêncio.

Atualmente, quem visita a Grande Pirâmide encontra suas passagens e câmaras nuas e vazias, não vê propósito em sua com-plexa construção nem significado nos nichos e recantos. E tem sido assim desde que os primeiros homens penetraram nessa extraordi-nária estrutura. Porém ela não era assim quando Ninurta entrou nela por volta de 8670 a.C. segundo nossos cálculos. O texto sumé-rio afirma que ele “adentrou o lugar radiante” defendido por seus inimigos. E o que ele fez modificou não apenas o interior e o exte-rior da Grande Pirâmide como também o rumo da vida humana.

Sem dúvida, ao penetrar pela primeira vez na “Casa que é co-mo uma Montanha”, Ninurta estava curioso a respeito do que encontraria lá dentro. Concebida por Enki/Ptah, projetada por Ra/Marduk, construída por Geb, equipada por Thot, defendida por Nergal, que mistérios sobre a orientação no espaço, que segredos de inexpugnável defesa ela guardava?

Na face norte da pirâmide, lisa e aparentemente sólida, uma pedra giratória se abriu para revelar a entrada protegida pelos maciços blocos de pedra assentados em diagonal, formando duas pontas de espada, exatamente como diziam. Uma estreita passagem levava para as câmaras de serviço inferiores, onde Ninurta pôde ver o poço escavado pelos defensores à procura de água subterrânea. No entanto, seu interesse estava voltado para as passagens e câma-ras superiores, onde ficavam as “pedras mágicas”: cristais e outros minerais, alguns terrestres, alguns celestes, dos quais muitos lhe eram desconhecidos.
Eram eles que emitiam os feixes de sinais para a orientação dos astronautas e as radiações para a defesa da estru-tura.

Acompanhado de seu Chefe dos Minerais, Ninurta inspecionou aquela série de “pedras” e instrumentos. Ao parar diante de cada uma, determinava seu destino: ser arrebentada e destruída, levada para exibição ou para ser instalada em outro lugar. Sabemos sobre esses “destinos” e a ordem em que Ninurta foi parando diante das pedras pelo texto escrito nas plaquinhas 10-13 do poema épico Lu-gal-e. É seguindo e interpretando corretamente esse texto que se consegue compreender o propósito e a função de muitas características da estrutura interna da pirâmide.

Subindo a Passagem Ascendente, Ninurta atingiu a junção que ela fazia com a imponente Grande Galeria e uma Passagem Horizontal. Ele entrou primeiro nesta, atingindo uma grande câmara com uma abóbada em formato de V invertido, chamada de “vulva” no poema em louvor a Ninharsag. O eixo mais longo da câmara fica-va exatamente na linha central leste-oeste da pirâmide. Sua emis-são (“um derramar que é como um leão que ninguém se atreve a atacar”) vinha de uma pedra instalada num nicho da parede leste. Era a Pedra SHAM (“Destino”), o coração pulsante da pirâmide, que emitia urna radiação vermelha que Ninurta “viu na escuridão”. O deus, porém, encarou-a como se fosse um monstro, pois durante a batalha, enquanto ele estava no ar, o “forte poder” da pedra fora utilizado para o “agarrar e matar”, para o “segurar com o rastro que extermina”. Então ordenou que ela “fosse arrancada… quebrada… destruída para cair no esquecimento”.

Voltando à junção das passagens, Ninurta entrou na Grande Galeria e inspecionou tudo a sua volta. Aquela era uma visão im-pressionante e incomum que se destacava mesmo levando-se em conta a engenhosidade e complexidade de toda a pirâmide. Diferen-te das passagens estreitas, ela se elevava cerca de 10 metros, es-treitando-se para o alto e em sete etapas, e as paredes pareciam formar costelas. O teto também fora construído em seções inclina-das, cada uma posicionada em relação às paredes laterais num ân-gulo projetado de modo que elas não exercessem pressão no segmento abaixo delas. Enquanto nas passagens estreitas havia apenas “uma luminosidade verde e fraca”, a Galeria cintilava com luzes multicoloridas: “Sua abóbada é como um arco-íris, a escuridão termina ali”. Essas luzes eram emitidas por 27 pares de diferentes cristais embutidos em cavidades igualmente espaçadas, cortadas com precisão nas rampas que acompanhavam o comprimento da Galeria em ambos os lados do piso. Firmemente engastado no seu nicho elaborado, cada cristal emitia uma radiação diferente, dando ao lugar um aspecto iridescente. Ninurta passou por eles rapidamente; sua prioridade era a Câmara Superior e sua pedra pulsante.

No alto da Grande Galeria, o deus chegou a um grande degrau que levava a uma passagem estreita que se abria numa antecâmara de projeto incomum. Lá, três portas levadiças – “a trava, a barra e a fechadura” do poema sumério – estavam engastadas em sulcos nas paredes e pisos, fechando a Grande Câmara hermeticamente. “Ao inimigo ela não se abre; só para Os que Vivem ela é aberta”. Mas então, com um puxar de cordas, as portas foram levantadas e Ni-nurta passou por elas.

Agora ele estava na parte mais restrita (“sagrada”) da pirâmide, de onde a “rede” (um radar?) era “estendida”, para “inspecionar Céu e Terra”. O delicado mecanismo que ela abrigava ficava num baú feito de um único bloco de pedra, posicionado exatamente no eixo norte-sul da pirâmide e que reagia às vibrações com uma res-sonância semelhante à de um sino. O coração da unidade de orien-tação era a Pedra GUG (“Que Determina a Direção”); suas emissões, amplificadas por cinco compartimentos ocos situados acima da câ-mara, enviadas para fora da pirâmide através de dois canais incli-nados que se abriam na face norte e na face sul. Ninurta ordenou que essa pedra fosse destruída: “Então Ninurta, aquele que deter-mina o destino, fez com que naquele dia a pedra Gug fosse tirada de seu buraco e esmagada”.

Para ter certeza de que ninguém jamais tentaria restabelecer as funções de “determinar direção” da pirâmide, Ninurta também ordenou a remoção das três portas levadiças. As primeiras a ser arrancadas foram a Pedra SU (“Vertical”) e a KA.SHUR (“Impressio-nante, Pura que se Abre”). Depois “o herói aproximou-se da Pedra SAG.KAL (‘Pedra Robusta que Fica na Frente’)”. “Reunindo todas as suas forças”, ele a sacudiu, fazendo-a sair de seus sulcos, cortou as cordas que a seguravam “e para o chão determinou seu curso”.

Chegou a vez das pedras e cristais colocados embutidos sobre as rampas da Grande Galeria. Enquanto descia, Ninurta ia parando diante de cada um, decidindo seu destino. Se não fosse por quebras nas plaquinhas de argila em que estão o texto, teríamos os 27 nomes das pedras, mas no estado em que estão conseguimos ler 22 deles. Ninurta ordenou que vários desses cristais ou aparelhos fossem esmagados ou pulverizados; outros, que seriam úteis no novo Centro de Controle da Missão, mandou entregar a Shamash. Os restantes foram transportados para a Mesopotâmia, onde ficariam em exibição no templo dedicado a ele, em Nippur e em outros locais, como provas permanentes da grande vitória dos enlilitas sobre os deuses-Enki.

E tudo isso, afirmou Ninurta, ele fazia não apenas por interes-se próprio, mas também pelas gerações futuras. Dirigindo-se à Grande Pirâmide, disse: “Que o medo de ti seja retirado de meus descendentes; que a paz seja ordenada para eles”.

Restava o ápice da pirâmide, a Pedra UL (“Alta como o Céu”). Ninurta ordenou: “Que os filhos de mulheres não a vejam mais”. E, enquanto a pedra caía, ele gritou: “Que todos se afastem!”. As “Pedras”, que eram um “anátema” para o vencedor da guerra, não existiam mais.

Quando tudo terminou, os camaradas de Ninurta o exortaram a deixar o campo de batalha e voltar para casa. Elogiando-o, disseram: “AN DIM DIM.MA (como Anu tu és feito); A Casa Radiante, onde começa a medição com cordões, a Casa na terra que vieste a co-nhecer – rejubile-se por nela ter entrado. Agora volte para teu lar, onde tua esposa e filho te esperam. Na cidade que amas, em tua morada em Nippur, que teu coração possa repousar… que teu coração se tranqüilize”.

A Segunda Guerra da Pirâmide estava terminada, mas seus feitos, sua ferocidade e a vitória final de Ninurta nas pirâmides de Gizé foram recordados por muito tempo em poemas épicos e can-ções – e num notável desenho gravado num escudo cilíndrico, em que se vê o Pássaro Divino de Ninurta dentro de uma guirlanda de vitória, planando triunfante sobre as duas grandes pirâmides.

E a Grande Pirâmide, nua e vazia, e sem a pedra do ápice, foi deixada intacta ali, como uma testemunha muda da derrota de seus defensores.

Fonte: As Guerras de Deuses e Homens – Zecharia Sitchin

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