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Magníficos artefatos em pedra: evidência de uma cultura preexistente

Posted by luxcuritiba em junho 7, 2012

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Dos tempos pré-dinásticos até o Antigo Império, existem evidências de que os antigos egípcios possuíam uma tecnologia bem desenvolvida para o trabalho em pedra. A julgar pêlos artefatos recuperados, os primeiros egípcios usavam brocas tubulares, serras (tanto braçais como circulares), e tornos para cortar e moldar a pedra em objetos de uso doméstico. Museus em todo o mundo exibem exemplos de utensílios em pedra dos primeiros egípcios, que teste­munham das características sem-par de sua manufatura. São feitos de uma variedade de materiais, de pedras macias, como o alabastro, até a mais dura de que se tem conhecimento, o granito. Essas peças de museu constituem alguns dos artefatos mais belos já encontrados, e, ironicamente, pertencem a um período muito antigo da civilização egípcia. Muitos foram encontrados dentro e em volta da pirâmide escalonada de Djoser, em Saqqara.

Acredita-se que a pirâmide de pedra mais antiga do Egito seja a pirâmide escalonada de Djoser, construída durante a terceira dinastia, por volta de 2630 AEC, e que também foi a primeira no mundo. Aparentemente, também é o úni­co lugar onde utensílios domésticos desse tipo foram encontrados em quanti­dade, embora sir Flinders Petrie, um pesquisador do final do século XIX, tenha descoberto fragmentos de tigelas similares em Gize. Muitas dessas pe­ças em pedra contêm inscrições com símbolos dos primeiros soberanos da era pré-dinástica. Alguns defendem a tese de que é improvável que aqueles que fabricaram as tigelas sejam também os responsáveis pêlos sinais, devido ao estilo primitivo das inscrições. É possível que os egípcios pré-dinásticos te­nham obtido as peças algum tempo depois de elas terem sido confeccionadas e, então, marcado-as com seu sinal de propriedade.

No centro das tigelas abertas e dos pratos, no ponto onde o ângulo de corte muda rapidamente, pode-se ver uma linha circular nítida, estreita e per­feitamente circular, deixada pelo torno (no qual o objeto é preso entre dois eixos revolventes, de maneira que a redução do material acontece por igual em todos os lados). Pedras macias são relativamente fáceis de trabalhar e po­dem ser moldadas com ferramentas simples e abrasivos; entretanto, o grau de precisão empregado na manufatura desses itens rivaliza com a indústria do século XX. Vasos delicados, feitos de pedras quebradiças, como o xisto, eram acabados, torneados e polidos ao ponto de adquirir bordas finas como papel e sem imperfeições. Uma tigela de aproximadamente 22 cm, ocada por uma abertura de 7,5 cm em seu topo, foi tão bem torneada que se equilibra perfei­tamente sobre a extremidade arredondada do seu fundo. Essa extremidade é do tamanho da ponta arredondada de um ovo, o que requer uma espessura si­métrica das paredes, sem qualquer erro substancial.

Objetos elegantes feitos em granito indicam não só o alto grau de destreza atingido, mas, talvez, também um avançado nível de tecnologia. Peças feitas de miolos de granito, de rocha porfírica ou de basalto, eram ocadas por aberturas estreitas e de bordas alargadas, e algumas possuem um longo pescoço.

FIGURA 4.1. ESBOÇO DO FRAGMENTO N. 15 DE PETRIE.

Sir Flinders Petrie, em seu livro de 1883, The Pyramids and Temples of Gizeh, sugere que o torno era um instrumento tão habitual na quarta dinastia quanto é hoje nas modernas oficinas. Tigelas e vasos em diorito, do Antigo Império, em geral apresentam grande habilidade técnica e foram, provavel­mente, moldados em tornos. Uma peça encontrada por Petrie em Gize atesta que o método empregado para remoção de material de fato era o torno, e não o processo de trituração. A tigela deslocou-se do seu eixo central e foi centra­lizada novamente de maneira imperfeita. O torneado anterior não foi completamente retrabalhado, de modo que há duas superfícies resultantes de eixos diferentes, que se encontram numa saliência. O processo de trituração, ou o de abrasão, não produziria essa aparência.

Outro detalhe interessante, observável no fragmento número 15, encon­trado por Petrie, é a circunferência esférica da tigela. Para se conseguir esse efeito, a tigela deve ter sido cortada por uma ferramenta que varria um arco a partir de um centro fixo, enquanto a tigela girava. O centro, ou base, da ferra­menta estava no eixo do torno, para criar a superfície geral da tigela, até o seu limite. Entretanto, como se desejava uma borda no produto final, o centro da ferramenta foi deslocado exatamente com o mesmo raio do seu arco e um novo corte foi feito para criar uma borda na tigela. Segundo Petrie, isso não era um resultado do acaso. A exata circularidade das curvas, sua uniformida­de, e a saliência deixada onde elas se encontram são prova da precisão da manufatura. A peça não foi arredondada, como certamente haveria de ser o caso se houvesse sido feita à mão. É uma prova física do método rigidamente me­cânico de trabalhar as curvas.

Brocas tubulares

Os artesãos do Egito Antigo também usavam brocas para perfurar orifícios. Uma broca tubular é um cilindro oco com dentes em uma das extremidades. Ela funciona com base no mesmo princípio de um desmiolador de maçã: pressionando-a contra um material sólido e girando-a, um miolo cilíndrico era recortado através do objeto pêlos dentes da broca e, então, removido. Bro­cas tubulares variavam em espessura de 0,60 a 12,5 centímetros de diâmetro, e de 0,08 a 0,5 centímetros de espessura.2 Um orifício de 5 centímetros foi o menor encontrado em granito, embora exemplos maiores existam. Em El Bersheh, uma plataforma de rocha calcária foi desbastada (modelada da forma desejada) com retirada de material efetuada por brocas tubulares de 45 cm3. Segundo Petrie, os sulcos circulares que ocasionalmente se intersectam pro­vam que isso foi feito apenas para remover a rocha. Em 1996, uma peça de granito com sulcos espirais em suas porções visíveis foi exposta no Museu do Cairo. Os sulcos apareciam com espaçamento e profundidade uniformes, si­nal óbvio de que foram produzidos por uma broca tubular. Eles não seriam tão consistentes se houvessem sido feitos por pasta abrasiva (uma mistura de areia fina e água que desgastava o material – por exemplo, composto de fric­ção para remover ligeiros arranhados em um revestimento).

Uma broca tubular também foi usada para escavar o sarcófago na câmara do rei da Grande Pirâmide. A despeito do polimento no produto acabado, mar­cas de brocas tubulares foram deixadas no topo, do lado de dentro do sarcófago em seu lado leste. A julgar pelo raio do corte, menor que 5 cm, os pedreiros fize­ram numerosos orifícios, cada qual com vários centímetros de profundidade.

Perto da Esfinge, nos lintéis sobre as portas do Vale do Templo, uma bro­ca tubular foi usada para perfurar o granito. Evidências de brocas tubulares ainda são visíveis na maior parte das entradas do templo. Uma teoria é que esses furos eram usados para segurar no lugar eixos verticais que giravam e funcionavam como dobradiças de portas.

A broca tubular é um método especializado que provavelmente não teria sido desenvolvido sem a necessidade de orifícios grandes. Além disso, fabri­car uma broca forte o suficiente para perfurar granito não é uma tarefa sim­ples nem primitiva. Petrie acreditava que, para criar uma ferramenta capaz de remover rocha dura, as brocas tubulares de bronze eram equipadas com pon­tas de pedras preciosas. É claro que isso indica que mineração, metalurgia e confecção de brocas, para não falar em gerações de experiência com materiais abrasivos e técnicas de fabricação rotatórias, devem ter ocorrido muito tempo antes das estruturas no planalto de Gize terem sido erigidas.

Serras de pedra

Os antigos egípcios também usavam serras de pedra. Um exemplo disso está em Gize, onde blocos de basalto foram cortados para serem usados como pedras de pavimentação. Evidências desse uso podem ser observadas no lado leste da Grande Pirâmide. Pedras de pavimentação foram colocadas sobre blo­cos de calcário, que eram ajustados previamente à rocha-mãe subjacente. Aparentemente, os blocos foram nivelados depois de terem sido colocados no solo. Eram irregulares em espessura e, algumas vezes, arredondados na face inferior. Olhando de perto um corte abandonado, onde o trabalhador come­çou a cortar no lugar errado, vê-se que o corte é bem definido e paralelo à su­perfície (veja figura 4.2 na p. 90 – abaixo). A qualidade dessa incisão requer que a lâmina seja segurada firmemente enquanto o corte é efetuado. Existem vários outros pontos onde “cortes extras” como esse são visíveis. Cerca de 9 metros a norte desses blocos, há vários outros com cortes quase idênticos.

FIGURA 4.2. EM CIMA: BLOCOS DE PEDRA DE GIZE; EMBAIXO: DETALHE DAS MARCAS DE SERRA.

Em outra área próxima, há longos cortes de serra em rocha muito dura. Na maioria dos casos, os cortes são consistentes, lisos e paralelos. Não há si­nal de “vacilação da lâmina”, que acontece quando uma serra longa e ma­nual começa a cortar um material duro. Uma possibilidade é que a lâmina era mantida no lugar firmemente pela rocha sobre ela. O sarcófago na câma­ra do rei da Grande Pirâmide foi cortado com uma serra bem grande, medin­do, talvez, 2,4 ou 2,7 m. Marcas deixadas pelo seu uso foram descobertas e descritas por Petrie. Ele também descreveu um erro de corte perceptível. A serra trabalhou fora da marca vários centímetros antes que os operários no­tassem e removessem a serra. Uma marca esverdeada nos lados do corte, bem como grãos de areia deixados no sulco, indicam que as serras eram fei­tas de bronze.4

FIGURA 4.3. ARTEFATO N. 6 DE PETRIE.

Petrie estudou numerosos exemplos de alvenaria em pedra. Entre os itens mais incomuns estava o artefato n. 6, um pedaço de diorito ostentando sulcos de arcos circulares, regulares e equidistantes, e paralelos um ao outro. Embora os sulcos estivessem quase que completamente apagados por poli­mento abrasivo, ainda eram levemente perceptíveis. De acordo com Petrie, a única explicação viável para isso é que eles tenham sido produzidos por uma serra circular.

O corte de materiais duros pelo uso de substância macia, como cobre, madeira e chifre, com um pó duro aplicado a ela, tem sido um método comum ao longo da história. Bastões preparados dessa maneira eram usados para des­bastar a rocha, quando esfregados sobre sua superfície. Na falta de uma expli­cação melhor, muitos presumem que os egípcios empregassem esse método. Mas, embora ele fosse suficiente para o alabastro e outras rochas macias, Pe­trie argumenta que os primeiros egípcios não usaram essa técnica com rochas mais duras. Sugere que o corte e a modelação da rocha dura como o granito, o diorito, o basalto etc., eram feitos com ferramentas de bron­ze, dotadas de pontas cortantes, bem mais duras do que o quartzo com o qual se trabalhava. O material dessas pontas ainda é indeterminado; mas apenas cinco substâncias são possíveis: berilo, topázio, crisoberilo, corindo ou safira, e o dia­mante. O caráter do trabalho certamente parece apontar para o diamante como a jóia de corte; e somente as considerações de sua raridade em geral e sua ausên­cia no Egito interferem com essa conclusão, o que faz com que o material mais provável seja o duro corindo não cristalizado.5

Em suas observações a respeito dos métodos mecânicos dos egípcios, Petrie concluiu que eles eram familiarizados com jóia de corte muito mais dura que o quartzo, e usavam essa jóia como um buril afiado. Das tigelas de diorito com inscrições da quarta dinastia, das quais ele encontrou fragmentos em Gize, às marcas no granito polido da era ptolomaica, em San, Petrie não tinha dúvida de que os confeccionadores desses objetos usaram serras e bro­cas complexas. Os hieróglifos eram gravados com uma ferramenta de corte preciso. Não raspados ou triturados, mas entalhados com contornos bem de­finidos. O fato de que algumas linhas tinham apenas 0,016 centímetro de lar­gura é evidência de que a ponta da ferramenta devia ser muito mais dura do que o quartzo e rija o bastante para não lascar as bordas de um sulco de ape­nas 0,0125 centímetro de largura. Petrie e sua equipe não hesitaram em acei­tar que as linhas que eram entalhadas na rocha dura foram conseguidas com ferramentas de ponta de pedras preciosas.

Além disso, os cortes de serra nas superfícies de diorito, com espessuras que chegam a 0,025 centímetro, são mais prováveis de terem sido produzidos por pontas de pedras preciosas afixadas em uma serra do que por fricção de um pó solto. Os profundos sulcos são quase sempre regulares, uniformes em profundidade e equidistantes. Embora nenhuma lâmina com ponta de pedras preciosas tenha sido encontrada até hoje, os cortes de serra nessas superfícies constituem evidência quase irrefutável de que os egípcios usavam serras com pontas de pedras preciosas.

Os olhos dos faraós

As técnicas sofisticadas não se limitavam aos artefatos de pedra. Outros traba­lhos de precisão e brilhantismo artístico também eram realizados nos prepa­rativos para funerais. Todos conhecem o modo extravagante com que os egípcios sepultavam os mortos, com provisões para a vida após a morte. Entre os bens dos túmulos se incluíam também estátuas, esculpidas para represen­tar com realismo as pessoas que honravam. Algumas dessas estátuas possuíam olhos realmente notáveis, confeccionados de tal modo que parecem seguir o observador que passa diante delas. Exemplos dessas estátuas, da quarta e da quinta dinastias (2575-2323 aec), estão expostos no Louvre, em Paris, e no Museu Egípcio, no Cairo.

Uma outra estátua ostentando esses olhos de estilo incomparável, a está­tua Ka [Estátua que abrigava a alma do morto, segundo os antigos egípcios. (N. da T.)] do faraó Auib-rê Hor, apareceu na décima terceira dinastia do Médio Império, entre 1750 a 1700 AEC. Outras estátuas foram descobertas em mastabas em Saqqara. Do mesmo modo que a produção dos inigualáveis artefatos em pedra, a manufatura desses olhos mágicos desapareceu da civilização egíp­cia depois da décima terceira dinastia.6

FIGURA 4.4. O “ESCRIBA SENTADO” – DE UMA TUMBA DA QUINTA DINASTIA EM SAQQARA.

FIGURA 4.5. A ESTATUA DO PRÍNCIPE RAHOTEP, DA QUARTA DINASTIA, É UM EXEMPLO CARACTERÍSTICO DOS OLHOS.

Durante o final dos anos de 1990, Jay Enoch, da Escola de Optometria da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e Vasudevan Lakshminarayanan, da Escola de Optometria da Universidade do Missouri, em St. Louis, recria­ram os atributos óticos desses “olhos de faraó”, para compreender melhor suas propriedades únicas. Para comparação, e para estimar o suces.so do seu trabalho, eles fotografaram o “escriba sentado”, uma estátua descoberta em Saqqara e datada de 2475 aec, em exposição no Louvre.

Enoch e Lakshminarayanan observaram que a área frontal dos olhos era composta de um tipo muito duro de cristal de quartzo adaptada a uma cór­nea plana de excelente qualidade ótica. A íris era pintada para parecer com a íris humana viva. No centro, na parte de trás da lente da córnea, uma peque­na e côncava curvatura era perfurada com broca ou raspada para correspon­der à abertura da pupila do olho humano. Isso formava uma lente côncava de alto poder de refração negativa. As superfícies frontais da córnea possuíam poder de refração positiva, mas muito mais fraca do que o elemento do fun­do. Uma resina era usada para unir a lente à parte branca do olho. O fundo da lente da córnea tinha duas zonas óticas. Uma era periférica e plana; a ou­tra, uma pronunciada curvatura negativa. As duas eram centradas uma na outra. Ambas eram centradas na área frontal da superfície da córnea, que ti­nha uma curvatura convexa, ou positiva, possivelmente para formar um ele­mento multifocal.

Usando uma pilha de arruelas colocadas sobre papel branco, Enoch e Lakshminarayanan criaram um modelo de simulação da parte frontal dos olhos. Sobre as arruelas, uma lente esférica de 20 dioptrias foi posicionada a 1,875 centímetro acima do orifício. À igual distância, foi suspensa acima disso uma lente esférica maior (26 dioptrias). As distâncias a partir do plano das ar­ruelas para cada lente eram menores do que a distância focal de ambas as len­tes. Então, se um observador girasse de 40 a 60 graus em qualquer direção em relação às lentes, os orifícios (pupilas) pareceriam deslocar-se junto com o observador. Nesse sentido, Enoch e Lakshminarayanan criaram um modelo que simulava a magia dos olhos dos faraós.7

Em seu modelo, eles observaram que o encurtamento no meridiano de rotação em torno do orifício das arruelas (a pupila do olho) era maior quando visto através de lentes côncavas mais potentes. Em outras palavras, se o obser­vador se desloca para o lado, a abertura se torna mais elíptica na aparência, com a largura do orifício decrescendo na direção da rotação crescente. Eles também descobriram que esse efeito não era percebido perpendicularmente à direção da rotação pelo observador – o bem conhecido efeito cosseno. Segun­do Enoch e Lakshminarayanan, o mesmo efeito de encurtamento é pronta­mente observado e fotografado nas estátuas egípcias.

De acordo com seus resultados, tanto a superfície frontal quanto a pos­terior das lentes egípcias contribuem para o movimento da pupila percebido enquanto o observador gira em torno da estátua. Além disso, o movimento será na mesma direção. Nesse sentido, a pupila parece acompanhar o movi­mento do observador e se torna progressivamente encurtada na direção do movimento do observador. Do mesmo modo que as estátuas egípcias, o movi­mento percebido causado pelo elemento posterior é mais significativo e dife­rente das qualidades prismáticas normais das lentes. O efeito combinado das duas lentes é maior do que o de cada uma das lentes sozinha.

Enoch e Lakshminarayanan concluíram que esse efeito ótico de “acom­panhar” presente nos olhos das estátuas foi duplicado no laboratório e re­gistrado, embora não muito bem exibido em suas fotografias (esse efeito, facilmente notado pelo observador, foi difícil de fotografar). Surpreendente­mente, as antigas lentes egípcias eram de qualidade superior às das cópias. Em sua análise final, Enoch e Lakshminarayanan concluíram que, por causa da qualidade do desempenho e da complexidade do projeto, é altamente du­vidoso que as lentes usadas para recriar a estrutura do olho nas antigas está­tuas egípcias fossem as primeiras lentes criadas, a despeito do fato de terem 46 séculos de idade.8

Os caixões de granito de Serapeum

A nordeste da pirâmide escalonada de Djoser, em Saqqara, há uma galeria de túmulos construídos em um túnel escavado na rocha, dedicada ao touro Ápis. O geógrafo grego Estrabão (63 AEC – 22 EC) escreveu, depois de visitar o Egito, que os touros Ápis eram enterrados numa câmara subterrânea, chamada Serapeum, no final de uma alameda pavimentada ladeada por 140 esfinges de pedra. O local está constantemente sendo enterrado pela areia levada pelo vento e era de difícil acesso mesmo na época de Estrabão. Durante séculos, esses túmulos estiveram perdidos; então, em 1850, um francês de 29 anos, Auguste Mariette, encontrou a cabeça e as patas de uma esfinge de pedra projetando-se da areia.

FIGURA 4.6. CAIXÃO DE GRANITO DO SERAPEUM.

No interior do Serapeum, câmaras com tetos de quase 7,5 metros de al­tura e pisos 1,5 metro mais baixos do que o piso principal foram escavados em ambos os lados do corredor principal. Essas salas abertas eram o local em que os maciços sarcófagos para os touros Ápis antigamente ficavam. Cada sar­cófago era esculpido de um único bloco de granito, e cada tampa pesava mui­tas toneladas. Vários desses sarcófagos ainda existem dentro do Serapeum.

Em 1995, Dunn, munido com uma régua de marceneiro de altíssima precisão, inspecionou as faces interna e externa de dois sarcófagos. A tampa de 27 toneladas de um dos sarcófagos, e a superfície interna do caixão de gra­nito em que ela se apoiava, tinham uma precisão de 0,000125 centímetro. Ele também verificou que os cantos tinham a precisão de 0,39 cm.12 Segundo Dunn, reproduzir a precisão dos caixões de granito de Serapeum seria extre­mamente difícil mesmo hoje em dia. As superfícies lisas, perfeitamente planas e os cantos que se ajustavam sem folga deixaram-no pasmo. O caixão de gra­nito encontrado na Grande Pirâmide tem as mesmas características que os de Serapeum. Entretanto, esses caixões pertencem à décima oitava dinastia, mais de mil anos depois do que se supõe ser o declínio da alvenaria em pedra no Egito. Uma vez que sua datação é baseada nos utensílios encontrados por perto e não nos próprios caixões, Dunn acredita que seja razoável especular que os caixões não foram corretamente datados. A forma como a pedra foi trabalhada neles deixou marcas de um método de fabricação cuidadoso e no­tável. Isso é inequívoco e irrefutável. Ele acredita que os artefatos que mediu no Egito “são a ‘prova do crime’, a evidência irrefutável de que existiu uma civilização no Egito Antigo mais desenvolvida do que a que nos é ensinada. Essa evidência encontra-se talhada na pedra”.13

O depoimento de um engenheiro mecânico perito

Aqueles de nós que não são engenheiros ou mecânicos só podem imaginar a dificuldade e a habilidade em planejar e construir os itens de alta precisão descritos. Christopher Dunn, um supervisor sênior na Danville Metal Stamping, em Illinois, tem estado às voltas com técnicas de construção e de produ­ção por quase trinta anos e está bem qualificado para comentar sobre as dificuldades da precisão. A maior parte de sua carreira foi passada no trabalho com maquinaria que fabrica componentes de precisão para motores a jato, e incluía métodos não convencionais como processamento a laser e usinagem por descargas elétricas. Embora não seja egiptólogo, arqueólogo ou historia­dor, é fascinado pelas evidências deixadas para trás pelos egípcios. Ele visitou o Egito diversas vezes, estudou muitos dos artefatos desconcertantes, e che­gou à conclusão de que existia um sistema de manufatura avançado no Egito Antigo. Segundo Dunn, há evidência de outros métodos de fabricação não convencionais, além de práticas mais sofisticadas no uso convencional da ser­ra, do torno e da fresadora. Dunn diz: “Sem dúvida, alguns artefatos que Petrie estudou foram produzidos em tornos”.9 Também há evidências de marcas claramente definidas deixadas pelo torno em algumas tampas de sarcófago (caixão de pedra).

Dunn acredita que a Grande Pirâmide encabece uma longa lista de arte­fatos que foram mal compreendidos e mal-interpretados ao longo dos anos pelos arqueólogos. Eles desenvolveram teorias e métodos baseados numa coleção de ferramentas a partir das quais se esforçam para reproduzir até mesmo os mais simples aspectos do trabalho egípcio. Segundo Dunn, o Museu do Cairo contém evidências suficientes, se adequadamente analisadas, para pro­var que os antigos egípcios usavam métodos altamente sofisticados de fabri­cação, a despeito do fato de que essas ferramentas ainda não foram encontradas. A coleção do museu relativa ao Antigo Império (2650-2152 aec) é repleta de vasos, tigelas, caixões com tampa e estátuas – cinzelados em xisto, diorito, granito e obsidiana – que desafiam respostas simples de como esses antigos escultores trabalhavam a dura rocha vulcânica com tamanha precisão. Por vá­rias gerações, o foco concentrou-se na natureza das ferramentas de corte em­pregadas. Entretanto, enquanto ele estava no Egito, em fevereiro de 1995, Dunn descobriu evidências que levantam a seguinte questão: “o que guiava a ferramenta de corte?”10

O torno é o pai de todas as máquinas operatrizes que existem. Como foi discutido anteriormente, Petrie descobriu evidências que demonstravam não só que os tornos eram usados, mas também que eles desempenhavam tarefas consideradas impossíveis sem o emprego de técnicas altamente espe­cializadas, como cortar raios esféricos côncavos e convexos sem lascar o material.

De acordo com a teoria tradicional, os antigos egípcios usavam ferra­mentas de cobre forjado nas pedreiras e no cinzelamento. Tendo trabalhado com cobre em muitas ocasiões, inclusive com cobre forjado, Dunn acha essa ideia ridícula. É certo que o cobre pode se tornar mais resistente ao ser gol­peado repetidamente ou até ao ser curvado. Entretanto, depois de uma dureza específica ser alcançada, o cobre começa a rachar e a se partir. É por isso que quando se está trabalhando com cobre, ele deve ser periodicamente recozido ou amaciado, para mante-lo coeso. Entretanto, a despeito da dureza da força do cobre forjado, ele não é capaz de cortar granito. A liga de cobre mais resis­tente que existe é a cobre-berílio. Não há evidências que sugiram que os anti­gos egípcios a possuíssem. Se o fizeram, ainda assim ela não seria dura o suficiente para cortar granito. De acordo com os historiadores tradicionais, o cobre era o único metal disponível na época da construção da Grande Pirâmi­de. Consequentemente, segue-se que todo trabalho derivou da habilidade no uso desse metal básico. Dunn acredita que há algo mais por trás dessa histó­ria, e que pode ser errado supor que o cobre era o único metal à disposição dos antigos egípcios.

Um fato pouco conhecido a respeito dos construtores das pirâmides é que eles também trabalhavam com ferro. De acordo com Giza: The Truth, de Ian Lawton e Chris Ogilvie-Herald, em 1837, durante as escava­ções de Howard Vyse, uma chapa de ferro, de 30 por 10 centímetros e cerca de 0,30 centímetro de espessura, foi descoberta presa no cimento num dos poços que conduzem à câmara do rei. A chapa de ferro estava enfiada tão fun­do na alvenaria que precisou ser removida pela detonação de duas camadas mais superficiais de pedra. Depois da remoção, ela foi despachada para o Mu­seu Britânico junto com certificados de autenticidade.

Ferramentas primitivas descobertas em escavações arqueológicas são consideradas contemporâneas dos artefatos encontrados. Contudo, durante esse período da história do Egito, esses artefatos foram produzidos em abun­dante quantidade, sendo que nenhuma ferramenta que pudesse explicar sua criação sobreviveu. Segundo Dunn, as ferramentas encontradas não podem ser explicadas em simples termos e não representam inteiramente o “estado de arte” evidente nos objetos. As ferramentas exibidas pelos egiptólogos como instrumentos para a criação de muitos desses incríveis artefatos são fisica­mente incapazes de reproduzi-los. Depois de ter visto essas maravilhas da engenharia, e, então, ser-lhe mostrada uma coleção trivial de ferramentas de cobre no Museu do Cairo, Dunn ficou estupefato e frustrado.11

Fonte: O Egito antes do Faraós, Edward F. Malkowski, Editora Cultrix, São Paulo-SP, 2010, pp. 85-98.

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A Grande Pirâmide

Posted by luxcuritiba em março 22, 2012

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Com três câmaras, oito passagens e uma galeria principal, a Grande Pirâmide de Quéops é a mais complexa internamente dentre todas as pirâmides do Egito. A entrada original dá para uma passagem estreita (1,18 m de altura por 1,06 m de largura), que desce 105 metros no leito rochoso e termina em um aposento subterrâneo. Embora grande (14 m x 8,2 m x 3,3 m), esse aposento é rústico e desprovido de inscrições. Já que seu propósito é desconhecido, alguns teorizam que foi projetado para abrigar o sarcófago do rei, mas os construtores mudaram de ideia, abandonaram-no, e construíram o que é referido como a câmara da rainha. Outros teorizam que o plano foi mudado novamente para incluir outra câmara num lugar mais alto na pirâmide que seria, afinal, a câmara do rei.

Segundo o historiador grego Heródoto, o corpo de Quéops foi colocado em uma sala bem no fundo da pirâmide, de maneira que a água de um canal alimentado pelo Nilo transformaria a sala em uma ilha subterrânea. Ninguém sabe se a câmara subterrânea é a sala à qual Heródoto se refere, mas se for, precisaria estar 30 metros mais fundo para ficar no nível do Nilo.9 Heródoto, que viveu 2 mil anos depois de a Grande Pirâmide ser construída, provavelmente estava relatando uma lenda. Nenhuma evidência sugere que essa história seja verdadeira.

Uma passagem ascendente junta-se com a passagem descendente próximo ao nível do solo. É muito estreita (1,18 m de altura por 1,06 m de largura) e sobe num ângulo de 26,5 graus, por 39,30 m. Então, nivela-se num corredor muito pequeno que conduz à câmara da rainha.10 Uma vez que o piso original era escorregadio, corrimãos e rampas de madeira com antiderrapantes de metal foram instalados durante a década de 1940 para tornar a passagem menos difícil. Imediatamente antes da câmara da rainha, o piso da passagem baixa cerca de 30 centímetros.

Fig 6.2. Seção transversal da Grande Pirâmide.

A câmara da rainha é vazia, com paredes de calcário selado com gesso. Seu piso foi deixado sem polimento. O que há de estranho nesse aposento é que há dois dutos de 20 cm2, que a princípio acreditava-se serem dutos de ventilação, que se estendem até o alto da pirâmide. Em 1993, Rudolf Gantenbrink e sua equipe de engenharia descobriram que esses dutos eram vedados nas extremidades por um bloco de calcário. Com essa descoberta, ficou claro que eles faziam parte do projeto original e foram acrescentados ao núcleo da alvenaria, nível após nível, à medida que a pirâmide ia sendo levantada. O duto sul se estende por mais de 18 metros acima do piso da câmara do rei e corre por 25 metros.

Na junção da passagem ascendente com a horizontal está a Grande Galeria – 47,85 metros de comprimento, 8,83 metros de altura e 8,89 metros de largura na parte inferior, com o teto chanfrado. O curioso é que há sete camadas de pedra que levam ao teto chanfrado, justamente como na pirâmide de Seneferu em Meidum.11 A galeria, estranhamente grande, se comparada às outras passagens, sobe até dar em um corredor que leva à câmara do rei.

Da Grande Galeria, uma pequena passagem revestida de granito dá acesso à câmara do rei. Somente engatinhando se consegue atravessar esse túnel. Essa câmara é, de longe, a mais intrigante, construída inteiramente de lajes lisas de granito. Suas paredes são formadas por cinco fileiras de pedra que somam uma centena de blocos de granito. Cada laje pesa 30 toneladas. Não se usou argamassa para uni-los, uma vez que cada peça foi cortada de modo a se ajustar perfeitamente às peças adjacentes. Nove lajes de granito, algumas pesando mais de 50 toneladas, formam o teto.12

Acima do teto, uma série de blocos de granito cortados grosseiramente foram empilhados um sobre o outro. Espaçadores entre as lajes criam cinco compartimentos, referidos como Câmara de Davison, após sua descoberta por Nathaniel Davison.13 Alguns acreditam que essa sala foi planejada dessa forma de maneira a reduzir a pressão exercida pelo peso colossal das pedras acima. Entretanto, a câmara da rainha abaixo, que está sujeita a uma pressão ainda maior, não tem um teto como esse. Embora a pirâmide seja desprovida de inscrições, numa das lajes superiores existe o nome Quéops, que, acredita-se, seja uma marca de pedreira feita por um antigo trabalhador.

Na extremidade oeste da câmara do rei há uma grande caixa vazia, aberta e polida, esculpida em granito. Como a passagem para o aposento é muito estreita para a caixa, ela deve ter sido colocada lá quando a pirâmide estava sendo construída. Se algum dia existiu uma tampa para ela, foi removida do aposento sem deixar vestígios. Jamais foram encontradas partes da tampa, nem mesmo cacos ou fragmentos, em nenhuma das passagens ou câmaras.

Nas paredes norte e sul, dutos de ventilação levam ao exterior da pirâmide. São idênticos, em ângulo e tamanho, àqueles da câmara da rainha. A Grande Pirâmide é única nesse aspecto. Nenhuma outra apresenta tais canais. […]

A ciência da Engenharia Reversa

Teorias sobre o verdadeiro propósito das pirâmides abundam. Com sua planta interna incomum, a Grande Pirâmide, junto com as outras do planalto de Gize, tem sido foco de inúmeras especulações. Existem teses de que as pirâmides teriam sido túmulos, monumentos para comemorar o início da civilização egípcia, templos harmônicos e objetos para atrair energia espiritual. Por mais interessantes que possam ser tais teorias, nenhuma delas explica por completo as evidências visíveis no interior da Grande Pirâmide.

É lógico supor que se muito tempo, esforço e material foram empregados em um projeto tão grandioso como a construção das pirâmides, provavelmente algum benefício era esperado em retorno, pelo menos para o faraó e, possivelmente, para a civilização inteira. Em tempos de guerra, é típico do departamento técnico da inteligência militar desmontar, analisar e remontar equipamentos capturados, a fim de entender como tal item foi feito e como funciona, e para determinar as capacidades técnicas do inimigo. Isso é chamado de “engenharia reversa”, e seu papel é determinar como as coisas funcionam. Embora não seja possível desmontar a Grande Pirâmide, ao longo do tempo, inúmeros pesquisadores contribuíram para a massa de informação acumulada sobre a construção da pirâmide e para o nosso entendimento do que ela poderia significar. A pesquisa da engenharia reversa sobre a Grande Pirâmide compreende o conhecimento de engenharia mecânica.

A Grande Pirâmide é um quebra-cabeça gigante, embora “labirinto” seja um termo mais apropriado. Felizmente, quase todas as peças ainda estão lá. Tudo o que é preciso é que alguém inclinado para o estudo da mecânica das coisas, com alma de “cão farejador”, hábil no ofício de fabricação, conhecedor de máquinas e de projetos, examine a fundo as passagens da pirâmide, suas câmaras, técnicas usadas na construção, materiais e qualquer evidência residual, a fim de determinar qual era o seu propósito. Apenas se conseguir explicar a mistura bizarra de passagens e câmaras como um todo, de um modo abrangente, é que se pode considerar uma análise bem-sucedida. Christopher Dunn, o engenheiro mecânico perito que foi comentado no capítulo 4, é o tal cão farejador. Ao longo de vinte anos, Dunn visitou o Egito várias vezes e aplicou seu conhecimento de máquinas de precisão e técnicas de fabricação a uma análise mecânica da Grande Pirâmide. Mas suas conclusões não são para mentes estreitas.

A reação típica de um fuçador ocasional de livrarias ao título de Dunn, The Giza Power Plant é: “Isso é coisa de biruta” – efeito que é consequência clara de uma instrução tradicional. Entretanto, sua análise e a teoria a que chegou são, de longe, as mais abrangentes que já foram levadas a termo sobre o interior da Grande Pirâmide. Inspirado pela obra de Peter Tompkin, Secrets ofthe Great Pyramid, durante os anos de 1970, Dunn passou os vinte anos seguintes visitando o Egito sempre que podia e aplicando sua perícia mecânica para responder à pergunta: para que a pirâmide era usada? Para Dunn, a disposição das câmaras e passagens apontava para algo mecânico, e o exame das evidências confirmou suas suspeitas. Segundo Dunn, a soma das evidências sugere que a pirâmide era uma estrutura que tinha o propósito de absorver as vibrações tectônicas (uma forma de energia) da Terra e transformá-la em energia elétrica.

Fonte: O Egito antes do Faraós, Edward F. Malkowski, Editora Cultrix, São Paulo-SP, 2010, pp.138-142.

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A usina de força de Gize. Parte 1

Posted by luxcuritiba em fevereiro 19, 2012

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A ideia de que as pirâmides eram aparelhos para o aproveitamento da energia do Cinturão de Van Allen (com o corpo da pirâmide servindo de anteparo, como o isolante que envolve fios elétricos) é a sugestão mais incrível de todas. Essa teoria está sendo defendida pelo engenheiro inglês Christopher Dunn. Em 1998, Dunn escreveu The Giza power plant: technologies of ancient Egypt,8 no qual apresenta suas teorias e oferece provas de que o antigo Egito abrigou maquinários e conhecimentos de engenharia avançados.

Dunn afirma que a Terra pode ser uma gigantesca usina de força, e que pirâmides, obeliscos e megálitos podem fazer parte desse grande “sis­tema de energia”. Ele diz que a Grande Pirâmide foi uma imensa usina de força e que ressonadores harmónicos foram alojados em ranhuras sobre a Câmara do Rei. Ele também sugeriu a ocorrência de uma explosão de hi­drogénio dentro da Câmara do Rei, que teria encerrado as operações da usina de força.

Em agosto de 1984, a revista Analog publicou um artigo de Dunn intitulado “Maquinário avançado no antigo Egito?”. Foi um estudo do li­vro Pyramids and temples of Gizeh, escrito por sir William Flinders Petrie. Dunn está convencido de que os egípcios usaram máquinas avançadas, em certos casos:

Desde a publicação do artigo, visitei o Egito duas vezes, e após cada visita voltei respeitando mais e mais os antigos construtores de pirâmides. Em minha visita de 1986, fui ao Museu do Cairo e dei uma cópia de meu artigo, juntamente com meu cartão de visitas, ao diretor do museu. Ele me agrade­ceu gentilmente, jogou o artigo em uma gaveta juntando-o a outros mate riais variados e saiu da sala. Outro egiptólogo levou-me à “sala de ferramentas” para instruir-me sobre os métodos dos antigos pedreiros e mostrar-me algumas caixas com primitivas ferramentas de cobre. Pergun­tei ao meu anfitrião o que ele sabia sobre o corte de granito, pois era esse o foco de meu artigo. Ele explicou que os antigos egípcios faziam uma ranhura no granito, inseriam nela cunhas de madeira e depois ensopavam a madeira com água. A madeira inchava e criava pressão sobre a fenda, partindo a pe­dra. Partir uma pedra é bem diferente de usiná-la, e ele não soube explicar como implementos de cobre podiam cortar granito, mas estava tão empol­gado com sua própria explicação que não o interrompi. Para provar seu ar­gumento, ele foi comigo até uma agência de turismo próxima do museu e me incentivou a comprar uma passagem aérea até Assuã, onde, segundo disse, a evidência era clara. Eu devia ver as marcas da extração lá, insistiu, bem como o obelisco inacabado.

Obediente, comprei as passagens e cheguei em Assuã no dia seguinte. Após aprender alguns costumes egípcios, fiquei com a impressão de que essa não era a primeira vez que meu amigo egiptólogo se dirigia à agência de turismo para sugerir viagens a Assuã. Observando as marcas da extração, os métodos descritos, que seriam o único meio pelo qual os construtores de pirâmides extrairiam blocos das rochas de Assuã, não me satisfizeram. Encontra-se lá um grande furo circular, feito na lateral do leito rochoso, que tem uns 37 cen­ tímetros de diâmetro e um metro de profundidade, localizado no canal que percorre a extensão do obelisco – cujo peso estimado é de 3 mil toneladas. O furo foi feito em ângulo, com a parte superior invadindo o espaço do canal. Os antigos podem ter usado brocas para remover material do perímetro do obelisco, extraído esse material entre os furos e depois removido as pontas.9

Exemplos de usinagem apresentados por Dunn

Exemplos de usinagem apresentados por Dunn

Dunn diz que a arqueologia é basicamente o estudo dos fabricantes de ferramentas através da história, e os arqueólogos identificam o grau de desenvolvimento de uma sociedade a partir de suas ferramentas e arte­fatos. O martelo deve ter sido a primeira ferramenta inventada, e com martelos foram feitos elegantes e belos artefatos. Desde o momento em que o homem descobriu que podia efetuar profundas mudanças em seu ambiente aplicando força com razoável grau de precisão, o desenvolvi­mento de ferramentas tem sido um contínuo e fascinante aspecto da atividade humana. Dunn diz que a Grande Pirâmide lidera uma longa relação de artefatos que foram mal compreendidos e mal interpretados pêlos ar­queólogos, que desenvolveram teorias e métodos baseados em uma coleção de ferramentas com as quais eles se esforçam em replicar os aspectos mais simples das obras antigas. Diz Dunn:

Em sua maioria, as ferramentas primitivas descobertas são consideradas contemporâneas dos artefatos. Contudo, nesse período da história egípcia, foram produzidos artefatos em quantidade, mas sem ferramentas que ex­plicassem sua criação. Os antigos egípcios criavam artefatos que não po­dem ser explicados em termos simples. Essas ferramentas não representam plenamente o “estado da arte” que os artefatos evidenciam. Há alguns objetos intrigantes que sobreviveram a essa civilização, e apesar de seus monu­mentos mais visíveis e impressionantes, temos apenas uma pálida compreensão da abrangência de sua tecnologia. As ferramentas que os egiptólogos exibem como instrumentos de criação de muitos desses incrí­veis artefatos são fisicamente incapazes de reproduzi-los. Após nos extasiarmos diante dessas maravilhas da engenharia, vemos a pobre coleção de instrumentos de cobre na caixa de ferramentas do Museu do Cairo e ficamos intrigados e frustrados.

Dunn afirma que o egiptólogo inglês, sir William Flinders Petrie, também reconheceu que essas ferramentas eram insuficientes. Ele ex­plorou a fundo essa anomalia em Pyramids and temples of Gizeh, e fi­cou espantado com os métodos usados pêlos egípcios para cortar rochas ígneas. Ele atribuiu aos egípcios métodos que “[…] só agora estamos co­meçando a compreender”.

Diz Dunn:

Não sou egiptólogo, sou um tecnólogo. Não tenho muito interesse em quem morreu, quando, se levou alguém consigo e para onde foram. Não quero des­respeitar o imenso trabalho ou milhões de horas de estudo dedicadas a esse tema por estudiosos inteligentes (profissionais e amadores), mas meu interesse, e portanto meu foco, está dirigido para outro lugar. Quando analiso um artefato para investigar como ele foi produzido, não me preocupo com sua história ou cronologia. Tendo dedicado boa parte de minha carreira a lidar com máquinas que efetivamente criam artefatos modernos, como com­ponentes de turbinas a jato, sou capaz de analisar e determinar a maneira pela qual foi fabricado um artefato. Também tenho experiência em métodos de manufatura não-convencionais, como processamento a laser e máqui­nas de descarga elétrica. Dito isso, devo dizer que, ao contrário do que se costuma especular, não vi evidências do uso do laser no corte das pedras egípcias. Contudo, há evidências de que foram usados outros métodos de acabamento não-convencionais, além de técnicas mais sofisticadas e con­vencionais como serrar, tornear e usinar. Sem dúvida, alguns dos artefatos que Petrie estava estudando foram produzidos com o uso de tornos. Há ain­da evidências nítidas de sinais de torneamento em algumas tampas de “sar­cófagos”. O Museu do Cairo contém evidências suficientes para provar que os antigos egípcios usavam métodos de fabricação altamente sofisticados, caso sejam analisados adequadamente.

Há vários artefatos que, de maneira quase inegável, indicam o uso de má­quinas pêlos construtores das pirâmides. Esses artefatos, analisados por William Flinders Petrie, são fragmentos de rocha ígnea extremamente dura. Esses pedaços de granito e de diorito exibem sinais idênticos aos deixados quando se cortam rochas ígneas duras com máquinas modernas. É chocan­te perceber que o estudo feito por Petrie sobre esses fragmentos não tenha atraído a atenção, pois há evidências inequívocas de métodos mecânicos de usinagem. Provavelmente, deve surpreender muita gente saber que há um século são aceitas evidências provando que os antigos egípcios usavam fer­ramentas como serrotes, serras circulares e até tornos. O torno é o pai de todas as máquinas-ferramenta, e Petrie apresenta evidências de que os an­tigos egípcios não apenas usavam tornos, mas também realizavam proezas que, pêlos padrões atuais, seriam consideradas impossíveis sem ferramen­tas altamente especializadas, como o corte de raios esféricos côncavos e convexos sem causar rachaduras no material.

Exemplos de usinagem apresentados por Petrie.

Enquanto escavam as ruínas de antigas civilizações, será que os arqueólogos identificam imediatamente o trabalho de máquinas a partir das marcas dei­xadas no material ou da configuração da peça que estão contemplando? Feliz­mente, um arqueólogo teve percepção e conhecimento para identificar essas marcas, e, embora na época em que as descobertas de Petrie foram publicdas a indústria de máquinas estivesse na sua infância, a expansão dessa in­dústria desde então recomenda uma nova análise de suas descobertas.

E prossegue:

Tendo trabalhado com o cobre em diversas ocasiões, e tendo endurecido o metal da maneira sugerida anteriormente, essa frase me pareceu simples­mente ridícula. É claro que você pode endurecer o cobre malhando-o repeti­das vezes ou mesmo entortando-o. Contudo, depois que se atingiu determinada rigidez, o cobre começa a rachar e a quebrar. É por isso que, ao se trabalhar longamente com o cobre, é preciso temperá-lo novamente, ou amolecê-lo, caso se queira manter a peça íntegra. Mesmo endurecido, o co­bre não é capaz de cortar granito. A mais dura liga de cobre que existe é feita de cobre e berílio. Não há evidências a sugerir que os antigos egípcios possuíam essa liga, mas, mesmo que possuíssem, a liga ainda não seria dura o suficiente para cortar granito. O cobre tem sido descrito como o único metal disponível na época da construção da Grande Pirâmide. Por isso, de-duz-se que todo trabalho com ferramentas deve ter sido baseado nesse ele­mento básico. Entretanto, podemos estar completamente enganados até em acreditar que o cobre era o único metal conhecido dos antigos egípcios, pois outro fato pouco conhecido sobre os construtores das pirâmides é que eles também produziam ferro.

Sem voltar no tempo e entrevistando os operários que trabalharam nas pi­râmides, talvez nunca venhamos a ter certeza sobre os materiais usados em suas ferramentas. Qualquer discussão sobre o tema seria vã, pois en­quanto não se tem uma prova à mão não se pode tirar qualquer conclusão satisfatória. No entanto, a maneira pela qual os pedreiros usavam suas fer­ramentas pode ser discutida, e, se compararmos os métodos empregados atualmente para cortar granito com o produto acabado (como cofres de gra­nito, por exemplo), teremos alguma base para traçar um paralelo. Os atuais métodos para cortar o granito incluem o uso de serra de fio e de um abrasivo, geralmente carbonato de silício, que tem uma dureza compa­rável à do diamante e que, portanto, é duro o suficiente para cortar o cristal de quartzo contido no granito. O fio é um aro contínuo, mantido em rotação por duas rodas, uma das quais é motora. Entre as rodas – cuja distância pode variar, dependendo do tamanho da máquina – corta-se o granito em­purrando-o contra o fio ou segurando-o firmemente e permitindo que o fipasse por ele. O fio não corta o granito, mas é o veículo pelo qual os grãos de
carbonato de silício realizam o corte em si.

Analisando a forma dos cortes feitos nos itens de basalto 3b e 5b, é possível imaginar que foi utilizada uma serra de fio, que deixou sua marca na pedra. O raio pleno na base do corte tem exatamente a forma que seria deixada por uma dessas serras.

O senhor John Barta, da John Barta Company, informou-me que as serras de fio usadas hoje em pedreiras cortam o granito com grande rapidez, e que as serras de fio com carbonato de silício cortam o granito como se fosse man­teiga. Por curiosidade, perguntei ao senhor Barta o que ele achava da teoria do cinzel de cobre e com seu excelente senso de humor, ele fez alguns co­mentários jocosos ao considerar o aspecto prático dessa ideia.

“Se os antigos egípcios usavam serra de fio para cortar pedras duras, elas eram acionadas à mão ou motorizadas? Com minha experiência em ofici­nas, e levando em consideração o número de vezes em que tive de usar uma serra (tanto manual como a motor), parece haver fortes evidências de que em alguns casos, pelo menos, o segundo método foi o usado […]”.10

As observações de sir William Petrie sustentam o que disse Dunn. Estas são as suas anotações sobre o sarcófago na Câmara do Rei da Grande Pirâmide:

Do lado norte (do sarcófago) há um lugar, próximo da face oeste, em que a serra penetrou fundo demais no granito, o que foi corrigido pêlos pedrei­ros; mas essa correção também foi excessivamente profunda, e 5 centímetros depois eles fizeram nova correção, pois tinham cortado 2,5 milímetros
a mais do que pretendiam […]

A seguir, seu comentário sobre o sarcófago da segunda pirâmide:

O sarcófago foi bem polido, não só por dentro como por fora, embora tenha sido praticamente incrustado no piso, com os blocos grudados nele. Aparte do fundo foi deixada rugosa, e vê-se que foi primeiro cortada e depois traba­lhada até se atingir a altura certa; contudo, ao serrar, a ferramenta foi fun­do demais antes de recuar; o fundo não ficou totalmente trabalhado e o erro mais grosseiro totalizou 5 milímetros a mais do que a parte trabalhada. Foi a única falha de execução em todo o sarcófago, que foi polido em todas as faces, por dentro e por fora, sem deixar visíveis as linhas de passagem da serra, como no sarcófago da Grande Pirâmide.

Petrie estimou que teria sido necessária a pressão de 1 a 2 toneladas sobre serras de bronze com arestas diamantadas para cortar o granito extremamente duro. Se concordarmos com essas estimativas, bem como com os métodos propostos pêlos egiptólogos com relação à construção das pirâmides, então é possível perceber uma séria desigualdade entre ambos.

Diz Dunn:

Até agora, os egiptólogos não deram crédito a nenhuma especulação que sugere que os construtores das pirâmides possam ter usado máquinas, e não força humana, nesse imenso projeto de construção. Na verdade, eles não atribuíram aos construtores de pirâmides sequer a inteligência necessá­ria para a criação e uso da roda. É notável que uma cultura com capacidade técnica suficiente para criar um torno e, a partir daí, desenvolver uma téc­nica que permitisse usinar raios em diorito duro, não tivesse inventado a roda antes disso tudo.

Petrie presume, de maneira lógica, que os sarcófagos de granito encontra­dos nas pirâmides de Gize foram marcados antes de serem cortados. Os ope­rários receberam parâmetros de trabalho. A precisão exibida nas dimensões dos sarcófagos confirma isso, além do fato de que teriam sido necessários parâmetros para alertar os pedreiros de seu erro.

Embora ninguém possa dizer ao certo como foram cortados os sarcófagos de granito, as marcas de serra sobre a pedra têm certas características que sugerem não terem sido resultado de trabalho manual. Não fosse o fato de haver evidências em contrário, eu até poderia concordar que a fabricação dos sarcófagos de granito da Grande Pirâmide e da segunda pirâmide pode­ria ter empregado somente mão-de-obra – e levado um tempo enorme.

É extremamente improvável que uma equipe de pedreiros, manejando uma serra manual de 3,2 metros, cortasse o granito a uma velocidade tal que ul­trapassasse a linha de referência antes de notar o erro. Retomar a serra e repetir o mesmo erro, tal como fizeram na Câmara do Rei, não ajuda a con­firmar que o objeto foi fruto de trabalho manual.

Quando li o que Petrie escreveu com relação a esses desvios, veio à minha mente uma série de recordações de minhas próprias experiências com serras, tanto motorizadas como manuais. A julgar por essas experiências, além daquilo que observei por aí, parece-me inconcebível que a força humana te­nha sido o elemento de movimentação das serras que cortaram os sarcófa­gos de granito. Não se obtém grande velocidade ao se cortar aço com serra manual sobre um objeto com superfície de trabalho extensa, sobretudo um com as dimensões dos sarcófagos, e a direção seguida pela serra pode ser corrigida bem antes de se cometer um erro sério; naturalmente, quanto menor a peça, mais rápido a lâmina a corta.

Por outro lado, se a serra é mecanizada e corta a peça com rapidez, desvia do curso pretendido e cruza a linha de referência com velocidade tal que o erro é cometido antes que se possa corrigir o problema. Isso não é incomum. Isso não significa que uma serra manual não possa desviar, mas que a velo­cidade da operação determina a eficiência da correção de um erro causado pelo desvio.

[…] Além de indícios externos, outros indicadores do emprego de máquinas de alta velocidade podem ser encontrados no interior do sarcófago de granito da Câmara do Rei. Os métodos evidentemente usados pêlos construtores de pirâmides para escavar o interior dos sarcófagos de granito são similares aos métodos usados hoje para usinar o interior de componentes.”

Fonte: A Incrível Tecnologia dos Antigos, David Hatcher Childress, editora Aleph, 2005, pp. 267-274.

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